MIT: O que significa ser uma empresa tecnológica

A parceria entre a Executive Digest e o MIT tem o apoio


A rápida mudança na sorte da WeWork, em Setembro do ano passado, apanhou alguns analistas de surpresa. A famosa empresa de partilha de escritórios, na altura favorecida por colaboradores sazonais e pela elite tecnológica, estava a preparar-se para uma oferta pública inicial que supostamente iria angariar centenas de milhões de euros. Em vez disso, e em poucos dias, tornou-se o exemplo da mentalidade de manada dos investidores que perdem a razão e ficou sem capital.

A queda da WeWork (a avaliação da empresa caiu mais de 80% desde Janeiro de 2019) deu origem a um debate animado sobre o que significa ser uma jovem “empresa tecnológica”.

Embora o modelo de negócios central da WeWork – alugar escritórios vazios em massa e transformá-los em espaços de trabalho partilhados com comodidades como aulas de yoga e kombucha (bebida feita a partir da fermentação de um chá rico em cafeína) para empresas e indivíduos – não pareça particularmente tecnológico, o panfleto da empresa usou a palavra “tecnologia” mais de 100 vezes, denota a jornalista Marie C. Baca no “The Washington Post”.

Ben Thompson, analista de negócios em Taiwan, escreveu na “Stratechery” que aquilo que separa as empresas tecnológicas de outros tipos de negócios é «a centralidade do software». Por exemplo, o software cria ecossistemas e permite às empresas eliminarem custos marginais e custos de transacção. Segundo esta definição, explica Ben Thompson, a WeWork não se insere nessa categoria. Embora use software, o que é facto é que a WeWork «gasta uma enorme percentagem das suas receitas em arrendamentos». Além disso, afirma, «é difícil encontrar provas de que [o seu ecossistema] é um factor central do negócio da WeWork».

E, segundo Marie C. Baca, «a questão vai para além da semântica. Alguns investidores temem que a ubiquidade da terminologia tecnológica e as avaliações contribuam para uma verdadeira bolha económica.»

DESCONSTRUIR JEFF BEZOS

Jeff Bezos, da Amazon, continua indubitavelmente a ter mais influência no comércio e até na sociedade norte-americana do que quase qualquer outro indivíduo na história.

Enquanto John D. Rockefeller e Andrew Carnegie construíram enormes fortunas no final do século XIX com petróleo e aço, já o império de Jeff Bezos é bem mais abrangente e profundo. O site de comércio electrónico da Amazon, que tem hoje mais de 600 milhões de itens colocados à venda por mais de três milhões de vendedores, chama mais a atenção, sendo responsável por quase 40% das vendas online nos EUA.

Mas outros investimentos da Amazon, nomeadamente as suas operações de cloud computing e streaming de vídeos (e a quota pessoal do próprio Jeff Bezos no “The Washington Post”) são elementos essenciais do império em expansão de Jeff Bezos.

Num artigo recente do “The Atlantic”, Franklin Foer examina o que estimula Jeff Bezos e quais os seus planos para o futuro, com base em cinco meses de conversas com antigos e actuais executivos da Amazon, rivais da empresa e outros. Com a sua base de dados de compras dos clientes e com conhecimentos sem paralelo sobre logística e cadeia de fornecedores global, afirma Franklin Foer, a Amazon tem «capacidade para desenvolver a sua própria versão vencedora de uma incrível gama de negócios». O que tem enormes implicações não apenas para a economia norte-americana, mas também para a sociedade em geral. «No fim», escreve Franklin Foer, «é admirável e temível tudo aquilo que a Amazon engloba.»

E acrescenta: «Jeff Bezos ganhou no capitalismo. A questão para a democracia é se nos sentimos confortáveis com isso.»

A ECONOMIA DA PARTILHA CONTINUA

A economia da partilha existe há mais de uma década. Alguns dos nomes mais recentes, como a Airbnb, a Uber e a Kickstarter, são agora negócios estabelecidos. Contudo, o modelo de negócio que lhe serve de base parece estar longe de esgotado. Num recente artigo da Wired, Arielle Pardes afirma: «Quando a Airbnb começou em 2008, a ideia de transformar a nossa casa numa pensão ou de gastar algumas centenas de euros para dormir no quarto de hóspedes de um desconhecido era rara.» Agora, diz Arielle Pardes, «a economia do arrendamento está em todo o lado e é para toda a gente».

Entre as empresas mais recentes, Arielle Pardes sublinha a Boatsetter (para aluguer de barcos), a Spacer (para garagens) e a Hipcamp (que liga campistas a parques de campismo vazios). Na Boatsetter, por exemplo, os proprietários listam os seus barcos no site para quem quiser alugar, com um valor diário ou por hora. A empresa ajuda a lidar com os seguros e oferece o nome de capitães qualificados que podem ser contratados. A economia de partilha está também a transformar as viagens em algo mais mundano. Segundo um artigo publicado recentemente na “The Economist”, a Roadie, de Atlanta, oferece um serviço que ajuda as empresas a pouparem dinheiro em entregas ao aproveitarem motoristas que viajam na direcção desejada.

 

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Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 167 de Fevereiro de 2020

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