Como construir uma equipa que respire inovação?

Por Carlota Gouveia | Inodev

Segundo Tom Kelley, um dos fundadores da empresa de design de produtos IDEO, para criar uma inovação revolucionária é necessário integrar vários pontos de vista. O seu livro The Ten Faces of Innovation mostra como uma equipa central de pessoas diversas, que representam as várias faces da inovação, são capazes de expressar perspetivas diferentes e criar uma gama mais ampla de soluções inovadoras.

Não são necessárias, literalmente, dez pessoas diferentes para fazer parte da sua equipa de inovação. No entanto, Tom Kelley destaca dez personas essenciais para o processo na qual estão agrupadas em três categorias. Vamos ver quais são estas personas e como podem contribuir para o processo de inovação da sua empresa.

  1. As Personas Organizadoras

Estes são os indivíduos que fazem as coisas avançar dentro das organizações. Sabem como navegar em processos organizacionais complexos, pois têm a perfeita noção que até as melhores ideias competem com o tempo, foco e recursos.

  1. “The Hurdler”: Tem um talento especial para ultrapassar todos os obstáculos. É persistente, energético e está disposto a contornar as regras para que o projeto seja bem-sucedido. Os “hurdlers” fazem mais com menos, e sabem que nem sempre é necessário enfrentar um desafio de frente se for possível encontrar uma forma de o contornar.
  1. “The Collaborator”: Ajuda a reunir grupos ecléticos, servindo frequentemente de ponte na gestão da equipa.
  1. “The Director”: Não só ajuda a reunir uma equipa talentosa, como também estimula os seus talentos criativos. O seu principal objetivo é inspirar e dirigir os outros membros.

 

  1. As Personas de Aprendizagem

Estas personas recolhem novas fontes de informação e conhecimento sempre com o objetivo de desenvolver e melhorar produtos e soluções. São também conhecidos por serem curiosos, humildes, com mente aberta e focados no exterior.

  1. “The Anthropologist”: É um observador nato do comportamento humano o que lhe permite compreender todas as interações físicas e emocionais que as pessoas têm com produtos e serviços, sem qualquer tipo de julgamentos.
  1. “The Experimenter”: Tal como o nome indica, esta é a persona que constrói novas ideias sempre pelo processo de tentativa-erro. Está disposto a correr riscos e a cometer erros, a descartar os fracassos e a aproveitar os sucessos.
  1. “The Cross-Pollinator”: Explora outras indústrias e culturas e, em seguida, traduz essas descobertas e revelações para atender às necessidades da sua organização.

 

  1. As Personas da Construção

Este último grupo canaliza os conhecimentos das personas de aprendizagem e a vontade organizacional das personas organizadoras para criar inovação.

  1. “The Experience Architect”: É o criador de experiências autênticas e agradáveis para os clientes e colaboradores da sua organização. O seu principal objetivo é preparar o terreno para encontros positivos com a sua organização através de produtos, serviços e interações digitais distanciando-se dos processos comuns.
  1. “The Set Designer”: Cria o espaço físico e a cultura da organização para ajudar a sua equipa de inovação a fazer o seu trabalho da melhor maneira possível.
  1. “The Caregiver”: São a base da inovação humana, proporcionam um atendimento excecional ao cliente graças à sua empatia, antecipando e satisfazendo proactivamente as necessidades de quem os rodeia.
  1. “The Storyteller”: Os contadores de histórias criam narrativas convincentes para inspirar equipas internas e gerar consciência externa.

Segundo o autor, uma equipa que reúna um conjunto diversificado destas personas será certamente capaz de gerar valor e entregar soluções inovadoras de maneira iterativa. Se pensarmos na constituição de uma equipa de desenvolvimento de produtos esta é normalmente composta por um gestor de produto, um designer, talvez um data scientist e alguns engenheiros. Estas funções serão, provavelmente, desempenhadas por indivíduos que se aproximam das personas vistas anteriormente. Por exemplo, o designer de produto poderá gravitar em torno do “The Experimenter” e do “The Experience Architect”, o gestor de produtos em torno do “The Director” e do “The Storyteller”, entre outras hipóteses.

O importante é que cada organização seja capaz de reconhecer o valor que cada colaborador contribui para o processo de inovação. Estas personas funcionam como uma caixa de ferramentas – raramente precisamos de todas ao mesmo tempo, mas o conjunto perfeito é aquele em que todas são utilizadas frequentemente.

Certamente que, ao refletir sobre este texto e ao olhar para a sua equipa poderá reconhecer que lhe falta uma ou mais destas personas. Aqui ficam algumas sugestões:

  • Não se limite a confiar na hierarquia corporativa comum para promover a inovação na sua empresa.
  • Certifique-se de que exercita cada uma das diferentes personas ao longo do desenvolvimento do seu produto. Use vários “chapéus” e encoraje a sua equipa a fazer o mesmo, isto poderá permitir a criação de ideias verdadeiramente únicas.
  • Poderá também querer completar a sua equipa com as características em falta, para isso implemente um processo de recrutamento e seleção que fomente a descoberta destes indivíduos.
  • Ainda, a empresa deverá criar uma cultura de inovação que celebre a diversidade. Nesse sentido, é aconselhado que o grupo seja multidisciplinar para potenciar uma melhor troca de ideias.
  • A empresa deve também criar uma “cultura de experimentação” onde possam testar novas ideias de forma rápida e económica e aprender com os seus fracassos.
  • Por último, é importante que a inovação seja centrada no cliente. É essencial compreender as necessidades e os comportamentos dos clientes e conceber produtos e serviços que satisfaçam essas mesmas necessidades.

A teoria de Kelley é um recurso útil para qualquer indivíduo interessado em promover uma cultura de inovação na sua organização através da aposta em equipas multidisciplinares, mais flexíveis, resilientes e curiosas. Ao investir tempo, foco e recursos neste processo, a empresa pode aumentar a probabilidade de sucesso na criação de novos produtos e serviços para o mercado que está em constante mutação.

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