Exemplos de reabertura de escolas já dão grande lição: «Não o faça se o vírus não estiver controlado»

Em meados de Março, a pandemia do novo coronavírus obrigou ao encerramento de escolas um pouco por todo o mundo, adoptando o regime da telescola, como aconteceu com Portugal.

Alguns países já começaram a reabrir, enquanto que para outros a situação ainda é incerta, como é o caso de Espanha que está a registar novos aumentos no número de infecções. No final de contas, a maior lição a tirar da questão da reabertura de escolas, é que só o devem fazer «se o vírus estiver controlado», caso contrário «não o façam».

Actualmente, 60% da população estudantil mundial tem um acesso restrito à escola, segundo cálculos da Unesco. A agência multilateral dependente das Nações Unidas fez uma lista de 13 consequências adversas do encerramento de escolas para a população, desde o impacto económico e social ao psicológico.

Dos Estados Unidos à Alemanha , governos de todas as latitudes e ideologias procuram resolver um quebra-cabeças do qual dependem em grande parte da economia actual e do desenvolvimento futuro dos seus países. Não há «normalidade» possível sem escolas, mas a decisão não é fácil e levanta questões sobre possíveis focos de infecção e sobre a forma como a doença afecta as criança.

Já vários países reabriram as escolas, com estratégias e resultados muito diferentes. Contudo, segundo o jornal espanhol, existem alguns pontos comuns: a segurança na reabertura de escolas está mais ligada ao sucesso do controlo epidemiológico da comunidade do que às acções de prevenção; os protocolos de segurança e planos alternativos são essenciais para o sucesso da reabertura; e por último, apressar a reabertura pode ter consequências terríveis.

Um dos exemplos de sucesso é a Dinamarca, que «reabriu jardins de infância e algumas escolas primárias em meados de Abril. Tal só foi possível porque as infecções, a taxa de contágio e o número de pessoas hospitalizadas caíram drasticamente», explica Dorte lange, vice-presidente da União Nacional de Professores da Dinamarca (DLF), citado pelo ‘El Confidencial’.

«A epidemia foi controlada graças a um rápido confinamento da sociedade em meados de Março. O processo de reabertura das escolas foi um trabalho consultado e conjunto. Temos uma longa tradição de cooperação entre sindicatos e autoridades, ou seja, as preocupações e ideias dos professores foram tidas em consideração quando as autoridades elaboraram os seus planos», acrescenta.

Para Lange, «a lição não é reabrir antes de o vírus estar controlado. Quando os números diminuírem, a reabertura pode começar. Nessa altura é importante ouvir as pessoas que têm que fazer o trabalho e ajudá-las a fazê-lo. Cooperação é a chave», sublinhou.

Por outro lado, um exemplo de falha é o caso de Israel, que entrou em confinamento ainda antes que houvessem infecções locais de covid-19. O aeroporto foi encerrado e as fronteiras também. Os trabalhadores foram mandados para casa, bem como dois milhões de alunos.

A medida foi um sucesso, em poucas semanas, o país passou de 750 casos por dia para pouco mais de 20. Nessa altura a primeira onda foi considerada encerrada e a economia reaberta, mas duas semanas depois, algumas dessas medidas restritivas foram levantadas, o ar condicionado foi activado e as janelas fechadas: «um erro de cálculo terrível», que conduziu o país a um novo confinamento, com mais de dois mil alunos e docentes infectados.

Em jeito de conclusão, Ashish Jha, director do Instituto Harvard de Saúde Global, usou uma metáfora:« Acções individuais (distância social, máscaras, higiene) são como colocar sacos de areia em casa durante uma cheia. Mas se a água atingir certos níveis, não há medidas que funcionem para manter a casa segura».

«A primeira coisa a fazer é garantir que o rio não sobe muito e só depois devemos proteger a casa», conclui.

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