Comissária europeia faz soar alarmes sobre vistos concedidos a russos perante riscos de segurança. Em 2023 foram 450 mil

Ylva Johansson, comissária europeia para as Migrações e Assuntos Internos, manifestou preocupação com a política de vistos da União Europeia (UE) para cidadãos russos, destacando que em 2023 quase 450 mil russos visitaram o espaço europeu. A comissária, que deixará o cargo no final do mês, sugeriu que as orientações relativas à emissão de vistos podem necessitar de uma revisão.

Após a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia, a UE suspendeu o acordo de facilitação de vistos com Moscovo, resultando numa redução de 89% no número de vistos emitidos em comparação com 2019, antes da pandemia de COVID-19. Ainda assim, os números de 2023 mostram que 448.890 vistos foram atribuídos a cidadãos russos, um volume significativo para Johansson, que considera a situação preocupante no contexto da segurança europeia.

“Este não é o momento para ser brando em questões de segurança, arriscando comprometer a integridade do espaço Schengen”, afirmou Johansson em setembro, durante uma sessão no Parlamento Europeu e, agora, reforça o alarme lançado.

A preocupação centra-se em potenciais ameaças de sabotagem e espionagem, incluindo ataques incendiários, o envio de dispositivos explosivos e até uma alegada conspiração para assassinar o líder de uma empresa de defesa alemã.

Os países do espaço Schengen enfrentam divergências internas quanto à política de vistos. Em 2023, nações com grandes indústrias turísticas, como Itália, França, Espanha e Grécia, processaram mais de 80% dos pedidos de vistos de cidadãos russos, o que tem causado descontentamento entre os governos da Europa Central e de Leste, que defendem uma proibição total de vistos turísticos para russos desde 2022.

Johansson assegura que já iniciou uma revisão das diretrizes para vistos russos, embora a decisão final de implementar mudanças fique a cargo do seu sucessor, Magnus Brunner. A comissária apontou para “diferenças significativas” na forma como os Estados-membros aplicam as orientações e sugeriu que alterações podem ser necessárias.

“Esta situação justifica, talvez, uma revisão”, afirmou Johansson. “Mas será o meu sucessor a decidir, depois de finalizada a avaliação.”

O papel de Hungria no debate
A Hungria, sob a liderança do primeiro-ministro Viktor Orbán, tem sido alvo de críticas por alegadamente minar a segurança europeia. Em julho, Budapeste anunciou a extensão do seu esquema de cartões nacionais – que facilitam a residência para trabalhadores – a países como a Rússia e a Bielorrússia, permitindo acesso ao espaço Schengen.

Johansson reconheceu que a Hungria respondeu à maioria das questões da Comissão Europeia, mas alertou que, do ponto de vista político, a decisão envia “o sinal errado”.

A polémica intensificou-se após Orbán visitar Moscovo numa “missão de paz” autoproclamada, num momento em que a Hungria assumiu a presidência rotativa da UE, causando atritos com outros líderes europeus.

András László, membro do partido Fidesz de Orbán, acusou outros países da UE de hipocrisia devido aos vistos emitidos por França, Espanha e Grécia. Durante um debate no Parlamento Europeu em setembro, László questionou: “Sabem quantos debates este Parlamento realizou sobre isso? Zero.”

A questão dos vistos para cidadãos russos continua a ser um ponto de discórdia na política europeia, o que é reflexo as divisões internas do bloco face à guerra na Ucrânia e às implicações de segurança no espaço Schengen.