Energia: Queimar as reservas fósseis hoje conhecidas emitirá 3.500 mil milhões de toneladas de gases de efeito de estufa

Se o mundo queimar as reservas de combustíveis fósseis que são hoje conhecidas em todo o planeta, serão emitidas para a atmosfera mais gases de efeito de estufa do que durante todo o período desde a Revolução Industrial até aos dias de hoje.

De acordo com dados divulgados esta segunda-feira pela ‘Carbon Tracker Initiative’, serão emitidas 3,5 biliões de toneladas de gases poluentes geradores de aquecimento global se os governos permitirem a exploração e a utilização das reservas de carvão, gás e petróleo que hoje se conhecem.

Os números indicam que os Estados Unidos e a Rússia têm reservas de energia fóssil suficientes para, sozinhos, empurrarem o planeta além da meta de 1,5 graus centígrados de aquecimento global, comparativamente aos valores pré-era industrial, estabelecida pelo Acordo de Paris de 2015.

No total, as reservas fósseis que hoje se conhecem espalhadas pelo mundo têm potencial, se queimadas, para aumentar em sete vezes as concentrações de gases de estufa na atmosfera, gerando, assim, desastrosas ondas de calor, cheias, secas e outros impactes sem precedente na História humana.

“Temos governo a emitirem licenças ou autorizações para a exploração de carvão que contrariam os seus próprios compromissos climáticos”, denuncia Mark Campanale, fundador da ‘Carbon Trackers Initiative’, citado pelo ‘The Guardian’.

Usando uma metáfora colorida, o responsável explica que “é como se um país anunciasse que iria fazer uma dieta climática e que iria comer salada ao almoço, e depois escapulir-se para o escritório e devorar uma caixa de bolos”. Dessa forma, acusa os governos de hipocrisia, de fazer publicamente compromissos para com o combate às alterações climáticas, mas, ao mesmo tempo, deixarem a porta aberta para o aumento da exploração de combustíveis fósseis.

Os cientistas calculam que para ser possível evitar superar a meta de 1,5 graus de aquecimento global, os países têm um “orçamento climático” entre as 400 e as 500 mil milhões de toneladas, pelo que se permitirem a exploração de todas as reservas que até ao momento são conhecidas, esse orçamento seria excedido em sete vezes.

Para ser possível concretizar os objetivos de Paris, limitando o aquecimento a 1,5 graus até ao final do século, os Estados têm de cortar as emissões em cerca de metade ainda esta década, para que seja possível alcançarem a neutralidade carbónica até 2050.

Apesar dos compromissos assumidos pelo vários governos em 2015, a crise energética hoje vivida, especialmente na Europa, devido à guerra da Rússia contra a Ucrânia e que lançou, e ainda lança, repercussões amplas sobre os mercados mundiais dos combustíveis fósseis e faz disparar os preços da energia, vários países estão a colocar a agenda climática em suspenso, reativando, por exemplo, centrais a carvão e subsidiando o consumo de petróleo e gás para tentar mitigar a escassez de combustível perante uma procura em crescimento.

“Os países gostam de falar de emissões, mas não de combustíveis fósseis”, salienta Campanale, frisando que “as emissões derivam do uso de combustíveis fósseis e não se pode fazer nada sobre as emissões até que se decida sobre o que fazer relativamente aos combustíveis fósseis”.

O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, alertava, na semana passada, que “a atua roda livre dos combustíveis fósseis tem de terminar agora”, acrescentando que isso “é uma receita para os permanentes caos e sofrimento climáticos”.

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