Do aperto nos empréstimos ao risco na banca: Goldman Sachs aponta cenário de “obscuro” na Zona Euro
Durante as últimas semanas a economia e a banca internacional tem sofrido com uma grande turbulência, que começou no colapso do Silicon Valley Bank, e foi até ao outro lado do Atlântico com a venda do Credit Suisse ao seu concorrente UBS. E como são as previsões dos especialistas?
Em nota de research a que a Executive Digest teve acesso, o Goldman Sachs vê um cenário obscuro para a Zona Euro, no entanto, admite uma estrutura regulatória sólida e bem preparada.
“O atual stress bancário está a obscurecer as perspetivas da Zona Euro, já que as ações dos bancos caíram acentuadamente e os custos de financiamento no retalho dispararam. O risco sistémico ainda parece limitado, já que o sistema bancário europeu tem boas pontuações nas principais medidas de resiliência”, revela o grupo financeiro multinacional.
No entanto, alertam, a turbulência na banca vai pesar das perspetivas da Zona Euro por meio da redução dos empréstimos bancários.
“A nossa análise – que relacionou as medidas de empréstimos bancários a indicadores de stress financeiro – sugeriu que os padrões de empréstimo serão ainda mais rígidos a partir daqui, apontando para um PIB real em toda a Zona Euro de cerca de 0,3% no próximo ano”, explicam.
Isto quer dizer que, com uma redução ou uma maior dificuldade no acesso aos empréstimos, principalmente por parte das empresas, os custos de produção podem aumentar e afetar todas as partes da cadeia, tendo um grande impacto na economia.
No entanto, o Goldman Sachs sublinha que o ímpeto de crescimento que se aproxima da turbulência financeira permanece resiliente, apoiados pela redução do preço do gás, da abertura do mercado chinês e dos incentivos fiscais por parte dos Governos para combater a inflação.
Os números altos da inflação subjacente fazem o Goldman Sachs perspetivar ainda uma inflação em alta nos próximos meses. “É provável que o núcleo sequencial da inflação desacelere à medida que os preços mais baixos da energia repercutem nas medidas subjacentes… Esperamos que a inflação de serviços permaneça muito rígida”, apontando para os 5,8% durante os próximos meses, acima do previsto pelo Banco Central Europeu (BCE).
“O BCE apresentou um aumento de 50 pb na reunião de março para combater a inflação, mas abandonou a sua orientação futura em resposta aos riscos financeiros, adotando uma postura totalmente dependente de dados.”, consideram os especialistas do Goldman Sachs.
“Dada a nossa previsão de núcleo de inflação alta, esperamos, portanto, aumentos contínuos das taxas, mas um ritmo mais lento (com 25pb em cada maio e junho)”, revela a nota de research, que sublinha ainda que, no entanto, é possível outra alta de 50 pontos-base em maio se as tensões no setor bancário diminuírem rapidamente e a economia permanecer resiliente.