Brilho ‘elétrico’ de folhas de plantas durante tempestades pode alterar qualidade do ar

Quando um relâmpago brilha nos céus, as plantas no solo respondem na mesma moeda. É do conhecimento dos cientistas, há muito tempo, que as plantas e árvores podem emitir pequenas descargas elétricas visíveis das pontas das suas folhas quando as plantas ficam presas sob os campos elétricos gerados pelas tempestades. Essas descargas, conhecidas como coroas, são visíveis às vezes como fracas faíscas azuis que brilham ao redor de objetos carregados.

Agora, um novo estudo sugeriu que essas faíscas à base de plantas podem estar a alterar a qualidade do ar de forma desconhecida. Mas ainda não está claro se os impactos desses minichoques na atmosfera são positivos ou negativos.

Num estudo, publicado pelo ‘Journal of Geophysical Research’, os investigadores recriaram os campos elétricos das tempestades em laboratório e analisaram as coroas emitidas por oito espécies de plantas sob várias condições – os resultados mostraram que todas as coroas criaram uma grande abundância de radicais – produtos químicos que contêm elétrons desemparelhados que são altamente reativos com outros compostos – que podem alterar significativamente a qualidade do ar circundante.

“Embora pouco se saiba sobre a extensão dessas descargas, estimamos que as coroas geradas em árvores sob tempestades podem ter impactos substanciais no ar ao redor”, disse a principal autora do estudo, Jena Jenkins, cientista atmosférico da Penn State University, dos Estados Unidos.

Os dois radicais libertados pelas coroas das plantas são hidroxila (OH) e hidroperoxila (HO2), ambos carregados negativamente e conhecidos por oxidar ou roubar elétrons de vários compostos químicos diferentes, transformando-os noutras moléculas. “O radical hidroxila contribui para a oxidação atmosférica total de muitos poluentes atmosféricos”, explicou o coautor do estudo William Brune, meteorologista da Penn State University.

Ou seja, se um radical hidroxila reage com gases de efeito estufa, pode remover as moléculas prejudiciais da atmosfera e ajudar a combater as mudanças climáticas, frisou Brune. Mas se o mesmo radical reage com o oxigénio, pode criar ozónio, que, apesar de desempenhar um papel importante na alta atmosfera, é tóxico para os seres humanos. Os radicais também podem criar partículas de aerossol que prejudicam a qualidade do ar, acrescentou.

“Mesmo que a carga gerada pela coroa [da planta] fosse mais fraca do que as faíscas e os raios que vimos antes, ainda vimos quantidades extremas desse radical hidroxila a ser produzido”, reconheceu Jenkins. Considerando o grande número de árvores presentes em áreas propensas a tempestades, as coroas produzidas pelas plantas podem representar uma fonte de radicais pouco estudada com um efeito altamente imprevisível na qualidade do ar, acrescentou. “Existem cerca de 2.000 mil milhões de árvores em áreas onde as tempestades são mais prováveis ​​de ocorrer globalmente e há 1.800 tempestades a acontecer a qualquer momentos”, disse Jenkins.

“O radical hidroxila é o limpador mais importante da atmosfera”, disse Jenkins. “Então, ter uma melhor contabilidade de onde essas coisas estão a ser feitas pode-nos dar uma compreensão mais completa do que está a acontecer na atmosfera.”

Ler Mais