Corporate banking: “Os clientes-empresa são, tipicamente, mais avessos aos riscos que associam a soluções disponibilizadas por bancos digitais”, diz Sónia Brito, da NTT Data Portugal
A emergência e o fortalecimento de modelos de relação à distância, assentes em soluções tecnológicas, não se nota apenas nos mercados de trabalho ou nos setores do retalho e alimentação. Também no ramo dos serviços bancários é evidente uma preferência cada vez maior por um contacto à distância, que não exija deslocações aos balcões, e que seja imediato, rápido e simples.
No mundo empresarial, o segmento do corporate banking reflete essas mesmas preferências. As empresas querem mais autonomia na gestão, disponibilidade permanente e uma maior comunicação entre as aplicações bancárias e os seus próprios sistemas internos.
Em entrevista à ‘Executive Digest’, Sónia Brito, diretora da área de banca da NTT DATA Portugal, explica que a solução passa pelo desenvolvimento de experiências omnicanal, “que permita uma visão e gestão transversal da posição do cliente junto ao Banco, com uma interação pensada para manter a integridade e interoperabilidade entre os diferentes canais”. E os bancos têm conferido cada vez maior atenção à criação de canais de comunicação direta entre clientes empresariais e a instituição bancária.
Em Portugal, “a área de ‘corporate banking’ tem sido uma das mais trabalhadas ao longo dos últimos anos”, frisando a sua importância para os resultados das instituições bancárias. Esse desenvolvimento coloca o mercado português em linha com o que se observa na Europa, “embora se reconheça que existe ainda um caminho a percorrer, sobretudo pela pressão exercida por novas plataformas com respostas inovadoras que se oferecem como uma alternativa efetiva”, admite a responsável.
Dados do ‘Statista’ mostram que, em 2021, cerca de 2 mil milhões de pessoas em todo o mundo utilizaram serviços bancários online, e as previsões apontam para crescimentos sucessivos ao longo dos próximos anos. Também números do ‘Business of Apps’ mostra que os “bancos digitais” estão a ganhar cada vez mais seguidores. Por exemplo, a Revolut registou em 2021 15 milhões de utilizadores, um aumento de mais do dobre face aos 6 milhões de 2019. Pode verificar-se essa tendência ao nível das empresas?
Sónia Brito salienta que “os clientes-empresa são, tipicamente, mais avessos aos riscos percebidos de optarem por soluções disponibilizadas por bancos digitais”. No entanto, e como em tudo, há exceções, que não deixam de comprovar a regra. A maioria das empresas que adota serviços dos “bancos digitais” pertencem, por norma, aos setores das telecomunicações ou tecnologia, e encontra nessas novas instituições bancárias uma agilidade na qual se reveem.
Mas a tecnologia continua a desempenhar um papel central na relação entre bancos e empresas, além de tornarem possível um contacto permanente entre os dois lados. As soluções tecnológicas permitem também às empresas reforçar a sua competitividade, e isso exige que as várias plataformas possam interagir sem problemas. As empresas esperam que os serviços digitais disponibilizados pelos bancos possam comunicar sem percalços com os seus próprios programas internos, numa simbiose digital.
E com a tecnologia e a crescente digitalização surgem novas ameaças à segurança das pessoas e das empresas, e esses riscos assumem partilhar destaque quando o que está em jogo são informações e ativos financeiros.
“A segurança da informação, em especial no contexto empresarial, é uma preocupação constante das instituições”, sublinha Sónia Brito, acrescentando que se antes a proteção da informação poderia ser comprometida com o extravio de documentos físicos com informação confidencial, hoje o perigo reside na sofisticação cada vez maior do cibercrime.
A responsável afirma que as empresas têm olhado para a digitalização da informação e para a automatização dos processos como formas de minimizar o erro humano. No entanto, também o mundo digital está repleto de ameaças. “As instituições financeiras têm investido no desenvolvimento de mecanismos de autenticação forte e criação de firewals/soluções de partilha de informação mais robustas, assim como na utilização de inteligência artificial para deteção de situações de potencial risco/crime”, assegura, acrescentando que os bancos têm também investido na formação dos seus clientes em matéria de cibersegurança.
Sónia Brito sublinha que os bancos estão na posse de um conhecimento bastante amplo da realidade empresarial local, dos setores de atividade e dos mercados, do que de melhor se faz, e que isso lhes permite ajudar as empresas a otimizarem as suas cadeias de fornecimento. Desta forma, as entidades bancárias vão além do tradicional papel de meros “depósitos de dinheiro”, atuando, por exemplo, como potenciadores de uma gestão mais eficiente dos custos.
Num mundo em plena transformação, em que a proteção do ambiente é um denominador comum a múltiplos setores de atividade, também as empresas estão cada vez mais focadas na adoção de práticas que lhes permitam reduzir as suas “pegadas ecológicas” e estar em linha com as preocupações sociais contemporâneas. Nesse sentido, o setor empresarial tem procurado reforçar o seu posicionamento no campo dos princípios ESG (Environment, Social, Governance), como forma de tomar a dianteira das mudanças que são precisas implementar para salvaguardar a saúde do planeta e das suas populações.
Sónia Brito diz que “as instituições financeiras não são alheias a este tema”. Explica que “a ferramenta habitualmente mais utilizada é a criação de produtos bancários específicos, com pricing mais atrativo em função do cumprimento de objetivos ESG”. Adicionalmente, os bancos podem fornecer aos seus clientes empresariais informações, com base em indicadores de performance, que lhes permitem atingir as suas metas em matéria de ESG.
“O caminho no sentido da low carbon economy ainda está no início e o setor bancário está ainda num processo de alinhamento progressivo com os objetivos de uma economia que se pretende mais sustentável e verde”, destaca.