Apoio a um regime alternativo à democracia cresce em Portugal, aponta estudo: 47% escolheria “líder forte sem eleições”

A esmagadora maioria dos portugueses é defensor da democracia (87%) face a qualquer outro regime político, segundo revelou esta quinta-feira o jornal ‘Público’, que apresentou os resultados do estudo ‘50 anos de Democracia em Portugal: Aspirações e Práticas Democráticas – Continuidades de Mudanças Geracionais (ISCSP/CAPP)’.

“Podemos dizer que hoje coexiste a preferência pela democracia com as preferências por formas autocráticas de Governo”, indicou Conceição Pequito, uma das coordenadoras do estudo, realizado a 1.327 pessoas a nível nacional.

A alternativa à democracia mais desejada pelos portugueses seria “um Governo de especialistas” – para 70% dos inquiridos, essa seria uma opção muito boa ou boa para Portugal. Seria um Executivo de peritos em áreas técnicas em vez de um Parlamento eleito.

De forma não tão evidente surgiu a opção ter “um líder forte que não tenha de se preocupar nem com Parlamento nem com eleições”: em teoria, esta solução seria apoiada por 47% dos inquiridos. De acordo com os investigadores, o Governo de especialistas “nem por isso deixa de ser uma opção de governo antitética à democracia, uma vez que não tem em conta os valores democráticos da participação, transparência e responsabilidade pública”.

As duas “têm vindo a ganhar terreno em Portugal desde o resgate financeiro de 2011”, alertou Conceição Pequito. No entanto, a lealdade à democracia instalada depois da Revolução do 25 de Abril entre a população mais velha, dos 35 aos 64 anos (56%), dos 65 ou mais anos (32%) e nos que vivem em grandes vilas e cidades (67%) ou nos subúrbios (21%), de acordo com o estudo.

São “sobretudo os portugueses com idades compreendidas entre os 35 e 64 anos (58%), com o ensino básico (58%), desempregados (60%), com uma situação económica considerada razoável (43%) ou difícil (35%) e que vivem em grandes vilas ou cidades (69%), aqueles que consideram um ‘Governo de especialistas’ uma boa opção”, concluíram os investigadores.

Já o Governo com um líder forte encontra suporte entre os que posicionam de extrema-direita (27%) e no centro da decisão política (67%). Esta forma de Governo mais autocrática “pressupõe o enfraquecimento do poder legislativo e judicial, mas também o controlo governamental de outras entidades de fiscalização independentes, que são essenciais para a manutenção de um sistema de freios e contrapesos e para a proteção de direitos políticos e liberdades civis inerentes a um Estado liberal democrático”, explicaram os investigadores. É escolhida por quem nada se interessa por política (55%) e por quem não simpatiza com um partido em particular.

A maioria da amostra do estudo (96%) que tem entre 16 e 34 anos sustentou que a democracia é a melhor solução governativa para o país, mas a preferência por um Governo de “tecnocratas” revelou-se “muito significativa” (67,6%). “Mesmo a preferência por um governo de um líder forte não deixa de ser expressiva (46,1%)”, indicaram os investigadores.

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