As pessoas mais criativas no mundo dos negócios
Todos os anos, a fast company elabora o ranking. Há gestores, criativos, designers ou, mesmo, activistas. A executive digest partilha o top 10. Alguns já com notoriedade em portugal. outros, que vale a pena observar e acompanhar
Jaclyn corin, Emma gonzález, David hogg, Cameron kasky e Alex wind
Co-fundadores da March for our lives
Cameron Kasky relembra a estranha compreensão que atingiu os miúdos agrupados numa sala da Marjory Stoneman Douglas High School onde ele e o irmão mais novo, Holden, se esconderam de um antigo aluno de 19 anos armado com uma AR-15. «Lembro-me de ver muitas pessoas que já não estavam confusas», afirma Cameron Kasky. Ao fim de tantos anos de simulações, estava realmente a acontecer.
Desde esse dia de Fevereiro em Parkland, Flórida, quando 14 alunos e três funcionários foram mortos, Cameron Kasky e os colegas de turma Emma González, David Hogg, Jaclyn Corin e Alex Wind dedicaram-se a impedi-lo de acontecer a outras pessoas. Na semana seguinte, os cinco adolescentes ajudaram a liderar o que rapidamente se tornou o movimento #NeverAgain, um esforço de base que inspirou greves nacionais em escolas e outras alterações legislativas, e que levou mais de 1,2 milhões de pessoas, predominantemente jovens, para as ruas de Washington D.C. e de cidades de todo o país numa Marcha pelas Nossas Vidas na passada Primavera. Os alunos levaram a reacções no mundo dos negócios, impelindo retalhistas e bancos a apoiarem mais restrições à venda de armas. Visto que falam a linguagem das redes sociais desde pequenos, sabiam melhor do que qualquer marca ou agência de comunicação como criar um fenómeno viral eficaz, mobilizando as massas no Twitter e aproveitando a cobertura da imprensa. «Como jovens, somos bons a fazer barulho e a chamar a atenção. Ninguém pode continuar a ignorar este problema», afirma Emma González.
O quinteto – juntamente com quase duas dúzias dos seus colegas de turma – conseguiram mais pela causa do que qualquer outra campanha levada a cabo após um tiroteio em massa. «Criámos uma das maiores marchas na história dos EUA em cinco semanas porque conseguimos coordenar, comunicar e fazer as coisas mais depressa do que outras pessoas antes», afirma David Hogg.
Antigo director de notícias da estação televisiva da escola, David Hogg, de 18 anos, tornou-se o político e estratega do grupo, perito em influenciar a opinião pública nas redes sociais. Emma González, de 18 anos, que leu o seu incrível discurso “We call BS” no rescaldo do tiroteio e criou um momento icónico em palco na marca em D.C. quando parou para uns surpreendentes quatro minutos e 27 segundos de silêncio (fazendo com que o seu discurso tivesse a mesma duração do tiroteio), serve de defensora pública.
Cameron Kasky, 17 anos, trabalha principalmente nos bastidores, desenvolvendo as mensagens que eles e a rede parceira usam nas redes sociais.
Alex Wind, de 17 anos, coordena as campanhas com alunos e organizações noutros estados e cidades. Jaclyn Corin é porta-voz pública e trata do planeamento: uma semana após o tiroteio, a aluna de 17 anos organizou uma viagem para 100 dos seus colegas até ao capitólio da Flórida, em Tallahassee, para apelar às restrições na aquisição de armas.
Apesar destes esforços, o Congresso ainda não atendeu a nenhum dos pedidos básicos, incluindo verificação de antecedentes e o fim da venda de espingardas de assalto e cartuchos de alta capacidade. Enquanto estavam em Tallahassee, o grupo encontrou-se com Jared Moskowitz, representante do estado, que acabou por pressionar os seus colegas a votar “sim” numa lei para aumentar a idade mínima da posse de arma para os 21 anos de idade e para impor um período de espera de três dias após a aquisição de armas. Explicou aos alunos como criar uma lei e os procedimentos «para que pudessem levar a experiência de Tallahassee a outros locais do país», diz Jared Moskowitz. Agora, à medida que a atenção dos media sobre o assunto se desvanece, o grupo entra na sua fase mais exigente – e importante: o que acontece a seguir.
Desde a marcha que Jaclyn Corin, Emma González, David Hogg, Cameron Kasky e Alex Wind lançaram várias iniciativas para estimular o ímpeto do movimento. Estão agora à frente da organização não lucrativa March for Our Lives, que emprega antigos colegas e serve como centro de operações. A organização apoiou o “Town Hall for Our Lives”, campanha que encoraja alunos de todo o país a criarem eventos de forma a fazerem pressão nos políticos locais sobre reformas nas leis das armas e criaram um conjunto de ferramentas online para alunos do secundário que queiram criar os seus próprios clubes. Este Verão, os cinco líderes irão viajar por todo o país para discursarem em eventos para jovens.
A força do movimento reside nos cerca de quatro milhões de norte-americanos que farão 18 anos este ano e em conseguir influenciar as eleições intercalares. Os jovens «têm potencial para serem o maior bloco de votantes em Novembro», afirma Jen Tolentino, directora de Tecnologias Cívicas e Políticas para a organização não lucrativa Rock the Vote, responsável pelos formulários de registo online e os códigos texto-to-vote para o March for Our Lives. A Rock the Vote declara que tem registado mais jovens através do March for Our Lives do que através de muitos outros parceiros.
As empresas privadas estão a tomar nota. Após o anúncio do March for Our Lives, os executivos começaram a entrar em contacto. A Lyft doou boleias gratuitas para marchas em 50 cidades; a Delta Air Lines ofereceu voos para alunos da escola e respectivas famílias irem ao evento de D.C. O Bank of America parou de conceder crédito a alguns fabricantes de espingardas de assalto, e o Citigroup proibiu os retalhistas que usam os seus serviços financeiros de venderem armas a menores de 21 anos ou a quem não passou por uma verificação de antecedentes. E tanto a Walmart como a Dick’s Sporting Goods aumentou o limite de idade para a compra de armas de 18 para 21 anos. «Nós ouvimos-vos. A nação ouviu-vos», escreveu Edward Stack, CEO da Dick’s.
Os alunos começaram a envolver empresas e consumidores de formas novas e mais pró-activas. Quando Laura Ingraham, apresentadora da Fox News, ridicularizou David Hogg num tweet, no final de Março, ele apresentou uma lista dos patrocinadores dela a cerca dos seus cerca de 800 mil seguidores. Ao fim de dias, mais de 20 dos patrocinadores do seu programa – incluindo Nestlé, IBM e Hulu – haviam retirado o patrocínio. A lógica de David Hogg é simples: «Se alguém está a fazer algo estúpido apenas por dinheiro», afirmou sobre a forma como Laura Ingraham o criticou para apelar à sua base de fãs, «basta seguir o dinheiro».
Em Abril, lançou outro boicote, desta vez às gigantes de investimentos BlackRock e Vanguard para protestarem contra os seus investimentos em fabricantes de armas. Isto mesmo depois de a BlackRock – que detém mais de cinco biliões de euros em bens – ter criado dois fundos anti-armas como resposta. Os fundadores de March for Our Lives têm noção de que a sua proeminência e impacto se deve, em grande parte, ao facto de serem brancos e com dinheiro. E responderam procurando uma vasta gama de aliados. Falam frequentemente com Michael Skolnik, que gere uma consultora de impacto social chamada Soze Agency e tem assento no conselho de administração da Trayvon Martin Foundation. E contactaram os Peace Warriors de Chicago, um grupo de alunos negros que combate a violência com armas nos seus bairros, e os Dream Defenders, uma organização da Flórida criada após o homicídio de Trayvon Martin em Sanford, na Flórida. «Sentimos uma nova inspiração na possibilidade de um movimento que atravesse classes e raças», explica a co-directora Rachel Gilmer. «Este movimento é maior do que os miúdos de Parkland que vemos na televisão.»
Ao expandir o debate sobre a segurança e as armas para lá dos seus silos anteriores, os fundadores da March for Our Lives estão a certificar-se de que a causa não vive – ou morre – com eles. Foi por isso que cederam o palco na marcha a oradores como Naomi Wadler, a menina de 11 anos que chamou a atenção para o número desproporcional de negras vítimas de violência com armas, e Edna Chavez, de 17 anos, que disse à multidão como aprendeu, em tenra idade, a desviar-se das balas no sul de Los Angeles. «Foi o privilégio que nos colocou na ribalta», afirma Cameron Kasky. «Temos uma oportunidade, uma plataforma e estamos a dedicar-nos a usá-la para todos os que são afectados pela violência com armas.» Nos EUA, isso engloba um número de votantes crescente – e corajoso.
Franz von holzhausen
Chief designer Tesla
Quando Franz von Holzhausen se juntou à Tesla em 2008, a startup de carros eléctricos tinha tão pouca experiência no design de veículos que teve de subcontratar a maior parte do trabalho do seu Roadster original à fabricante de automóveis desportivos Lotus. Actualmente, a sua crescente linha de produtos reflecte o minimalismo cheio de estilo de Franz von Holzhausen, um veterano da GM, Mazda e Volkswagen. Para o Model 3, lançado em 2017 com um preço inicial de 30 mil euros, o designer ajudou a descobrir como baixar o preço (só existe um painel de controlo e os manípulos não são extensíveis) mantendo ao mesmo tempo o aspecto aerodinâmico e sóbrio característico da marca.
Para o último Roadster, que deve ser lançado em 2020 com o preço de 170 mil euros, Franz von Holzhausen livrou-se do tecto opaco do modelo de 2008 por um tecto de vidro leve e amovível que pode ser colocado no porta-bagagens. O Roadster deu ao designer a oportunidade de criar o famoso e descomprometido carro eléctrico que a Tesla não seria capaz de produzir há uma década, e os fãs já estão em pulgas. «Queremos mostrar que um veículo eléctrico pode ser melhor que tudo», afirma. «Não apenas melhor que um carro normal, mas melhor do que qualquer supercarro.»
Caryn seidman becker
Ceo e chairman Clear
Gosto de uma boa reviravolta», declara Caryn Seidman Becker, antiga gestora que conseguiu livrar da falência a empresa de identidade biométrica Clear, em 2010. Na altura, o enfoque da Clear nos viajantes apressados que queriam passar nas linhas de segurança parecia limitador, principalmente tendo em conta o programa PreCheck da TSA. Mas Caryn Seidman Becker tinha uma visão mais abrangente para a tecnologia, que usa scans à iris, impressões digitais e reconhecimento facial para verificar a identidade dos seus membros. Não só conseguiu restabelecer a Clear como líder em segurança nos aeroportos, com filas exclusivas em 24 hubs nos EUA como, através de uma parceria com a Delta Air Lines, usar a verificação biométrica para automatizar tudo, da recepção da bagagem ao processo de embarque, o que faz parte do seu plano para ofereceruma experiência totalmente integrada a viajantes.
Caryn Seidman Becker está também a levar a Clear para as arenas desportivas: 10 espaços, incluindo o Yankee Stadium e o Citi Field de Nova Iorque, o Coors Field de Denver e o AT&T Park de São Francisco, oferecem uma entrada simples aos membros da Clear, um grupo que cresceu 130% o ano passado, chegando a dois milhões. A empresa está a testar filas rápidas nos stands de cerveja dos estádios, que aproveitaria a biométrica para confirmar a idade dos fãs. Para Caryn Seidman Becker, este tipo de conveniência é apenas o ponto de partida: «Todos os edifícios estão a pensar na melhor forma de assegurar a segurança e ter ambientes abertos.»
Pam el
Vice-presidente executiva e chief marketing officer NBA
Algumas grandes associações desportivas mandam retirar imagens assim que os fãs as colocam nas redes sociais, mas a NBA não se queixa. Muito antes pelo contrário! Enquanto as outras vêm nisso uma violação dos direitos de transmissão, a NBA entende- -o como uma oportunidade.
«Temos de confiar nos fãs», declara Pam El, chief marketing officer.
Desde que chegou à NBA, há cerca de quatro anos, Pam El procurou desde logo começar a envolver os espectadores em todas as plataformas.
A partir de então, as produções originais da NBA “The Starters” e “The Warmup” passam no Twitter, e o “Outside the NBA” passa no Facebook. Todos nasceram, afirma Pam El, «do facto de os nossos fãs desejarem mais informações e contacto com a NBA».
Vangloriando-se de ter a maior pegada social de todas as ligas norte-americanas (combinados, os seguidores do Facebook/ Twitter ultrapassam os 60 milhões), a NBA viu as audiências televisivas subirem 8% esta temporada.
As inovações de Pam El ultrapassam mesmo o social: no passado mês de Maio, fechou um acordo com a Gatorade para mudar o nome da divisão de desenvolvimento de jogadores da NBA de Liga D para Liga G – foi, mesmo, a primeira vez que uma liga desportiva profissional norte-americana passou a receber o nome de um patrocinador. Os jogos da Liga G passam, claro, no Facebook Live e no Twitch.
Vishal shah
Director de produto Instagram Business
Nos dois anos desde que Vishal Shah lançou o Instagram Business, conjunto de ferramentas gratuito que permite às empresas usar a plataforma social como montra, inscreveram-se 25 milhões de negócios – metade dos quais nem sequer tem um website na aplicação. Isso significa que o Instagram é o seu ponto principal de publicidade e interacção com os clientes, explica Vishal Shah.
Criadas para oferecer uma forma de chegar aos clientes num ambiente móvel e amigo do utilizador, as ferramentas que Vishal Shah e a sua equipa desenvolveram deixam as empresas analisar informações sobre tráfego, partilhar imagens que se podem comprar e gerir uma publicidade direccionada no Stories. 200 milhões de utilizadores do Instagram visitam agora um perfil empresarial todos os dias; para eles, as contas empresariais parecem idênticas às dos amigos.
Anthony tan
Co-fundador e Ceo Grab
No último ano, a empresa de boleias do sudeste asiático Grab chegou aos 90 milhões de downloads e a 196 cidades, recebeu mais de 1,7 mil milhões de euros em investimentos e até avançou para a aquisição do negócio da Uber no sudeste asiático. Anthony Tan, o CEO da Grab, estimulou este crescimento ao conseguir com que a empresa passasse de uma simples aplicação a uma plataforma para tudo – desde a partilha de bicicletas e entrega de refeições a, mais recentemente, pagamentos móveis.
Anthony Tan começou por lançar a carteira móvel GrabPay em 2016 para possibilitar transacções entre clientes e motoristas sem contas bancárias tradicionais. Já no passado mês de Novembro, começou a integrar outros comerciantes, permitindo que os cinco milhões de utilizadores da GrabPay fizessem compras nas lojas e em restaurantes aderentes. Depois disso, seguiu-se uma nova parceria, desta feita com a Credit Saison da Suíça, a qual permitiu oferecer microcréditos e outros serviços à rede crescente de motoristas, passageiros e pequenos negócios da Grab.
Para Anthony Tan, tudo começa com uma simples pergunta: “Como é que nos podemos certificar que os utilizadores estão tão envolvidos que nem sequer querem largar a Grab?”