“Armaram-se em vingadores”: PSP diz que já tinha feito detenções em zona de assaltos no Porto

A cidade do Porto tem sido palco de uma escalada preocupante de crimes de ódio, particularmente dirigidos contra a comunidade imigrante, levando as autoridades a intensificarem as medidas de segurança na área do Campo 24 de Agosto. Este aumento da violência foi sublinhado pelo recente ataque a 10 imigrantes na rua do Bonfim, onde a agressão foi acompanhada pela invasão da residência onde dormiam. No entanto, segundo revela a PSP os ataque recentes aconteceram já depois de as autoridades terem realizado detenções para “repor a tranquilidade”.

De acordo com fontes da Polícia de Segurança Pública (PSP) do Porto, citadas pelo Diário de Notícias, desde janeiro, 3 pessoas foram detidas por roubo, 4 por tráfico de droga e 15 por condução sem carta, numa zona que tem sido marcada por uma série de incidentes criminais. Esta resposta da PSP surge após denúncias de uma onda de assaltos e agressões no local, que têm gerado um clima de insegurança entre os residentes.

Apesar das operações policiais realizadas na zona, que resultaram na detenção de 22 indivíduos desde o início do ano, a sensação de insegurança persistiu entre os residentes, alimentada por relatos de “terror vivido naquela área com os estrangeiros”. Segundo fontes da PSP, continuaram a circular entre a população notícias alarmantes, o que contribuiu para a crescente tensão na área.

“Resolveram armar-se em vingadores”, resume fonte policial, sobre o episódio da agressão a 10 imigrantes no Bonfim.

Os eventos recentes destacaram não apenas a gravidade da situação, mas também a divisão na opinião pública. Enquanto algumas vozes se levantam em condenação da violência contra os estrangeiros, outras expressam apoio aos agressores. Nas redes sociais, comentários em apoio aos ataques foram vistos, ecoando sentimentos de xenofobia e racismo.

O grupo 1143, liderado pelo neonazi Mário Machado, apesar de distanciar-se publicamente da violência, foi associado a celebrações online dos ataques, nas redes sociais. Este fenómeno gerou um aumento na adesão ao grupo, levantando preocupações sobre o crescimento do extremismo e do ódio racial em Portugal.

Os dados oficiais confirmam essa tendência alarmante. Registaram-se 347 crimes de discriminação e incitamento ao ódio em 2023, um aumento de 38% em relação ao ano anterior, de acordo com a Polícia de Segurança Pública (PSP) e a Guarda Nacional Republicana (GNR). Estas estatísticas refletem a urgência de ações concretas para combater o racismo e a xenofobia no país.

Ativistas e organizações têm apelado a medidas mais firmes contra o racismo e a discriminação racial, incluindo a criminalização do racismo em Portugal. O ativismo online tem sido um catalisador significativo na disseminação de mensagens xenófobas e na radicalização de jovens, aumentando a pressão sobre as autoridades para enfrentar essa ameaça crescente.

Apesar dos desafios, a resposta das autoridades tem sido questionada. Manifestações xenófobas, como as organizadas pelo grupo 1143, continuam a ocorrer, destacando a necessidade de uma resposta mais robusta e eficaz por parte das autoridades para garantir a segurança e a coexistência pacífica de todas as comunidades.

Ministério Público abre três inquéritos para investigar ataques a imigrantes argelinos e marroquinos
O Ministério Público (MP) abriu três inquéritos para investigar os ataques contra imigrantes ocorridos na cidade do Porto na madrugada de sexta-feira, que já levaram à detenção de uma pessoa, informou esta segunda-feira a Procuradoria-Geral Regional do Porto (PGRP).

Num comunicado, divulgado na sua página na internet, a PGRP refere que foi determinada a instauração de três inquéritos, cada um deles por episódios distintos, e que correm termos no DIAP da Procuradoria da República do Porto.

Em causa estão os episódios de violência ocorridos na madrugada do dia 3 de maio praticados contra imigrantes, de nacionalidades argelina e marroquina, que, segundo a Procuradoria, são suscetíveis de integrar infrações criminais de natureza pública.

Na mesma nota a PGR dá conta de que num dos inquéritos foi detido em flagrante delito um dos alegados autores das agressões.

Segundo a Procuradoria, o suspeito, que está indiciado pela prática dos crimes de detenção de arma proibida e de ofensa à integridade física qualificada, foi sujeito a primeiro interrogatório judicial, no dia 03 de maio, tendo-lhe sido aplicada medida de coação privativa da liberdade”.

Esta segunda-feira, o executivo municipal do Porto, liderado pelo independente Rui Moreira, repudiou e classificou de racista o ataque a imigrantes, dizendo que a tolerância deve ser zero.

Os eleitos pelo Movimento “Rui Moreira: Aqui há Porto”, PSD, PS, CDU e BE condenaram veemente este ataque na reunião pública da câmara, frisando que o Porto é uma cidade “tolerante, aberta e de liberdade”.

Estas posições surgiram depois de, no início da reunião, o autarca ter dito que este ataque é “inaceitável e um crime de ódio que não pode ser relativizado a qualquer título”.

Na madrugada de sexta-feira, vários imigrantes foram agredidos em três locais distintos da cidade do Porto, sendo que pelo menos dois dos agredidos receberam assistência no Hospital de São João.

Num dos casos, o ataque deu-se na casa de 10 imigrantes, na Rua do Bonfim, que foi invadida por um grupo de 10 homens.

Na sequência das diversas agressões, seis homens foram identificados e um foi detido por posse de arma ilegal, tendo sido presente a tribunal e ficado em prisão preventiva.

*Com Lusa

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