Crise global da água: ONU alerta que problema está a aumentar conflitos e a ameaçar a paz mundial

No Dia Mundial da Água, assinalado a 22 de março, a UNESCO, em nome da ONU-Water (braço da ONU dedicado às questões relacionadas com a água), lançou um relatório alarmante sobre o estado atual dos recursos hídricos a nível global. O estudo aponta para um aumento das tensões relacionadas com o acesso à água, sublinhando a urgência de fortalecer a cooperação internacional e os acordos transfronteiriços para garantir a paz e a segurança, que são ameaçadas atualmente pela crise global da falta de água.

De acordo com os dados revelados, 2,2 mil milhões de pessoas em todo o mundo ainda não têm acesso a serviços de água potável segura e gerida de forma eficaz. Este número sobe para 3,5 mil milhões quando se considera a falta de acesso a serviços básicos de saneamento.

Os dados preocupantes, divulgados a menos de uma década da meta estabelecida pelas Nações Unidas para a Agenda 2030, indicam um desafio significativo na consecução do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS 6) de “assegurar o acesso universal à água potável segura e acessível para todos”.

O relatório também destaca o impacto devastador das secas, que afetaram quase 1,4 mil milhões de pessoas entre 2002 e 2021. Em 2022, aproximadamente metade da população mundial enfrentou sérias restrições no acesso à água, e um quarto da população global experimentou níveis de stress hídrico “extremamente elevados”.

Audrey Azoulay, diretora-Geral da UNESCO, enfatizou a ligação direta entre o stress hídrico e o aumento dos conflitos: “À medida que os desafios relacionados com a água se intensificam, cresce também o risco de conflitos locais e regionais”, declarou ao The Guardian. Azoulay sublinhou a necessidade urgente de ação, afirmando que “para preservar a paz, é imperativo agir rapidamente não apenas para proteger os recursos hídricos, mas também para fortalecer a cooperação regional e global neste domínio”.

Alvaro Lario, presidente da UN-Water e do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), acrescentou que a água, quando gerida de forma sustentável e equitativa, pode ser uma “fonte vital de paz e prosperidade”. Lario sublinhou ainda o papel crucial da água na agricultura, destacando-a como o “motor socioeconómico primordial para milhares de milhões de pessoas”.

Apesar de o relatório não focar explicitamente o conflito em Gaza, o editor-chefe, Rick Connor, abordou indiretamente as tensões no Médio Oriente, observando que “a água tem sido frequentemente utilizada como instrumento de guerra ou como alvo, mas raramente como causa direta de conflito”. Connor explicou que os conflitos relacionados com a água podem surgir devido à procura excessiva, poluição, restrições de acesso ou interrupções nos serviços de abastecimento e saneamento.

O relatório gerou controvérsia ao não incluir o conflito em Gaza, com líderes políticos acusando Israel de usar o acesso à água como uma “arma” contra os palestinianos. Desde o início do conflito em outubro de 2023, a Faixa de Gaza tem enfrentado uma grave escassez de água potável, alimentos, medicamentos e produtos de higiene, exacerbando a sede, a fome e os riscos para a saúde pública.

Com este relatório, a ONU reforça a necessidade de ações concretas e colaborativas para abordar os desafios globais da água e assegurar um futuro sustentável e pacífico para todos.

Ler Mais