“Descarbonizar a indústria metalúrgica é mais complexo do que tinha imaginado”, diz Head of Decarbonization na GFG Alliance

Durante a licenciatura sentiu necessidade de trabalhar fora de Portugal, aproveitar experiências em países diferentes e as oportunidades que fizessem sentido em termos de crescimento pessoal e profissional.

Tem formação em Psicologia e especialização em Gestão de Recursos Humanos, área na qual começou a sua carreira, com um estágio na Jerónimo Martins. A veia empreendedora levou Rita Monteiro a investir em negócios próprios, nomeadamente na área de mergulho recreativo. Em 2013, foi para o sudeste asiático, precisamente para gerir escolas de mergulho, mas para outras empresas. Ao final de pouco tempo, sentiu que precisava de uma carreira diferente e isso levou-a a fazer o MBA do the Lisbon MBA Católica|Nova, em 2016. Mais tarde, começou a trabalhar na Amazon. Entrou para o programa de operações “Pathways”, trabalhou dois anos no Reino Unido e França. Em 2019, apesar de se ter mudado para o Japão, para trabalhar em Supply Chain e Logística, acabou por ficar responsável pelo planeamento estratégico de Sustentabilidade para a Amazon no país. Em 2021, já nos Emirados Árabes Unidos, foi responsável pelo programa global de Net Zero Carbon da Amazon. Em Setembro de 2022, iniciou as funções de Head of Carbon na GFG Alliance.

Depois de ter trabalhado na Amazon, Rita aceitou um novo desafio para continuar a crescer profissionalmente na área da Sustentabilidade. E continuou a viver no Médio-Oriente.

Como é que surgiu a oportunidade de trabalhar para a GFG no Dubai?
Estive uns meses à procura do próximo desafio na carreira, dando preferência em permanecer no Dubai e continuar a crescer profissionalmente na área da Sustentabilidade. Entre Março de 2017 e Agosto deste ano trabalhei para a Amazon e, nos últimos três anos e meio, estive exclusivamente a trabalhar em Sustentabilidade, algo que está alinhado com os meus valores e o meu sentido atual de propósito. A GFG estava a transferir o Head Quarters para o Dubai e o papel de Head of Carbon tinha semelhanças e complementaridades com a experiência que vim a desenvolver na Amazon, com mais poder de decisão e influência, o que juntou ambições profissionais e preferências pessoais.

Aceitou imediatamente?
O desafio de descarbonizar um setor extremamente “difícil de diminuir” e a proximidade com a tomada de decisão de liderança sénior foram os motivos que me levaram a abraçar esta oportunidade. Durante o processo de seleção tive a oportunidade de falar com a equipa de liderança. Apesar dos desafios que a indústria enfrenta, com a maturidade tecnológica, contexto económico e consequente velocidade de transição, a equipa de liderança está alinhada na transição da indústria, com o objetivo de ser Carbon Neutral em 2030. Finalmente, o facto de a indústria de ferro e aço ser uma área que desconhecia foi um fator motivacional adicional.

Quais as suas principais funções?
Como Head of Carbon faço parte de uma equipa chamada Gabinete de Planeamento Industrial do Presidente (Chairman Industrial Planning Office). O meu papel está dividido em três áreas complementares. Em primeiro lugar, trabalho com as equipas de governação ambiental e ESG, para delinear o plano para atingir a neutralidade carbónica até 2030 (ambição da Aliança GFG), além de apoiar outras áreas ambientais e sociais, de acordo com a política ambiental e social da União Europeia. Este apoio centra-se na transformação das unidades de negócio, na normalização dos processos entre as diferentes empresas do grupo e na melhoria da medição de dados. Em segundo lugar, trabalho com as equipas técnicas (incluindo Research and Development) e com a equipa de Mergers and Acquisitions, que apoiam os planos de transformação do negócio. Há muita inovação a acontecer e é super interessante ver as soluções a adotar para responder à necessidade de descarbonização do aço. Por último, colaboro com as equipas de Public Policy e Relações Industriais em todos os temas relacionados com o preço do carbono, a medição de carbono e os objetivos de redução, de acordo com standards da indústria e regulamentação, com um foco especial na Europa devido às diversas políticas de reporte e governance sociais e ambientais. 

O que mais lhe fascina na indústria em que trabalha? 
Há um interesse e um foco global na Indústria em relação à descarbonização do aço. É raro ver um alinhamento tão grande em relação a um objetivo ambiental, particularmente num contexto em que as tecnologias ainda não foram testadas em escala (por exemplo, hidrogénio verde utilizado para descarbonizar a produção primária de aço). Descarbonizar a indústria metalúrgica é significativamente mais complexo do que tinha imaginado. Transformar uma indústria que hoje é responsável por cerca de 7% das emissões globais tem repercussões materiais em tantos outros sectores, devido à sua complementaridade e interdependência com o aço (construção, transporte, aviação, logística, etc.).

É no Dubai que passa grande parte do seu tempo a trabalhar? Como é o seu dia-a-dia de trabalho?
Comecei em Setembro deste ano. Espero passar 2/3 do tempo no Dubai e o resto a trabalhar com as diferentes equipas, principalmente na Europa e Austrália. Tendo estado os últimos dois anos e meio em trabalho remoto, o contraste com o voltar ao escritório tem sido uma boa mudança. O meu dia é passado entre planeamento, monitorização e a dar apoio a equipas técnicas. Tenho um papel importante na definição de planos, upskilling das equipas, na normalização dos sistemas de dados e transformação digital, assessoria de risco, no envolvimento com grupos de indústria e com a equipa de Public Policy.

Quais são as principais diferenças na metodologia de trabalho que veio a encontrar quando se mudou para o Médio Oriente?
Estou no Dubai há 18 meses, os primeiros 17 a trabalhar remotamente para a Amazon. Tendo passado por cinco países ao longo dos últimos seis anos, as diferenças na metodologia de trabalho não estão tão associadas ao local, mas à empresa. Trabalhar no Dubai é dificilmente comparável a outros locais do Médio Oriente (dizem os experts). A região é tão internacional, que tem uma mistura de diferentes estilos de trabalho. Contudo, o Dubai é um lugar incrível, com um foco regional e internacional em tecnologia e crescimento sustentável mais concentrado, rápido e maior do que possivelmente outros focos urbanos mais ocidentais. Há muita inovação e investimento e é fácil ter entusiasmo. O Japão foi um contraste muito maior para mim em termos de adaptação, devido a uma cultura mais fechada e menos internacional.

O que é que o Dubai lhe tem vindo a ensinar sobre a Gestão de Pessoas?
O Dubai tem uma diversidade cultural de difícil comparação. Mais de 90% da população é expatriada. Trabalhar com uma variedade tão grande de culturas abre-nos os olhos para diferentes valores e formas de crescimento. Estar atento a estas diferenças e polaridades torna-nos mais tolerantes e inclusivos. É uma fonte de crescimento e conhecimento difícil de equiparar. A grande variedade de culturas impulsiona uma boa aceitação global de todos, independentemente da religião, nacionalidade ou visões políticas.

Vivendo tão longe de Portugal, como é que “mata saudades” do nosso país?
Falo frequentemente com a família e viajo para casa pelo menos duas vezes por ano. Emigrei a primeira vez em 2010 e tenho estado fora do País desde que terminei o meu MBA, em 2016. A minha família habituou-se e os grupos do WhatsApp são fonte de convívio com todos. O Dubai tem um dos melhores aeroportos do mundo com voos diários e diretos para Lisboa. Chegar a casa do Dubai ou do País de Gales leva o mesmo tempo. A ligação com Lisboa encurta a distância e, de repente, essas oito horas de voo não são assim tão más. Há também uma grande comunidade portuguesa no Dubai e alguns bons restaurantes onde podemos matar saudades da comida portuguesa. É frequente juntarmo-nos durante o fim-de-semana e trazer petiscos quando alguém vai a casa. O meu background em vídeo chamadas são as paisagens de Sintra, por isso há sempre curiosidade sobre as imagens, o que é uma boa oportunidade para falar do País. 

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