“Dar às pessoas ‘luxo democrático’, mas aplicado ao imobiliário”: CEO da Solid Sentinel explica

O mercado imobiliário em Portugal continua a atravessar um período marcado por uma alta de preços inigualável, agravada por uma inflação elevada e pela subida das taxas de juro e, nomeadamente, a Euribor.

No entanto, este mercado também se tem vindo a reinventar, procurando alternativas aos grandes centros e tentando democratizar o acesso à habitação a todos os portugueses.

A Executive Digest falou com Alain Gross, CEO da Solid Sentinel, para conhecer o conceito por trás do “luxo democrático”, como pode ser aplicado, e qual a sua opinião sobre o mercado imobiliário da capital e a aposta na margem sul do Tejo.

 

Face aos preços praticados nos principais centros urbanos como Lisboa e arredores, a margem sul é uma alternativa cada vez mais procurada pelos compradores?

Sim, há uma grande procura pela Margem Sul e, especificamente, pelo Barreiro. Isto acontece não só por causa da proliferação do teletrabalho e, portanto, não há uma ‘obrigação’ das pessoas morarem nos centros urbanos como Lisboa, ou junto deles, mas também porque os preços das habitações acabam por ser mais atrativos.

Um exemplo: na Nooba, que se trata de habitação inovadora e de qualidade para a classe média da população, temos preços 40% a 50% inferiores aos de Lisboa, numa lógica de luxo democrático.

Acreditamos que a procura por estas localidades poderá vir a crescer de forma mais acentuada se forem criados ainda mais transportes e rotas que privilegiem quem tem de se deslocar diariamente e, por outro lado, os vários responsáveis municipais continuarem a criar condições de fixação da população e atração de novos habitantes.

 

O Primeiro-Ministro, António Costa, anunciou o que o Governo vai avançar com diversos projetos no Arco Ribeirinho Sul. Esta iniciativa vai tornar a região mais atrativa para investimentos?

Foi com agrado que vimos essa aposta na Margem Sul e acreditamos que irá contribuir para o desenvolvimento do imobiliário nesta zona do país, em particular no Barreiro.

O importante é que os políticos tomem decisões bem pensadas e de forma estratégica, a longo prazo, para oferecer assim as condições e as infraestruturas necessárias que garantam uma vida agradável para quem cá mora ou quer vir morar.

 

O Programa Mais Habitação é uma solução sólida e eficiente para resolver os problemas no nosso país?

O Programa Mais Habitação, é um enorme conjunto de soluções que visam combater o problema sério e reconhecidamente prioritário do acesso á habitação, e a urgência das famílias que face à conjuntura atual se veem em dificuldades para pagar as suas prestações ou rendas.

Apesar da diversidade destas medidas, falta a abrangência e profundidade de uma verdadeira reforma. O desafio maior, parece-nos, será estar à altura das enormes expectativas criadas por esta proposta, que acima de tudo vai por à prova a capacidade de resposta dos serviços do Estado e das Autarquias.

À parte de medidas mais polémicas, as linhas principais são consensuais, como a comparticipação pelo Estado de parte do valor das prestações devidas pelas famílias endividadas, proteção dos arrendatários mais velhos, e aquela que nos é mais cara enquanto promotores, a redução das burocracias a que está sujeita a nossa atividade.

Como contraponto mais negativo, as instabilidades fiscais e legais têm sempre um efeito nefasto na atratividade do país para os investidores estrangeiros, sejam eles grandes promotores ou meros compradores que desejam possuir uma segunda habitação, ou relocalizar-se para Portugal.

Falta uma estratégia que combine o investimento publico com a potenciação iniciativa privada, pondo em prática políticas públicas que promovam o aumento sistemático e melhoria da oferta habitacional seja ele para e venda ou para o arrendamento, onde só com um programa estável de incentivos à nova oferta pode tornar este investimento financeiramente viável e atrativo.

 

Quem são os compradores dos imóveis? Entre residentes, estrangeiros ou fundos de investimento, que está a investir mais no setor imobiliário?

Há alguma diversificação nos compradores dos imóveis da NOOBA. Temos, atualmente, um rácio de comercialização a rondar os 57% de clientes investidores e 43% de futuros residentes, onde cerca de 65% são compradores portugueses.

No entanto, em conversa com vários dos compradores temos percebido que muitos daqueles que compraram para arrendar, e que moram em Lisboa ou na zona da marginal por exemplo, começam agora a considerar seriamente em fazer uma mudança par ao Barreiro e quebrar assim com um certo preconceito que começa a deixar de existir.

Há aqui também outro fator importante: houve um momento em que desisti de investir em Lisboa quando o valor por metro quadrado do terreno ou edifício por reabilitar atingiu os 2.000 euros. Se a este valor, juntarmos mais 2.000 ou 2.500 euros para a construção, entre outros investimentos que são feitos, o valor de venda passa, forçosamente, a rondar os 6.000 euros. Ora, aqui no Barreiro estamos a vender a uma média de pouco mais de 3.000 euros o metro quadrado e, com isso, conseguimos chegar às famílias portuguesas.

 

Em que consiste o conceito de luxo democrático e como pode ser aplicado?

A melhor forma de o explicar é pegar no exemplo do IKEA, grupo onde estive cerca de 17 anos, onde frequentemente se fala de design democrático, em que a lógica assenta em, por exemplo, as pessoas terem cadeiras personalizadas a um custo muito inferior, quando comparada com o mesmo tipo de produto assinado por um designer reconhecido internacionalmente.

Ora, é esta lógica que queremos aplicar aqui no NOOBA:  dar às pessoas ‘luxo democrático’, mas aplicado ao imobiliário.

 

A subida da Euribor tem influenciado o ritmo a que os apartamentos são vendidos ou o tipo de cliente que os procura?

É inegável o impacto da subida das taxas de juros, apesar das previsões do Banco Central Europeu de que o segundo semestre poderá trazer uma estabilização das taxas, e um recuo efetivo possa surgir já em 2024.

Os nossos clientes fazem, obviamente, uma grande reflexão sobre o seu investimento do ponto de vista financeiro, mas para lá de processos de decisão mais longos e ponderados, não temos experimentado uma variação evidente do perfil dos clientes.

 

Quais os planos da Solid Sentinel para Portugal nos próximos anos?

A Solid Sentinel já tem um histórico sólido em Portugal, onde estamos desde 2014, e, para além do NOOBA, já desenvolvemos quatro projetos de luxo localizados em Lisboa (Actor Tasso, Vale Pereiro, Desterro e Viriato), no caso do Vale Pereiro foi premiado como a “melhor remodelação em Portugal” pelos European Property Awards.

Com o “NOOBA – A Fresh New Living” queremos ajudar a posicionar o Barreiro num local de excelência para se viver, oferecendo um estilo de vida equilibrado e uma tranquilidade que não se encontram na capital, com umas vistas impressionantes sobre o rio. Estamos a falar de uma área bruta total de 98.360m2, 518 apartamentos de diferentes tipologias e contamos entregar os novos apartamentos a partir do segundo semestre de 2024.

Queremos continuar a desenvolver um mercado residencial dirigido aos portugueses e a preços acessíveis, em boas localizações e bem ligados à rede de transportes públicos.

Além disso, acreditamos que há uma procura crescente pelo mercado de arrendamento a preços acessíveis, que obviamente não deixamos de analisar.

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