5g: um acelerador que não traz só velocidade

Saltos tecnológicos abrem janelas de oportunidade para criar novos negócios e para recriar os existentes. Olhando para trás, aprendendo com o passado (recente), conseguimos identificar os impactos directos e indirectos da tecnologia na vida das pessoas e nos modelos de negócio das empresas. Na verdade, o verdadeiro impacto não decorre só da tecnologia: tem aí uma força necessária, mas é na capacidade humana que ele se enraíza. Se isso é tão evidente a posteriori, o que podemos fazer para nos prepararmos para um período de previsível quebra de paradigmas? A resposta está na preparação. É possível antecipar algumas (muitas) das implicações da introdução de tecnologias. É possível testar soluções, treinar equipas, desafiar parceiros, mesmo antes da maturidade das tecnologias.

A introdução de uma tecnologia como a do 5G, quase em simultâneo no Mundo, é uma rara oportunidade para um país como o nosso. Uma rara oportunidade de partirmos ao mesmo tempo, com as mesmas condições (talvez até melhores) dos países mais desenvolvidos do mundo. O 5G é um acelerador da transformação digital, em grande medida porque chegará ao mundo físico, ao mundo onde ainda estamos cercados de coisas que não funcionam em rede.

A VELOCIDADE DO 5G NÃO É A MELHOR PARTE

Por alturas de uma disrupção tecnológica, é normal que se comece a explorar o que a “nova” tecnologia traz de novo. A largura de banda (vulgo velocidade no acesso) é das primeiras a saltar para as notícias. Para quem se lembra de descarregar ficheiros da internet ao ritmo de 1MB numa noite inteira, não fica indiferente aos níveis inimagináveis de capacidade de transmissão do 5G. Da mesma forma como já ficou impressionado com o ritmo a que as tecnologias anteriores, o 3G e o 4G, foram galgando limites.

Um conceito vai provavelmente entrar no léxico mais comum: o da latência. A latência é a velocidade de resposta da rede aos pedidos. Não deixa de ser velocidade, mas não se traduz na quantidade de informação que uma rede consegue processar etransportar, mas antes na simultaneidade com o mundo real que interage, em rede, com a rede. A baixíssima latência abrirá portas a um mundo novo de aplicações que combina decisões em tempo real com os recursos de uma internet. Esta combinação será provavelmente uma das maiores fontes de disrupção no mundo físico.

Uma outra característica que fará do 5G muito mais do que um “4G aditivado” é o facto de ser uma espécie de “rede de redes”, ou seja, que está concebida de raiz para que consiga disponibilizar configurações de serviços diferentes, ao mesmo tempo. Ao contrário do que vimos acontecer nas anteriores gerações das tecnologias móveis, não teremos uma rede a disponibilizar (quase só) uma configuração de serviço para toda a gente e todas as utilizações. Teremos sim uma disponibilização de um conjunto de serviços alternativos ao mesmo tempo:

  • Serviços que privilegiam rapidez na interacção (a latência indispensável para os jogos online ou para os carros autónomos poderem andar nas nossas estradas);
  • Serviços para permitir larguras de banda compatíveis com vídeo 4K, por exemplo;
  • Serviços com garantia de disponibilidade de banda, para que serviços empresariais tenham a resiliência desejada.

Disponibilizar um portefólio de diferentes configurações de serviço traz uma grande plasticidade à rede, ou seja, uma capacidade de adaptação às realidades concretas dos territórios, comunidades e empresas. Serão em grande medida os agentes nacionais (pessoas, empresas, cidades) que determinarão que configurações de rede devem ser disponibilizados, local a local se for preciso.

O ACELERADOR NÃO É TUDO

Um acelerador nunca é tudo. Mas permite o arranque, ajuda a mudar de ritmo. Não é todos os dias que se anuncia uma disrupção. A transformação digital é um processo em curso mas pode não ser suficiente. É preciso questionar o ritmo. É possível aumentar o ritmo?

Um acelerador como o 5G, por si só, não aumenta o ritmo da transformação. Mas arrasta uma vaga de inovações, dos equipamentos às aplicações, que se antecipa precisar de consórcios, de ecossistemas de relações, de centros de competências. Mais do que velocidade, o 5G traz uma oportunidade. Uma oportunidade de fazer diferente. Em conjunto e no colectivo. Bem e depressa.

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