Do outro lado do espelho: Ricardo Parreira, CEO PHC Software

Há mais de 20 anos que aproveita a ligação à Natureza (mas também pode ser em casa ou mesmo na empresa) para uns minutos diários de reflexão, que o tornaram uma pessoa mais feliz, menos ansiosa e com maior discernimento. Nem o ruído do comboio o desvia do objectivo principal. «Gosto de vir aqui para obter esta energia fantástica. Costumo fazer meditação logo de manhã, em casa, e ao fim-de-semana, no passeio marítimo, onde intercalo uma hora de caminhada e cerca de 25 minutos de meditação», explica à Executive Digest.
Quando está em casa tem um espaço próprio para fazer exercício e meditar, por volta das 7h00, e após ter tomado um pequeno-almoço ligeiro. Na PHC há também uma sala para promover esta prática. «Para a meditação correr bem  temos que estar muito concentrados e não se pode parar de pensar, porque isso é impossível. É pensar em algo como a respiração ou um objecto que não tenha julgamento, como o som do mar. Há vários bloqueios na meditação e os dois principais são o apego a alguma coisa ou a rejeição a alguma coisa (normalmente os nossos pensamentos fogem do que não gostam ou focam-se naquilo que gostam). Por outro lado, estamos permanente a pensar se podíamos ter mudado o passado e que futuros vão acontecer. Estes elementos provocam acima de tudo distração», acrescenta Ricardo Parreira.

Para o gestor, uma das coisas fantásticas da meditação é notar esta distração e poder voltar aquilo em que estava concentrado. «Este treino da mente é tão importante como o exercício para o treino do corpo», diz. Aliás, a ideia de meditar é deixar ir um pensamento sobre o futuro, por exemplo, e não nos agarrarmos a ele. «É como se fosse uma hospedaria. Cumprimentamos os visitantes e depois deixamo-los ir. A partir de certa altura, em que temos muito treino, já pouco nos agarramos e essa é a altura em que temos uma capacidade meditativa muito forte. Ao trazer isso para o meu dia-a-dia, ajuda-me imenso na minha vida». 

No dia de trabalho, o gestor da PHC Software costuma dizer que tem muita pressão e pouco stress. O treino adquirido ao longo dos anos permite-lhe saber quando precisa de estar calmo e priorizar as situações. «A minha capacidade de concentração melhorou e isso traz um valor acrescentado incrível ao trabalho. Na minha opinião, o foco é o factor número um de sucesso de um CEO porque ajuda a pensar tacticamente e estrategicamente. Um gestor tem de tomar muitas decisões informadas e acertadas num curto espaço de tempo e não se pode desviar. Sem este treino corremos o risco de entrar na roda viva e tomar as decisões em função das circunstâncias e não da estratégia. E isso prejudica de certeza a empresa e o CEO», diz o gestor. 

Para Ricardo Parreira, uma das principais regras da meditação é que não se pode ir para esta prática à espera de resultados imediatos. «A meditação tem esta características de ao fim de algum tempo ficarmos melhor a meditar. E o que é isso? É conseguirmos abstrair-nos de todos os elementos. No início tudo me distraía e parecia que a minha mente ia explodir de tantas coisas que surgiam ao mesmo tempo e eu não conseguia lidar com elas. À medida que ia treinando conseguia estar cada vez mais concentrado». 

O INÍCIO
O CEO da PHC Software começou a meditar há cerca de 20 anos, com um primeiro curso de introdução no Centro Upaya, em Lisboa. Durante oito semanas, duas horas por dia, seguiu um programa de práticas simples que, ao serem integradas no seu dia-a-dia, ajudam a romper os ciclos de ansiedade, stress, desânimo e cansaço. «Quando cheguei ao fim do curso pensei que tinha de perceber mais do tema», lembra. Por isso, fez várias vezes o programa, investigou e inscreveu-se em novas formações, como “comunicação consciente”. «Ainda hoje acho que sou um aprendiz porque a meditação tem sempre esta questão de não se ir apenas por um objectivo e a minha vida toda está governada por objectivos: os pessoais, os espirituais, os profissionais, os da minha equipa e os da empresa. Devemos apreciar o processo, mais do que pensar que existe um fim a atingir». 

Em Portugal, as principais referência do CEO nesta área são o instrutor principal do Centro Upaya, Sagara, mas também elege personalidades mundiais como Matthieu Ricard, que explica, passo a passo, como as nossas sociedades ocidentais em geral encaram as emoções negativas, que geram tanto mal estar – ódio, raiva, inveja, ciúme – e de que forma treinar a mente para neutralizá-las. «Neste caminho para a felicidade há todo um ganho profissional e pessoal, que vem destas técnicas de meditação absolutamente fansticas». Ricardo Parreira dá ainda o exemplo de Jon Kabat-Zinn, norte-americano, e reconhecido em todo o mundo pelo seu trabalho como cientista, escritor e professor de meditação e mindfulness. É o principal responsável pela popularização da prática de mindfulness no Ocidente em áreas como a Medicina, a Psicologia, a saúde pública, as escolas, as prisões ou o desporto.

O gestor traz para o dia de trabalho alguns destes ensinamentos. Em cada reunião na empresa costuma fazer um intervalo de 15 minutos para uma pausa retemperadora. «Podemos meditar em qualquer local desde que tenhamos a capacidade de nos concentrar e eu consigo fazer isso várias vezes por dia». Na PHC, os colaboradores são incentivados de forma totalmente voluntária a experimentar a prática da meditação. «Como pai e como CEO acredito muito no conceito de tentar expor as pessoas ao maior número de coisas possíveis que as ajudem na vida e depois cada um agarra as que quiser. Na empresa promovemos workshops e temos tido adesão. Há sempre algum cepticismo à volta da meditação, relacionado com a parte esotérica e religiosa, mas na PHC usamos a meditação para melhorar o bem estar das pessoas. Algumas aderem com sucesso, para outras fica para mais tarde e está tudo bem», conclui o gestor.   

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