Brexit: Seis anos depois do referendo que retirou o Reino Unido da UE, seis problemas continuam por resolver
Dos setores agrícola e das pescas aos transportes e às telecomunicações, a saída do Reino Unido da União Europeia parece ter trazido mais problemas do que soluções, e as autoridades de Londres ainda não conseguiram dar uma resposta concreta a dificuldades que se acumulam.
A saída do mercado comum europeu e a recuperação das fronteiras entre a ilha britânica e o continente levantaram obstáculos à livre circulação de trabalhadores sazonais, uma importante parte do setor agrícola do Reino Unido.
De acordo com o ‘The Independent’, os britânicos não se têm mostrado dispostos a trabalhar nas quintas no país, o que fez com que milhares de toneladas de produtos agrícolas apodrecessem este ano nos campos do Reino Unido.
O governo de Boris Johnson tem lançado iniciativas para tentar atrair britânicos para as campanhas agrícolas, mas não tem tido grande sucesso, levando alguns agricultores no país a cortarem nas plantações, com receios de que não tenham capacidade para apanhar o que plantaram. Os empresários do setor dizem que se Londres não tomar medidas urgentes, a situação deverá piorar este ano, e pedem que seja facilitada a entrada de mais 50 mil trabalhadores estrangeiros.
No campo financeiro, o Reino Unido enfrenta uma inflação crescente, estimada nos 9,1%, com alguns analistas a apontarem o Brexit como um fator que impulsiona esse fenómeno, uma trajetória de crescimento que não deverá esmorecer nos próximos anos.
Citado pelo jornal britânico, o analista Vasileios Gkionakis, do Citigroup, diz que “a inflação no Reino Unido será intensa no médio e longo prazo devido ao Brexit”.
Também no setor das pescas a saída da UE, deixou o Reino Unido com um problema nas mãos. Os constrangimentos burocráticos impostos pelo Brexit já levaram a que algumas empresas tivessem que fechar portas devido aos custos cada vez mais elevados.
Ao nível das exportações de marisco, os empresários sentem-se assoberbados com a carga burocrática e novas exigências, fazendo com que várias cargas possam ficar estragadas devido aos longos períodos de espera para obterem aprovação de exportação.
Boris Johnson diz que a culpa é dos exportadores, que não preencheram os formulários corretamente. Em respostas, alguns empresários exportadores descrevem o Brexit como uma “traição” que não fez jus às promessas feitas.
Nos aeroportos, Londres tem também estado a braços com sérias dificuldades, com as operadoras aéreas a alertaram para a falta de recursos humanos. Michael O’Leary, o mediático responsável pela empresa de viagens de baixo custo Ryanair, diz que o caos nos aeroportos se deve “completamente ao Brexit”.
Outros líderes do setor dos transportes aéreos dizem que a saída da UE retirou do mercado milhões de profissionais, embora o governo já tenha assegurado que os trabalhadores de países do bloco europeu que trabalhavam nas companhias aéreas britânicas antes do Brexit podem manter os seus postos de trabalho.
Já nos transportes de mercadorias por terra, o Reino Unido tem observado constrangimentos na travessia da fronteira com a União Europeia e a escassez de condutores, tendo o governo britânico implementado um sistema extraordinário de emissão de vistos para os condutores de veículos pesados de mercadorias.
O Brexit veio tornar mais difícil para os condutores trabalharem no Reino Unido e os obstáculos burocráticos alfandegários têm também atuado como fatores que complicam as travessias transfronteiriças.
Por fim, no campo das telecomunicações, a saída do Reino Unido do mercado comum europeu fez regressar as taxas de roaming à ilha britânica, depois de terem sido abolidas na UE em 2017. Por isso, quem viajar para o Reino Unido devem contar com custos acrescidos quando usar o telemóvel nesse país.