“Bomba populacional” prevista para meados do século XXI pode não explodir, como se receia

A população mundial vai atingir 8,8 mil milhões de pessoas antes de meados do século, mas de seguida diminuirá para cerca de sete mil milhões em 2100, estimativa feita com base nas tendências atuais.

Assim, a “bomba populacional” que se temia pode nunca acontecer, de acordo com o novo relatório da Earth4All, divulgado esta segunda-feira, onde é referido que os números da população vão atingir um pico mais baixo e mais cedo do que o previsto anteriormente.

A altura em que o valor mais alto será contabilizado dependente das medidas progressivas tomadas pelos diferentes governos para aumentar os rendimentos médios e os níveis de educação, segundo a previsão feita pelos investigadores.

Vantagens para o ambiente

Uma vez ultrapassada a expansão demográfica, a pressão sobre a natureza e o clima vai começar a diminuir, juntamente com as tensões sociais e políticas associadas. Contudo, a queda da taxa de natalidade não resolve os problemas ambientais do planeta, principalmente causados pelo consumo excessivo de uma minoria rica, advertiram os autores do estudo.

Populações em declínio podem também criar novos problemas, tais como uma diminuição da mão-de-obra e uma maior afluência nos cuidados de saúde, provocada por uma sociedade em envelhecimento, tal como está a acontecer no Japão e na Coreia do Sul, por exemplo.

Ainda que as conclusões sejam motivo de otimismo, existe uma contrapartida. “Isto prova que a bomba populacional não vai explodir, mas ainda enfrentamos desafios significativos do ponto de vista ambiental”, explicou um dos autores do relatório, Ben Callegari, ao salientar que “precisamos de muito esforço para enfrentar o atual paradigma de desenvolvimento de sobreconsumo e sobreprodução, que são problemas maiores do que a população”.

Dois possíveis cenários

No ano passado, a Organização das Nações Unidas (ONU) estimou que a população mundial atingiria 9,7 mil milhões em meados do século e continuaria a aumentar durante várias décadas depois. No entanto, este relatório que incluiu fatores sociais e económicos com um impacto comprovado na taxa de natalidade – tais como o aumento dos níveis de educação, particularmente para as mulheres, e a melhoria dos rendimentos -, apresenta duas possibilidades.

Caso as tendências atuais se mantenham, será possível limitar o crescimento da população mundial até nove milhões de pessoas em 2046, acreditando-se que irá depois diminuir para 7,3 mil milhões em 2100. “Embora este cenário não resulte num colapso ecológico ou total do clima, a probabilidade de colapso da sociedade regional aumenta ao longo das décadas até 2050″, revelaram os investigadores ao alertar que “o risco é particularmente agudo nas economias mais vulneráveis, mal governadas e ecologicamente vulneráveis”.

No segunda hipótese, mais positiva – com os governos de todo o mundo a aumentar os impostos sobre a população com mais posses monetárias para investir na educação, nos serviços sociais e na melhoria da igualdade – prevê-se que os números cheguem até 8,5 mil milhões em 2040, registando-se posteriormente uma queda para um terço, ou seja, cerca de seis mil milhões em 2100. Esta possibilidade inclui ganhos consideráveis até meados do século tanto para a sociedade como para o meio ambiente.

“Até 2050, as emissões de gases com efeito de estufa são cerca de 90% inferiores ao que eram em 2020 e continuam a diminuir. As restantes emissões atmosféricas de gases com efeito de estufa provenientes de processos industriais são cada vez menores devido à captura e armazenamento de carbono”, pode ler-se no documento que destaca: “À medida que o século avança, mais carbono é capturado do que armazenado, mantendo a temperatura global abaixo dos 2ºC acima dos níveis pré-industriais. A vida selvagem está gradualmente a recuperar e a começar a prosperar novamente em muitos locais”.

Esta pesquisa foi realizada por uma das principais instituições económicas e de ciência ambiental, Earth4All, incluindo o Potsdam Institute for Climate Impact Research, o Stockholm Resilience Center e a BI Norwegian Business School, tendo sido encomendada pelo Club of Rome de forma a dar seguimento ao projeto com mais de 50 anos ‘Limits to Growth’.

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