A Europa sem fronteiras tem hoje mais muros do que nunca. As 7 ‘barreiras da vergonha’ levantadas na crise dos refugiados

A União Europeia, a mesma que promove o espaço Schengen, sem barreiras ou fronteiras a travarem a circulação de cidadãos, e se inspirou nas lições da II Guerra Mundial e na queda do Muro de Berlim, é hoje território que tem mais barreiras físicas a dividir os seus Estados-membros do que nunca. Em causa está a crise desencadeada pelo aumento exponencial de fluxos migratórios, a partir de África e Médio Oriente, que assoberbaram vários países europeus, e que se verifica desde 2015.

São várias as rotas: do Mediterrâneo Ocidental, Mediterrâneo Central, Mediterrâneo Oriental, África Ocidental, Fronteiras Orientais, Circular da Albânia à Grécia, Balcãs Ocidentais e Mar Negro.

Em 2014, o espaço Schengen contava com 315 quilómetros de muros e vedações nas fronteiras. Hoje existem um total de 19 estruturas desse tipo, num total de mais de 2 mil quilómetros de extensão. São os ‘muros da vergonha’ com cada vez sistemas mais avançados de deteção de movimentos, câmaras, drones e torres de vigilância.

As barreiras não dividem apenas quem quer passar a fronteira: dividem países internamente, com impacto também para a economia, ambiente e populações fronteiriças, efeitos que muitas vezes são eclipsados pelo discurso da ameaça migratória. Ao mesmo tempo, desde 2015 que tem vindo a crescer os esquemas de tráfico de sere humanos, com os grupos a encherem os bolsos com milhões com um negócio cada vez mais lucrativo.

As barreiras mais altas, assinala uma investigação do El Confidencial, são as construídas por França (Calais) e Espanha (na fronteira com Marrocos), com 10 metros de altura. Seguem-se as construídas pela Polónia (fronteira com Bielorrússia) de 5,5 metros de altura, e pela Hungria (fronteira com Sérvia), de 4 metros.

O jornal traça uma análise a sete das mais polémicas fronteiras físicas levantadas na UE desde 2015:

1 – Espanha – Com 10 metros de altura, e cinco camadas, a cerca entre Ceuta e Melila foi erguida nas únicas duas cidades europeias em África. O perímetro fronteiriço de 12 quilómetros conta com tecnologia de topo e um fosso com três metros. Mesmo desenhado para dissuadir e evitar saltos de migrantes, não aram de aumentar as travessias ilegais com sucesso. Foi construída em 1998.

2 – França – Em Calais, muito deram que falar os acampamentos de migrantes que tentam atravessar a fronteira rumo ao Reino Unido. Há quem esteja há mais de três anos à espera de um ‘descuido’ das autoridades francesas para conseguir passar. A chamada ‘Selva’ foi destruída em 2016 e decidiu-se acelerar a construção de muros e de limpeza das florestas onde os migrantes se escondiam. Com 10 metros, tem entre 1 e 4 camadas e custou mais de 617 milhões de euros a cerca em levantada Calais.

3 – Eslovénia – quem atravessa o rio Kolpa, que divide a Croácia e a Eslovénia, depara-se agora com uma barreira não-natural: ma cerca e um forte patrulhamento militar. Com início de construção em 2015, tem uma altura de 2,5 metros, 194 km de extensão e custou 30 milhões de euros. A construção foi motivada pelo facto de Hungria ter fechado fronteiras perante a avalanche de refugiados sírios e afegãos que chegavam em 2015 à Europa. A barreira tem também efeitos no ecossistema: contam-se mais de 55 animais mortos no local entre 2015 e 2023, presos nas redes ou arame farpado.

4 – Hungria – Na fronteira com a Sérvia levantou-se, em 2015, mais um muro com duas camadas. Custou 1600 milhões de euros e tem quatro metros de altura e 174 km de extensão. O objetivo foi impedir a entrada de refugiados e migrantes através do vizinho a sul, atirando quem tenta passar para as mãos de traficantes de seres humanos, que gozam de influência acrescida nos últimos anos.

5 – Polónia – Já numa fase mais tardia, em 2021, a crise migratória fazia-se sentir com grande intensidade na fronteira entre a Bielorrússia e os países da UE. A Polónia registou mais de 40 mil tentativas de travessia a partir da Bielorrússia e, em 2022, começou a construir uma cerca com 5,5 metros de altura, cm um custo estimado de mais de 660 milhões de euros. A barreira de aço estende-se entre Polaskie e Lublin, ao longo de cerca de 170 quilómetros.

6 – Grécia – Em Evros e Lesbos, conhecidos pontos de desembarque de várias rotas de migrantes a partir de 2012 começaram a criar-se vedações, com Três metros de altura e apenas uma camada, com custo de mais de 617 milhões de euros. Mas são muitos mais elevados os gastos feitos pelo Governo grego na tentativa de controlo dos fluxos migratórios. Os problemas são também múltiplos: ainda este verão, o maior incêndio de sempre na UE no, Parque Nacional Dadia Forest, acabou por matar 18 migrantes naquela zona fronteiriça. EM setembro de 2020 um incêndio destruiu o Centro de Receção e Identificação de Moria, pelo que agora são vários os muros que cercam o novo Centro Fechado de Acesso Controlado de Lesbos.

7 – Bulgária – Em Svilengrad, na fronteira com a Turquia, levanta-se um muro com 3,5 metros de altura, desde 2014. A decisão foi tomada no seguimento de um acidente em que um autocarro com migrantes chocou contra um carro da polícia búlgara, matando dois agentes. Com a fronteira controlada, a opção é cada vez mais apostar numa tentativa de atravessar a fronteira para Burgas, onde o terreno é muito íngreme e perigoso. Os migrantes que conseguem atravessar e não são devolvidos são transferidos para alguns centros de detenção, onde permanecem a aguardar os devidos procedimentos.

Os perigos são muitos nestas barreiras para quem as tenta cruzar á procura de uma vida melhor, e os objetivos pelos quais se levantaram, acabaram por tombar: o número de travessias e de mortes nas tentativas não parou de crescer. Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), este ano chegaram mais de 250 mil pessoas em situação irregular à Europa em 2023. É o maior número desde 2016, e o ano ainda não terminou, pelo que se adivinha recorde ainda mais expressivo.

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