«A escolha de Portugal foi decisiva para o sucesso»

A Natixis é a divisão internacional de banca empresarial e investimento, gestão de activos, seguros e serviços financeiros do Groupe BPCE, o segundo maior grupo bancário em França. Com cerca de 16 mil colaboradores em 38 países, tem uma série de áreas de especialização organizadas em quatro linhas principais de negócio: Gestão de Activos e Património, Banca Empresarial e de Investimento, Seguros e Pagamentos. Nathalie Risacher, Senior Country Manager da Natixis em Portugal, explica a estratégia do grupo que instalou um Centro de Excelência no Porto.

Em 2017, a Natixis instalou o seu Centro de Excelência no Porto. Qual é o balanço da actividade da empresa na cidade?

A Natixis em Portugal é uma história de sucesso real: começámos o projecto do zero e, em menos de três anos, contratámos mais de 850 pessoas nas áreas de Tecnologia de Informação (TI) em Portugal, tornando-se esta o segundo hub da Natixis na Europa – como é apresentada pelo CEO da empresa, François Riahi. Este projecto foi um dos maiores investimentos em Recursos Humanos alguma vez feito pela Natixis a nível mundial. A escolha de Portugal – e da cidade do Porto – foi um factor decisivo para o nosso sucesso. Fazendo parte de um ecossistema dinâmico de empreendedorismo e inovação – que agora nos conhece muito bem – conseguimos encontrar a experiência e o talento que não conseguimos noutro lugar. Conseguimos desenvolver a competência necessária para fortalecer as operações mundiais da Natixis, em termos de serviços tecnológicos. Em resultado deste sucesso, em fevereiro de 2020, o projecto evoluiu de um Centro de Excelência em Tecnologias de Informação para um Hub de Inovação, com a missão de transformar a banca tradicional através do desenvolvimento de soluções inovadoras nos negócios do banco, nas operações e na cultura de trabalho em todo o mundo. Esta nova etapa da nossa operação em Portugal vai realçar o nosso compromisso com os funcionários e vai garantir que cada pessoa tem oportunidade de escolher a sua carreira, dentro de um ambiente que lhe permite crescer, mudar e criar impacto na empresa.

O que motivou a escolha do Porto?

A decisão de implementar o Centro de Excelência em Tecnologias de Informação da Natixis em Portugal foi o resultado de vários estudos e avaliações efectuadas em diferentes países europeus, com base nos seguintes critérios: Educação, Inovação & Empreendedorismo, Adaptação cultural à França e à mentalidade e experiência internacional. No final, Portugal e o Porto foram as melhores opções para a Natixis. O Centro de Excelência em Tecnologias de Informação da Natixis no Porto comprovou a competência de Portugal como um ecossistema de empreendedorismo e inovação, com vantagens competitivas, não só na perspectiva de infra-estrutura e integração tecnológica, mas também através do perfil de capital humano: graduados em universidades de topo, altamente qualificados em ciência e tecnologia, multilíngues e com uma cultura profissional internacional. Por outras palavras, a Natixis em Portugal tornou-se uma entidade cativa integrada dentro da organização global, sob a responsabilidade das linhas de negócio, e compreendida como uma extensão de equipas, que benificiam do poder de localização do Porto. Não como um centro de serviços, mas como uma entidade que trabalha para a Natixis de forma integrada, inclusiva e transversal, em todos os países em que a empresa opera, apoiando quatro áreas principais de negócio: Gestão de Activos e Património, Banca Corporativa e de Investimento, Seguros e Pagamentos.

Sobre a estratégia da Natixis para Portugal. É ser um Hub de Inovação?

Sem dúvida. Devido ao seu sucesso, o projecto evoluiu recentemente para um Hub de Inovação, com a missão de transformar a banca tradicional através do desenvolvimento de soluções inovadoras nas operações de negócio do banco, e na cultura de trabalho em todo o mundo. Em consequência desta evolução, a Natixis em Portugal espera continuar a crescer em 2020 e contratar 130 pessoas principalmente nas áreas de Gestão, Economia, Finanças e Direito. Estes novos colaboradores vão integrar equipas de Back-Office, Compliance, Sanction & Embargo, KYC (Know Your Customer), Gestão de Risco, Gestão de Recursos Humanos, entre outros, apoiando actividades em diferentes países e áreas de negócio, tal como acontece nas TI. As equipas de TI e de suporte à actividade da Banca vão continuar a trabalhar de forma integrada, inclusiva e transversal, de forma a tornarem-se no factor chave/ principal impulsionador da cultura ágil e inovadora da empresa. As equipas em Portugal apoiam todas as linhas de negócio da Natixis – Gestão de Activos e Património, Banca Corporativa e de Investimento, Seguros e Pagamentos – e plataformas. Esta nova etapa da nossa operação em Portugal vai realçar o nosso compromisso com os funcionários e vai garantir que cada pessoa tem oportunidade de escolher a sua carreira, dentro de um ambiente que os vai permitir crescer, mudar e criar impacto na empresa.

Já afirmou que a missão da Natixis «é continuar a inovar para transformar a banca tradicional». Como é que isso poderá ser feito?

Através da cultura. A banca também é uma empresa de tecnologia. A actividade da banca não consegue sobreviver sem as TI. Esta é a razão pela qual neste novo hub, as equipas de TI e de suporte à actividade da banca vão trabalhar numa forma totalmente integrada, inclusiva e transversal, de forma a serem o factor chave/principal impulsionador da cultura ágil e inovadora da empresa. Não se pode separar as equipas e os processos, elas precisam de trabalhar em conjunto. Sempre.

Como avalia a presença feminina na área das Tecnologias de Informação?

Por todo o mundo, as taxas da participação feminina em tecnologia variam significativamente, tal como as disparidades salariais entre géneros. Hoje, apenas 33% dos funcionários na indústria digital são mulheres, 75% das quais nas áreas de apoio (Recursos Humanos, Administração, Marketing, Comunicação). A Natixis quer fazer a mudança. Estamos empenhados em criar proactivamente um ambiente diverso onde o homem e a mulher se apoiam um ao outro. Queremos ter um papel activo na sociedade, mudar as mentalidades e mostrar às mulheres que elas são capazes de tudo. O nosso projecto é a longo prazo. Queremos envolver as novas gerações na criação de novos caminhos. Esta é a razão pela qual no ano passado lançámos o “Champion for Change”, uma das principais iniciativas da Natixis na Estratégia de Responsabilidade Ambiental e Social. Este programa quer promover uma forte interacção com as escolas, universidades, grupos de tecnologia de mulheres e influenciadores, permitindo às mulheres aprender entre si, criar novas oportunidades e ajudar a fomentar uma comunidade diferente.

É fundadora da iniciativa WINN – Women In Natixis Network (Mulheres na Rede Natixis). Que trabalho tem sido desenvolvido ao abrigo deste projecto?

Fui a fundadora da WINN na Plataforma Americana, e agora na Natixis em Portugal. O programa “Champion for Change” que já mencionei está totalmente alinhado com a iniciativa WINN da Natixis, que junta os homens e as mulheres do grupo para promover a diversidade de género nos círculos de liderança. Este programa reforça o nosso compromisso e procura ter impacto no ambiente externo, mostrando histórias e experiências de mulheres na tecnologia, de forma a criar impacto nas mulheres, envolver novas gerações e mudar para uma mentalidade que não limite e reprima a presença das mulheres em qualquer campo. Através desta iniciativa já conseguimos estabelecer uma parceria com a Escola Básica de Rio Tinto, com a qual realizamos duas actividades – “Hello, Tech” e “Shadow Day” – ambas direccionadas para os alunos do oitavo ano, com aspectos educacionais e informativos, onde a partilha de experiências e conhecimentos na área tecnológica serão destacados. Este ano, já começámos uma nova parceria com a Escola Básica e Secundária Clara de Resende, com a qual vamos realizar as mesmas actividades. O “Champion for Change” procura estimular e promover a presença e o trabalho das raparigas e das mulheres no mundo da tecnologia, reforçando a mensagem de que as áreas da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática não são monopólios de género e devem ser seguidas por homens e mulheres, com as mesmas oportunidades. Queremos que este seja um programa a longo prazo, um esforço contínuo com novas actividades a serem desenvolvidas.

A Natixis tem preocupações com a sustentabilidade. Qual o modelo que utiliza para gerir o impacto ambiental do portefólio?

Fazendo parte do seu compromisso a sustentabilidade e os objectivos do Acordo de Paris, a Natixis implementou o modelo Green Weighting Factor, um mecanismo sem precedentes que distribui capital para acordos financeiros tendo por base o seu impacto climático. O “Green Weighting Factor”, que já opera desde 2017, corresponde a 127 mil milhões de euros do balanço patrimonial da Banca Corporativa e de Investimento da Natixis, ao qual 70% já foi atribuído uma classificação por cores. Em termos de exposição nominal, castanho representa 38%, verde representa 43%, e cor neutra 19%. Esta iniciativa, pioneira no sector, permite à Natixis orientar a sua estratégia ecológica de transição, em conformidade com os objectivos delineados no Acordo de Paris. A nível local, também lançámos um projecto de grande impacto: o “Natixis Urban Garden” é uma horta que criámos no enorme terraço que temos no nosso escritório, com a ajuda de mais de 60 empregados que se voluntariaram para cuidar das áreas plantadas. 100% da colheita é doada a instituições de solidariedade locais.

Esta entrevista foi publicada originalmente na edição impressa da Executive Digest, edição de Junho 2020.

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