Brexit: Reino Unido já tem planos para quebrar o acordo, caso UE não ceda a exigências sobre Irlanda do Norte
O governo de Boris Johnson vai apresentar esta terça-feira, dia 17 de maio, os seus planos para modificar o acordo de saída do Reino Unido da União Europeia, depois de Bruxelas ter já alertado que Londres deve cumprir o que foi acordado em 2019.
No centro da posição divergente do Reino Unido está o Protocolo sobre a Irlanda do Norte e a manutenção das relações comerciais, livres de obstáculos aduaneiros, entre esse país e a República da Irlanda. Apesar de o acordo do Brexit prever que as relações entre as duas Irlandas se mantenha fluída e sem barreiras, Downing Street considera que não estão acautelados os interesses das partes envolvidas, e que o Acordo de Belfast deve tomar precedência sobre o acordo do Brexit.
Avança a ‘Bloomberg’ que Boris Johnson anunciou na segunda-feira que o Reino Unido está preparado para alterar unilateralmente o acordo do Brexit, mas a União Europeia já disse que o acordo não pode ser alterado e que Londres deve honrar o compromisso assumido. O Reino Unido aponta que o acordo do Brexit, apesar de não ter recuperado a fronteira física entre as duas Irlandas, criou uma fronteira aduaneira que divide a Irlanda do Norte do resto do país, e que está a causar perturbações nos fluxos comerciais e a afetar a estabilidade na região irlandesa.
O Protocolo sobre a Irlanda do Norte pressupõe que é nesse país que devem ser feitos os controlos dos produtos que provenham do restante Reino Unido para assegurar que estão de acordo com as regras do mercado único europeu, ao invés de ser feito na fronteira entre as duas Irlandas, criando uma divisão entre a Irlanda do Norte e o Reino Unido. Os opositores desse protocolo, entre eles o partido conversador britânico, liderado por Johnson, e o partido dos unionistas na Irlanda do Norte, argumentam que o modelo atual coloca a Irlanda do Norte mais próxima do mercado único europeu do que do Reino Unido, do qual faz parte.
É avançado que não se espera que os planos que serão apresentados pela ministra dos Negócios Estrangeiros britânica, Liz Truss, produzam efeitos imediatos, mas não deixam de ser mais um sinal do endurecimento da postura do Reino Unido, que está a braços com uma inflação crescente. Ainda esta terça-feira, o Governador do Banco de Inglaterra, Andrew Bailey, reconheceu que não há muito a fazer para impedir que a inflação atinja os 10% já este ano, de acordo com o ‘Today UK News’.
As propostas britânicas de alteração ao acordo do Brexit podem passar pela colocação da gestão da fronteira aduaneira entre as duas Irlandas sob a alçada de Londres, ao invés de estar nas mãos das autoridades europeias, e conceder ao governo de Londres liberdade para modificar o regime de tributação na região irlandesa.
No passado dia 5 de maio, o partido Sinn Féin, favorável ao Protocolo sobre a Irlanda do Norte constante do acordo do Brexit, conseguiu maioria nas eleições legislativas. Do outro lado da barricada, surge o Partido Unionista, que apoiou a saída do Reino Unido da União Europeia, que se opõe a esse protocolo. A falta de consenso gerou instabilidade no seio legislativo no país, cujas instituições estão paralisadas pela divisão.