CEO da Randstad critica “diabolização do trabalho temporário” que “representa apenas 1,1% dos contratos em Portugal”

José Miguel Leonardo, CEO da Randstad, lembrou esta terça-feira, durante a 21.ª Conferência Executive Digest, que “com a pandemia, a globalização tornou o mundo mais pequeno. O local de trabalho deixou de ser motivo de escolha, a forma de trabalhar é diferente, o ritmo de trabalho é diferente, há novos desafios à liderança”.

“Ainda não podemos voltar a uma normalidade, mas mesmo depois quando tal for possível, as formas de trabalhar serão diferentes das que eram. Podemos capitalizar na aprendizagem já feita e aplicar já hoje o que queremos fazer no futuro. Não capitalizar é parvo, é preciso fazê-lo em prol da humanização das organizações”, sublinha José Miguel Leonardo.

Para o executivo, o primeiro desafio de Portugal são os salários baixos. “Não são baixos porque o patronato o queira, mas porque há uma certa inércia, seria diferente se houvesse maiores índices de confiança e se a premiação do trabalho pudesse ser mais audaz”.

José Miguel Leonardo explica que “o índice de aumento do salário mínimo tem sido bastante gradual, a questão, no entanto, é se esta subida é proporcional ao crescimento”.

“A evolução do salário mínimo cria efeitos colaterais perversos. Se no inicio ano 2000, entre 5% e 6% da franja tinha esta remuneração, hoje esta percentagem está cima dos 20%. Um em cada 20 ganha salário mínimo, isto passa a ser o normal, quando mínimo não é o melhor que podemos fazer”, adverte o executivo.

Além disso, o CEO da recrutadora lembra que “a remuneração média tem vindo a crescer a um ritmo inferior, provocando um achatamento dos salários. O salário base cresceu 10%, já o salário mínimo 40%, ou seja estamos a guiar-nos pelo salário mínimo”.

José Miguel Leonardo deu o exemplo de um trabalhador que ganha cinco mil euros de ordenado, com prémio mil euros: ao empregador esta remuneração custa 1.237 euros, já o trabalhador perde 837 euros que “vão para o Estado”.

“Isto leva à “criatividade remuneratória manhosa”, criando situações que não deveriam ser, e quando não é assim, as empresas saem prejudicadas e depois não serve nem ao trabalhador, nem ao Estado, até porque com esta criatividade o aforro para segurança social não cresce”, adverte.

Para o CEO, o “Governo deveria rever premiações. Se não podemos mexer nos salários base, mas que pelo menos nas premiações seja menos ávido nos contributos fiscais extraordinários.”

O executivo sublinha ainda que  “o trabalho temporário é diabolizado. Em Portugal, o trabalho temporário representa apenas 1,1% dos contratos celebrados. Este não é o demónio. Está-se e condenar flexibilidade, dizendo que é “flexibilidade” que ninguém quer.

Por fim é preciso, para José Miguel Leonardo, sublinhar a questão das competência, “Portugal tem de caminhar muito pela literacia digital, o facto de sermos um país mais velho não é razão de escusa. Há trabalhos que com a digitalização vão desaparecer em 2025, é preciso reconverter as pessoas”, frisa.

Questionado pelos leitores da Executive Digest se se já sente em Portugal a tendência de “great resignation”, isto é, a saída voluntária das pessoas das empresas, o CEO afirma que “não temos evidências de que isso já chegou, pela própria amostragem e pela dificuldade de recrutamento que tem acelerado creio que não”.

“Este ano, no segundo e terceiro trimestre houve mais de 20 milhões de demissões nos EUA – um terço sem ter outro trabalho na manga – mais do dobro do que era verificado antes da pandemia, e isto é um problema, tendo em conta as dificuldades de recrutamento”, alerta.

Decorre hoje, no Museu do Oriente em Lisboa, a 21.ª Conferência Executive Digest com o tema “Desafios e Oportunidades – na Economia Pós-Covid”. Neste evento, 12 presidentes, CEO e gestores estão a subir ao palco para traçar possíveis caminhos para o futuro dos negócios e da economia em Portugal.

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