“Em Cuba, há oportunidades de negócio para os empresários portugueses”, diz Presidente da Câmara de Comércio da República de Cuba

O intercâmbio económico entre Portugal e Cuba está a crescer e são várias as oportunidades de negócio. Em entrevista à Executive Digest, António Carricarte, Presidente da Câmara de Comércio da República de Cuba, explica como está a ser desenvolvida a relação entre os dois países. 

Como está a ser potenciada a atracção de investimento estrangeiro em Cuba e quais as principais oportunidades para os empresários portugueses que queiram investir no País?
Em primeiro lugar, há um Plano Nacional de Desenvolvimento até 2030 que delineou os principais sectores que vão desenvolver a economia cubana nos próximos anos e divididos por etapas: agro-alimentar, a produção de alimentos constitui grande prioridade para Cuba e acreditamos que há oportunidades para os empresários portugueses, porque este é um sector importante, podendo importar produtos portugueses, mas também promover o investimento estrangeiro no mercado interno cubano. O governo dá prioridade para montar este tipo de investimento entre empresas cubanas e estrangeiras e os empresários portugueses podem encontrar aqui uma oportunidade e uma relação de comércio e desenvolvimento estratégico. 

As energias renováveis são uma aposta forte no actual contexto?
Também nas energias renováveis há um avanço, sobretudo em energia eólica, outro sector de prioridade na geração de electricidade com energia renovável. Estamos a promover as energias solar foto-voltáica, eólica e biomassa. O Turismo é outra área de grande importância e Portugal está a crescer no número de turistas em Cuba, ao contrário de outros países que diminuiram. Também queremos aumentar a infra-estrutura hoteleira, os negócios com empresas portuguesas e é igualmente uma oportunidade para a entrada de capital português em Cuba. 

E em relação à Saúde?
Vemos também uma importância na indústria farmacêutica e biotecnológica, onde Cuba teve resultados nos últimos anos, medicamentos de alta tecnologia para tratamento de cancro ou de doenças neuro-degenerativas. E esse pode ser um sector conjunto entre Cuba, Portugal e outras regiões. A Saúde tem também um peso importante na entrada de divisas no País e vemos potencialidades para empresários portugueses e cubanos. 

Qual é a vossa visão estratégica para o desenvolvimento de negócios?
A nossa visão é de longo prazo, não queremos um negócio de curto prazo, ou de compra e venda que não permitem a solução de problemas num momento de transformação importante em Cuba. Apesar de tudo, Cuba está a gerar oportunidades de negócio que poderiam ser usadas gradualmente, com a Ciência e inovação, e atingir a sustentabilidade nos projectos que estamos a desenvolver. Há milhares de empresas privadas em Cuba em diferentes sectores e que têm a capacidade de se vincular com o exterior pela via da importação/exportação e investimento estrangeiro.  Esta aliança público/privada com empresas estrangeiras tem grande potencial na criação de emprego e comercialização de produtos, sejam alimentos, maquinaria, leite, pecuária, frescos. Neste ambiente de transformação está-se a promover a presença no mercado e há uma oportunidades de negócio para os empresários portugueses. Mesmo montando pequenos projectos que se possam sustentar financeiramente e que podem crescer gradualmente, criando esse ambiente de confiança necessária entre empresários. 

Existem incentivos fiscais para os empresários portugueses ou outros que queiram investir em Cuba?
Temos a Zona Especial de Desenvolvimento (ZED) de Mariel, com toda a infraestrutura e onde se estão a posicionar várias empresas internacionais. O nível de impostos é de 12%, com uma excepção de 10 anos, para potenciar a atracção de investimento estrangeiro. Mariel é uma zona especial de desenvolvimento marítimo, com muita tecnologia e um terminal bastante moderno. 

A lei de investimento cubano promove e incentiva os empresários?
A lei de investimento cubano promove e incentiva os empresários. O mais notório são os benefícios tributários especiais. O imposto para o investimento estrangeiro é de 15% (em Mariel é 12%), com uma excepção de oito anos. Cuba pela sua posição geográfica é um hub regional e logístico para essa facilidade. Além disso, há outras características do mercado cubano que podem ser atractivas: segurança jurídica, social, nível de criminalidade muito baixo, força qualificada (que se adapta muito rapidamente às novas tecnologias) e solidária para a presença dos investidores estrangeiros em Cuba. Através da sua posição muito priviligiada confluem todas as rotas marítimas, tem capacidade para ligar-se com todos os portos da região e, dentro do Plano Nacional, o objectivo é converter Cuba num hub logístico, a partir dos acordos de comércio que temos com os países da região. 

Cuba tem recursos humanos qualificados para fazer face a este desenvolvimento?
Temos uma mão de obra muito qualificada e que com uma actualização de tecnologia moderna pode aprender muito rapidamente. O valor da mão de obra é importante e Cuba está em participar em muitos sectores, seja o hidráulico, a construção ou a indústria. É uma mão de obra bastante qualificada, com acordo comerciais em toda a região, mas agora precisa da atracção de investimento estrangeiro para se desenvolver. Outro sector que pode ser uma grande oportunidade são as tecnologias de comunicação e informação, uma área que estamos explorar com Portugal para alguma forma de associação. O governo cubano está assente em pilares como o uso de tecnologia informática e comunicações, um governo electrónico e uma agenda digital importante, unindo a comunicação, a ciência e a inovação. Temos sete mil empresas privadas cubanas, (pequena e médias empresas) e grande parte delas são empresas de produção e desenvolvimento, não de substiência. Ou seja importam, exportam e investem. A nível externo, Espanha e Canadá são os principais investidores estrangeiros, mas a política de fomentar o investimento internacional em muitos sectores vai ser um elemento fundamental para o desenvolvimento. Vemos uma oportunidade para os portugueses e também aprofundar os níveis de integração. 

Quais os produtos que Cuba exporta para Portugal?
Açúcar, carvão vegetal, mel para uso industrial ou tabaco são alguns dos produtos. A agro indústria, fruta, vegetais ou frescos são outros sectores que também vão ter um incremento nos próximos anos. 

Um dos grandes entraves ao desenvolvimento estrangeiro é muitas vezes o nível de burocracia. Como está Cuba neste aspecto?
A burocracia é uma batalha do Governo para melhorar as condições de negócio e de investimento estrangeiro. O estabelecimento de representações comerciais, sucursais de empresas estrangeiras, também simplificou muito. Estamos a trabalhar duro para diminuir a burocracia e isso pode ajudar bastante o fomento de comércio e negócio entre ambos os países – para que a pessoa que queira fazer negócio tenha só uma via para fazer negócios, sendo assim muito mais rápido. Ao mesmo tempo, há uma secção portuguesa na Câmara de Comércio da República de Cuba, que é muito importante porque permite acompanhar a empresa. 

Atendendo ao forte crescimento do turismo, existe a possibilidade de introduzir o rent-a-car em Cuba?
Sim, até porque o turismo está a crescer. É um sector que vai ajudar a recuperar a economia cubana e isso pode ser também uma oportunidade para os empresários portugueses vincularem-se de alguma maneira a esse serviço tão importante para o Turismo. 

Como está Cuba ao nível da produção de petróleo?
Cuba produz metade das suas necessidades entre petróleo e gás associado e também promove a participação estrangeira, o que poderá estender-se igualmente às empresas portuguesas. 

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