Como podem as empresas adaptar-se às alterações climáticas?
Assumindo a vontade de impulsionar o crescimento económico e sustentável. Uma boa estratégia pode transformar as ameaças climáticas em vantagens competitivas.
O aquecimento global tem estado na ordem do dia. Não só por provocar fenómenos meteorológicos cada vez mais excessivos e nefastos, mas principalmente porque, sendo verdade que pode estar na iminência de aumentar dois graus celsius a temperatura média, em relação aos níveis pré-industriais, teremos consequências dif íceis de calcular.
A exploração de recursos naturais no planeta e a capacidade deste em regenerar-se estão em crescente desproporção. Se esta tendência continuar, estima-se que em 2030 serão necessários dois planetas para gerar os recursos essenciais para a humanidade.
A desflorestação, as escassas reservas de água potável, a poluição e o efeito de estufa são parte do preço a pagar pelo consumo elevado dos recursos naturais, num ciclo vicioso que, só pode piorar, caso não sejam tomadas medidas urgentes.
O impacto provocado pelas alterações climáticas também tem colocado o sector empresarial cada vez mais sobre pressão. A instabilidade tem vindo a forçar as empresas a lidar com riscos novos e custos inesperados, que pressionam as margens de lucro e consequentemente, o crescimento e capacidade de investimento. Mas a crise ambiental pode ser transformada numa vantagem competitiva para as empresas e proporcionar novas oportunidades de negócio.
É claro que uma estratégia sustentável não passa apenas por tornar os produtos “mais verdes”. Não se pode continuar a pressupor que este investimento, além de elevado, não traz retorno a curto e longo-prazo. O caso da Unilever revela precisamente o contrário. A sustentabilidade, a inovação e o crescimento são absolutamente compatíveis. A principal ambição do nosso Plano de Sustentabilidade, lançado há cinco anos, para enfrentar as tendências ambientais e sociais que ameaçam a prosperidade do negócio, é duplicar o volume de vendas, ao mesmo tempo que reduz a pegada ambiental dos seus produtos (incluindo matérias-primas, consumo e logística) e aumenta o seu impacto social positivo.
A redução do impacto ambiental da Unilever permitiu simultaneamente reduzir custos de produção em mais de 400 milhões de euros, desde 2008. Cinco anos antes do previsto, a Unilever atingiu o nível zero de envio de resíduos não perigosos para aterro, em todas as fábricas, da sua rede global, cumprindo assim com uma das metas propostas no seu Plano. Só a eliminação de resíduos permitiu evitar o custo de 200 milhões de euros e criar centenas de postos de trabalho.
No entanto, este impacto também tem inevitavelmente de passar pela mudança de hábitos no consumo, já que cerca de 60% da emissão de gases de efeito de estufa (CO2), a nível mundial, provém de actividades domésticas diárias. Para ajudar os consumidores a adoptar medidas mais sustentáveis, tivemos de desenvolver novas tecnologias. Num exemplo recente, conseguimos, não só reduzir o tamanho das embalagens, como poupar um terço do consumo de água na utilização dos nossos produtos. Refiro-me por exemplo ao detergente líquido concentrado Skip.
Uma lavagem não mudará o mundo, mas se todas as pessoas fizerem pequenas mudanças nos seus hábitos do quotidiano, poderíamos economizar o consumo de mais de 33 milhões de litros de água e reduzir mais de 650 toneladas de CO2 por ano. Existe, por isso, uma miríade de exemplos que demonstram que é possível fazer crescer um negócio, enquanto se reduz o impacto ambiental e aumentam os benefícios sociais. E estas preocupações sobre o futuro encontram eco nos consumidores: as marcas com um propósito sustentável representaram, no ano passado, metade do crescimento da empresa e o dobro do crescimento das outras marcas.
Se as empresas, não apenas no nosso sector, mas em todos os outros, intensificarem os esforços, poderemos obter um impacto verdadeiramente significativo no ambiente. Ainda assim, não é suficiente. Os estados também têm de incentivar profundas mudanças no modelo económico, assentes em compromissos públicos e privados, conversões industriais, compensações financeiras e renúncia aos recursos disponíveis e mais rentáveis a curto prazo.
A política e o investimento desempenham um papel crucial para solucionar esta crise ambiental. O primeiro, porque transmite confiança, atrai investimento, cria emprego, apoia novas cadeias de abastecimento e reduz custos. Além disso, pode oferecer apoios que podem ser reinvestidos na agenda de descarbonização, criando um ciclo virtuoso de crescimento. O segundo, porque é igualmente importante que os investidores compreendam que a mudança para uma economia de produção de baixo carbono, além de possível, é inevitável.
De acordo com a Análise Stern, publicada pelo Governo do Reino Unido, a gestão do aquecimento global custaria cerca de 1% do PIB mundial por ano. A inacção poderá custar pelo menos 5% ou, na pior das hipóteses, ascender a 20% do PIB mundial. Se investíssemos uma pequena percentagem do PIB mundial total numa economia de baixas emissões de carbono, o combate às alterações climáticas poderia gerar prosperidade económica e garantir a segurança mundial.
É importante reconhecer que estamos a entrar num novo tipo de economia, em que os novos negócios e todos aqueles que forem capazes de pensar mais além irão inevitavelmente conseguir criar um novo panorama industrial, uma nova prosperidade e um futuro melhor. Porque apenas os que compreendam a importância de desenvolver um novo modelo de negócio, assente num crescimento sustentável, terão, a prazo, licença da sociedade para operar.