Brasil, Bósnia, Bulgária e Letónia foram a votos este fim de semana: quatro eleições, quatro destinos

Foi o fim de semana de todas as decisões em quatro países: Brasil, Bósnia Herzegovina, Letónia e Bulgária tiveram eleições, com os cidadãos chamados às urnas para exercer o seu direito de voto.

Em cada um destes países, a realidade política é distinta, assim como o funcionamento do próprio aparelho político, bem como, naturalmente, os resultados apurados após o ato eleitoral.

Brasil
Do outro lado do Atlântico, a quarta maior democracia do mundo, pintada de verde e amarelo, apresentou-se nas urnas de voto profundamente dividida entre uma direita fiel ao atual presidente, Jair Bolsonaro, e uma esquerda que anseia voltar a ter Lula da Silva, antigo presidente do Brasil, aos comandos do país.

Bolsonaro, há quatro anos no poder, enfrentou uma avalanche de críticas, principalmente pela forma como geriu a crise sanitária da Covid-19 no Brasil, à qual chamou “uma gripezinha”, sendo apontado como culpado pelas mais de 685 mil mortes registadas devido à pandemia no país. Ao mesmo tempo, foi arrasado por aliviar as medidas de proteção ambiental para a floresta amazónica, bem como as normas para enfrentar a crise ambiental global.

 

Já Lula da Silva, que teve taxas recorde de aprovação dos eleitores enquanto cumpriu mandatos na presidência, entre 2003 e 2010, acabou, já após deixar o cargo, condenado e preso por corrupção e branqueamento de capitais, tendo visto depois a sentença ser-lhe anulada.

As projeções e sondagens apontavam para uma vitória de Lula da Silva, à frente do opositor por entre 10 a 15%, mas os resultados vieram surpreender: Lula da Silva conquistou 48.4% do eleitorado, seguido de muito perto por Bolsonaro, que conseguiu 43,35% dos votos. Como nenhum dos candidatos teve maioria absoluta, os dois vão defrontar-se numa segunda volta, marcada para 30 de outubro.

 

Bósnia Herzegovina
Naquele que é considerado um dos sistemas de votação mais complexos, as eleições na Bósnia Herzegovina deste domingo disseram respeito à presidência do país, assim como para o governo nacional e governos regionais.

Desde o fim da guerra, que devastou o país entre 1992 e 1995, que é assegurada representação política para os três principais grupos étnicos: os bósnios, os sérvios e os croatas. Nas eleições do passado domingo, o contexto nacional de quebra no crescimento económico, falta de emprego e polémicas com a corrupção do atual governo marcaram o sufrágio.

Os candidatos basearam-se em propostas nacionalistas, com promessas para cada um dos grupos étnicos que representam. Alguns reformistas propuseram novas leis para a economia do país, perante uma inflação galopante e um aumento exponencial do custo de vida.

Os primeiros resultados apurados dão vitória aos candidatos de centro-esquerda, com promessas de combate à corrupção. Fica assim garantido que ocupam lugares na presidência tripartida da Bósnia Herzegovina.

Denis Becirovic, dos bósnios, e Zeljko Komsic, dos croatas, estavam alinhados para conquistarem lugares na respetiva representação. Deverão, no entanto, ser ‘acompanhados’ pela surpresa na noite eleitoral: Zeljka Cvijanovic, candidata sérvia pró-russa. Os partidos nacionalistas dos três grupos étnicos deverão dominar maioritariamente no governo nacional e nos governos regionais, quando já estavam contados mais de 70% dos votos.

Bulgária
Os búlgaros foram chamados às urnas para a quarta eleição legislativa em menos de dois anos. O crescimento dos preços da energia foi um dos grandes temas da campanha, já que o país viu o fornecimento de gás cortado pela Rússia, após ter recusado pagar em rublos, no seguimento do conflito e da invasão da Ucrânia pelo exército russo. A par da atual crise económica, também a corrupção instalada foi uma das bandeiras de campanha dos partidos da oposição.

O partido de centro-direita GERB, apontado como culpado pela corrupção na Bulgária nos últimos anos, venceu as eleições para o parlamento, segundo os resultados provisórios, quando já estavam contados 99% dos boletins de voto.

O GERB, liderado pelo antigo primeiro-ministro Boyko Borissov conseguiu 25,4% dos votos, seguido pelo partido de centro anticorrupção Continuamos a Mudança (PP), que conseguiu 20,2% dos eleitores.

Perante estes resultados, o país espera agora pelas negociações entre os dois partidos, para que surja um governo de coligação, após o último ter colapsado em junho.

 

Letónia
Com fronteira partilhada com a Rússia, a guerra na Ucrânia foi um dos temas-chave que marcou a campanha para as eleições legislativas na Letónia, no passado sábado.

Questões de segurança nacional e a divisão cada vez maior entre uma minoria da população que fala russo, incluindo uma lei que propunha limitar o uso da língua no espaço público e em ambiente profissional, dominaram os debates que antecederam a escolha dos lugares a ocupar no parlamento letão. Previa-se uma vitória do partido do primeiro-ministro Krisjanis Karins, critico de Putin e líder do partido de centro-direita Nova União, com mais outros 18 partidos a competirem para conquistar os 5% de votos necessários para garantirem representação parlamentar.

Com efeito, o Nova União venceu as eleições com 19% dos votos, pondo Karins a jeito de liderar novo governo de coligação. Os resultados significam que a Letónia mantém-se, assim, como uma das vozes dos Balcãs decisiva em influenciar as tomadas de posição da União Europeia, no que diz respeito ao ‘travão’ a uma Rússia que não dá mostrar de querer terminar com a guerra na Ucrânia.

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