Desligar a Internet para silenciar protestos. Uma pratica cada vez mais utilizada…pelos governos

O que é que os protestos em Hong Kong e na Catalunha têm em comum? Começaram nos ecrãs de telemóvel e rapidamente foram para a rua. Outro reflexo da sociedade digital é que também a forma de convocar pessoas para protestos tem vindo a mudar, sendo agora comum a utilização das redes sociais para divulgação dos protestos.

Por esta razão, as autoridades governamentais estão também a usar novas estratégias para conter os movimentos de protesto. De acordo com um relatório da AccessNow, ONG para a defesa de direitos na Internet, em 2018 as autoridades de 25 países bloquearam a Internet 196 vezes. Um número superior a anos anteriores: em 2017 existiram 106 cortes e em 2016, 75. Segundo o mesmo relatório, o governo indiano lidera a lista com mais bloqueios realizados.

As principais razões avançadas pelas autoridades para estes bloqueios em 2018 foram segurança pública em 91 “apagões”, instabilidade política em 53 e falta de controlo em protestos em 45 casos. Ainda segundo a AccessNow, o país mais protector dos direitos online é a Islândia enquanto a China é, pelo quarto ano consecutivo, o estado que detém maior controlo na Internet.

Twitter, Facebook e WhatsApp estão entre as aplicações mais utilizadas para convocação de protestos, por facilitarem a organização dos movimentos. Antonio Calleja, sociólogo especialista em tecnologia política na Universidade da Catalunha, explica “É um caminho de transição gradual do ciberactivismo para a tecnopolítica, ou seja, o uso táctico de redes digitais para organização e acção política colectiva”.

A primavera árabe foi o primeiro movimento que utilizou as redes sociais como um instrumento para divulgar massiva e internacionalmente as suas intenções. Alexandre López-Burrull, professor de estudos científicos da Universidade da Catalunha, explica que “foi um marco da sociedade digital, uma vez que mostrou o controlo das autoridades sobre os órgãos de comunicação e a utilização de redes sociais, como o Facebook e Twitter, que tinham imagens do que estava a acontecer”.