Crise energética: Apesar de quase cheios, reservatórios na UE só têm capacidade para responder a um quarto do consumo

A Comissão Europeia já havia anunciado que as reservas de gás da União Europeia já estão a 80% da sua capacidade total, uma marca que só estava planeado ser alcançada a 1 de novembro.

Contudo, as regras comunitárias requerem que cada um dos 27 Estados-membros tenha as suas próprias reservas a 80% até 1 de novembro, mas, de acordo com a ‘Euronews’, os países estão a avançar a velocidades diferentes e há uns mais bem preparados do que outros para o inverno que se aproxima.

Na UE existem 160 instalações de armazenamento com uma capacidade total conjunta para mais de 100 mil milhões de metros cúbicos de gás, o que representa apenas um quarto do consumo total, que se cifra nos 400 mil milhões de metros cúbicos.

Estimativas da Agência Europeia para a Cooperação de Reguladores Energéticos (ACER) apontam que “a capacidade dos 27 países da UE representam cerca de 27% do consumo anula de gás” no bloco europeu.

Por norma, se o passado poderá servir de guia, o gás armazenado nos reservatórios da UE tem abastecido entre 25% e 30% das necessidades de consumo durante os meses mais frios do ano. O restante combustível tem sido canalizado para ajudar a suportar picos de consumo devido aos sistemas de aquecimento.

Além disso, apenas 18 dos 27 Estados-membros têm capacidade para armazenar gás, incluindo Portugal. Os restantes noves têm de contar com acordos de solidariedade estabelecidos com os parceiros.

Dessa forma, o armazenamento de gás evidencia fortes desigualdades no bloco europeu, sendo que a Alemanha, a França, a Itália, a Áustria e os Países Baixos representam 73% da capacidade total de armazenamento da UE.

Será relevante recordar que no dia 9 de agosto entrou em vigor a estratégia da UE para reduzir o consumo de gás em 15%, no mínimo, até 31 de março do próximo ano.

A proposta foi aprovada pelo Conselho Europeu, com 25 votos a favor e dois contra (da Hungria e da Polónia), depois de a primeira versão do plano avançada pela Comissão Europeia de Ursula von der Leyen ter sido fortemente criticada por uma maioria dos Estados-membros, que acusavam a estratégia inicial de ser uma solução de “tamanho único” e que não tinha em conta as especificidades dos países, como as ligações de gás a outros Estados-membros e a maior necessidade de gás devido à situação de seca que corta a capacidade de produção hidroelétrica.

O texto começa por sentenciar que “a Federação da Rússia, principal fornecedor externo de gás da União, iniciou uma agressão militar contra a Ucrânia, parte contratante na Comunidade da Energia”, que resume a força motriz da medida aprovada por quase todos os Estados-membros.

Em 2021, a UE registava uma dependência de cerca de 40% do gás oriundo da Rússia, pelo que a alterações profunda no contexto geopolítico levou o bloco dos 27 a procurar novas formas de impedir que o Presidente russo Vladimir Putin possa usar o gás como instrumento de chantagem contra os líderes europeus, numa tentativa de aliviar ou levantar totalmente as sanções que Bruxelas lançou contra Moscovo na sequência da guerra lançada contra a Ucrânia a 24 de fevereiro.

Ainda ontem, a Comissão Europeia revelou um novo pacote de medidas, que visam, designadamente, limitar os preços para as importações de gás que fluam por gasodutos da Rússia para a UE, para contornar os “valores extremamente elevados”. No entanto, Bruxelas admite novas ruturas, para as quais os 27 “estão preparados”.

Apesar dos esforços, especialistas salientam que a reposta à crise energética na UE tem sido “descoordenada” e que “os governos europeus tendem a optar por medidas limitadas e descoordenadas que priorizam a segurança nacional do abastecimento e da acessibilidade, em detrimento de uma abordagem europeia integrada”.

“Os governos correm o risco de os subsídios ao consumo se tornem insustentáveis, erodindo a confiança nos mercados energéticos, desacelerando o sancionamento da Rússia e aumentando o custo da transição para a neutralidade carbónica”, apontam os especialistas.

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