Espanha: Distribuidores misturam azeite com óleo vegetal para baixar preços e agricultores acusam Portugal de ter ‘dedo’ no caso

Chamam-lhe a versão ‘blend’ de azeite, proibida em Espanha, mas que está a gerar grande polémica entre agricultores e produtores, perante um produto que até agora era inédito nas prateleiras dos supermercados espanhóis: a mistura de azeite com outros óleos, como o de girassol.

O produto embalado no mesmo recipiente (garrafões de cinco litros), em tudo semelhante ao verdadeiro azeite, está desde segunda-feira disponível, a um preço mais baixo do que a verão ‘original’, nos supermercados da rede MAS, em Sevilha, na região da Andaluzia.

A denúncia parte de Cristóbal Cano, secretário-geral da União de Pequenos Agricultores e Ganadeiros (UPA) na Andaluzia, que considera, em declarações ao El Mundo, que a medida é “um míssil diretamente contra a linha-de-água” daquele que é um dos produtos com maior prestígio em Espanha, sendo que o azeite é colocado á venda com uma clara e explícita deterioração das suas propriedades e qualidades originais, já que mistura várias matérias-primas na sua origem.

A ‘blend’ de azeite terá surgido como uma resposta à inflação e ao grande aumento de preço que o produto original tem sofrido, associado também ao incremento dos custos de produção e a fraca colheita, devido ao mau tempo da última temporada.

“O que encontramos é um novo produto, baseado na mistura de óleo de girassol e azeite, com o objetivo de torna mais barato o preço de venda e atrair o consumidor”, lamenta Cano.

A prática de misturar azeite e óleo vegetal é expressamente proibida em Espanha, pelas normas de qualidade e rastreabilidade de produtos, no entanto a União Europeia permite que seja feito em outros países, como Portugal.

Nesse sentido, a organização sindical UAP acusa o nosso País de estar relacionado com o novo produto, que constitui “uma concorrência injusta”, afirmando que a ‘blend’ terá começado a ser feita em Portugal, com matéria-prima vinda de Espanha.

Depois, acusa a UPA, vários operadores da indústria colocam o produto no mercado espanhol a um preço mais barato do que o azeite verdadeiro (entre três a quatro euros a menos por litro), para responder aos preços que dispararam. Na última campanha e colheita, a produção de azeite caiu para metade, para 650 mil toneladas, quando nos últimos anos a média era de 1,2 milhões de toneladas.

O novo produto está nas prateleiras a 20,25 euros o garrafão de cinco litros, enquanto o azeite está a 35 euros, em média, pela mesma quantidade. O nome comercial ‘La Andaluza’ aparece no rótulo, com a indicação de ‘Azeite Picual Blend’.

Apenas em letras pequenas surge no rotulo a indicação “mistura de azeite e óleo de girassol”. “Ainda há a questão dos ingredientes serem realmente o que está especificado, quando a percentagens, mas isso é quase impossível de detetar”, explica o líder da UPA Andaluzia alertando para “consequências imprevisíveis e muito graves para todo o setor”.

A organização sindical apela ao ministro espanhol da Agricultura, Luis Planas, que encabece uma proposta na UE para que este tipo de misturas seja proibido nos casos de produtos como o azeite.

“Na Europa não é ilegal, embora pouco comum”, explica Cano, que sublinha que a legislação apertada e os altos padrões de qualidade em Espanha “inviabilizam a mistura de produtos totalmente diferentes, ignorando os efeitos na qualidade do produto final”.

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