Nelson Pires, Jaba Recordati: As maiores mudanças na Gestão em Portugal
1. Quais os grandes desafios ao nível da Gestão, nestes últimos 15 anos?
O mundo mudou tanto neste século XXI que seria impossível enumerar todos os desafios sem esquecer algum. Portanto vou referir os mais relevantes:
- O capitalismo mostrou as suas garras mas confirmou que é o único modelo viável social e económico;
- A forma do trabalho mudou e tem que se adaptar, flexibilizando-se;
- Os novos negócios intangíveis tornaram- se mais valiosos que os tangíveis;
- O mundo e a gestão evoluiu para o 5.0;
- O work life balance tornou-se um factor decisivo para o equilíbrio das empresas e das pessoas;
- O excesso de mão-de-obra nalguns sectores e a dificuldade de atracção e retenção de talento noutros;
- A importância do networking, assim como do mentoring;
- O mundo digital tornou-se o mundo real;
- As soft skills substituíram as hard skills, que se tornaram uma commodity;
- A descapitalização das empresas gerou maiores necessidades de financiamento;
- O desafio do empreendedorismo;
- A regulação interventiva das autoridades em lugar de preventiva.
Todos os desafios tiveram um enorme impacto na forma como a gestão mudou e adaptou.
2. Que principais mudanças nas empresas, e no seu sector em particular?
O sector farmacêutico é um dos segmentos mais competitivos na economia mundial. Grande parte é dominada por gigantescas corporações transnacionais. Entretanto, nos últimos anos houve importantes modificações com a crescente participação dos medicamentos genéricos e uma consequente descentralização do mercado com o crescimento da Ásia e América Latina. Embora com a concentração e dependência de fabrico na Indía e China, com todos os riscos que esta concentração acarreta. Por outro lado o aumento substancial do custo da investigação e da inovação com a consequente dificuldade dos estados em suportarem os custos, mas com a Indústria Farmacêutica a descobrir medicamentos disruptivos, que erradicam doenças (como o tratamento da hepatite por exemplo). A falsificação e venda de medicamentos no mundo digital tornou-se um desafio sério e aumentaram as medidas de combate, nomeadamente a serialização (ou seja uma caixa, um código), o que aumentou bastante os custos logísticos. Os modelos de pagamento baseados no pay per performance. A integração dos inúmeros dados a que as empresas farmacêuticas têm acesso e integração da inteligência artificial. A colocação do paciente no centro do sistema de saúde com a melhoria da sua experiência e a sua maior participação na prevenção e tratamento. O desenvolvimento da biotecnologia que permite criar quase um medicamento individualizado. O desafio da farmacovigilância. O desenvolvimento e mudança das competências dos profissionais da IF. Entre tantas mudanças que ocorreram , que tornaram este sector num admirável mundo novo.
3. Em que medida é que a Executive Digest serviu de “ferramenta” para os gestores portugueses?
A Executive Digest teve um papel fulcral, pois permitiu antecipar tendências e mudanças, ouvir opiniões e efectuar “benchmarks” de outros gestores mas também de outros sectores. Sempre discutindo os temas “in and out of the box”. Portanto faz parte da minha selecção normal de leitura regular, com a importância de manter também o formato em papel e criar cadernos especiais sobre determinados temas que me são muito próximos. Portanto parabéns Executive Digest pois 15 anos é uma vida longa, esperando que perdure por mais 150 anos, sempre mantendo esta qualidade elevada!
Este artigo faz parte do Tema de Capa publicado na Revista Executive Digest n.º 181 de Abril de 2021