Depois do coronavírus, a globalização na produção nunca mais será a mesma

Desde o final de janeiro, que a onda de encerramentos e quarentenas por toda a China levaram ao fecho das fábricas na segunda maior economia do mundo, interrompendo as cadeias de fornecimento globalmente.

As cadeias de fornecedores globais estão a preparar-se para uma grande mudança, uma vez que a pandemia de coronavírus veio expor a vulnerabilidade de países e empresas que dependem fortemente de um número limitado de parceiros comerciais.

“Uma das coisas que realmente se tornou evidente com a Covid-19 foi a rápida mudança que ocorreu em termos da massa crítica de cadeias de valor que se formaram na China desde 2003, altura do SARS, até 2019”, disse Alex Capri, especialista da Universidade Nacional de Singapura, citado pela CNBC.

A SARS, ou síndrome respiratória aguda grave, foi outro tipo de coronavírus que eclodiu em 2002 e 2003 que causou danos à economia da China.

Nessa altura, a China contribuía com 4% para o PIB mundial, agora, o país contribui com quase 20%, com grande parte do crescimento proveniente de investimentos estrangeiros.

Grande parte desse investimento foi para o setor da indústra, mas com esta pandemia assiste-se a uma “forte reviravolta”, disse Capri, à CNBC, reforçando que as empresas estão ameaçadas pelos riscos a que estão sujeitas as cadeias de fornecedores, particularmente as que existem em áreas estratégicas como tecnologia e produtos farmacêuticos, disse Capri à CNBC.

As empresas, devido às tarifas de retaliação na guerra comercial entre os EUA e a China (impostas por ambas partes), já começaram a diversificar as suas cadeias de fornecedores para fora da China. E a velocidade a que o estão a fazer, agora vai acelerar”,  alertou Capri, acrescentando que “vamos assistir uma reestruturação maciça das cadeias de fornecedores”.

“Não acho que as coisas voltem ao normal, ou à forma como as conhecemos nas últimas duas décadas. Estamos numa nova era, completamente diferente, e agora, a globalização como a conhecemos, acabou”, defendeu Capri.

Apesar de a China estar gradualmente a retornar ao trabalho, pode levar meses, “provavelmente trimestres”, para acelerar as operações e recuperar a produção perdida, segundo avança a Riskmethods, citando um estudo, de fevereiro da consultora alemã Kloepfel Consulting, na qual foi observado que 81% das empresas contam com fornecedores chineses.

Com base na análise dos riscos, grande parte dos fabricantes está a enfrentar problemas de fornecimento devido ao surto de coronavírus, com um aumento de 44%, de dezembro a fevereiro, nas empresas que apontam como razão principal a “causa de força maior”. Um evento de força maior ocorre quando circunstâncias imprevisíveis, como catástrofes naturais, impedem uma parte de cumprir suas obrigações contratuais, absolvendo-as de multas.

Após a primeira onda de interrupções da China, a segunda onda de interrupções da cadeia veio da vizinha Coreia do Sul e Japão, onde também há um grande número de infecções, observou Bruce Pang, da China Renaissance Securities.

“A ocorrência de casos de Covid-19 na Europa e nos EUA pode trazer outra onda de choque, colocando as cadeias de fornecedores e indústria globais sob teste de stress”, disse Pang à CNBC, reforçando que “à medida que o surto global se amplia, mesmo que as indústrias  chinesas continuassem o seu trabalho em grande escala … países e regiões poderiam receber um segundo impacto da queda no fornecimento de um parceiro comercial e vice-versa ”.

 

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