MIT: Como as aquisições podem reforçar a diversidade e a inclusão
À medida que emergimos da pandemia, o amplo interesse em empresas socialmente responsáveis está a acelerar. Os investidores estão a aplicar dinheiro em fundos concebidos para promover o bem social, e diversas empresas estão a anunciar iniciativas para encorajar a diversidade e a inclusão. Até agora, impulsionar o crescimento económico e encarar a equidade social não tem andado necessariamente de mãos dadas. Actualmente, as empresas podem não só satisfazer ambos os requisitos, mas também combiná-los numa vantagem competitiva, adquirindo mais a partir de fornecedores diversificados – definidos como pequenas empresas ou empresas pertencentes a minorias, mulheres, veteranos, membros da comunidade LGBT, ou pessoas com deficiência.
As iniciativas de diversidade e inclusão de fornecedores podem fazer uma diferença significativa nas receitas das empresas e nas comunidades. Em primeiro lugar, os clientes têm três vezes mais probabilidades de comprar um produto ou serviço de uma marca que esteja empenhada na diversidade e na inclusão. Em segundo lugar, alocar um milhão de euros para aquisições de fornecedores diversificados pode criar até 10 novos empregos, segundo uma investigação conduzida pelo fornecedor de análises de diversidade Proximo. Estes empregos geram pelo menos 100 mil euros em impacto económico através de receitas fiscais, ajudando a criar comunidades locais onde os fornecedores operam.
No entanto, embora 85% das empresas da Fortune 100 nos Estados Unidos da América tenham essas iniciativas, apenas 59% destas empresas revelam o quanto se abastecem de fornecedores diversificados, de acordo com a nossa pesquisa. Estas empresas adquirem, em média, apenas 10% dos seus fornecimentos e serviços a fornecedores diversificados. Além disso, grande parte desta despesa é dirigida a pequenas empresas, independentemente de os membros de grupos sub-representados serem seus proprietários.
Poucos sectores estão bem posicionados para usar as suas cadeias de abastecimento pró-activamente de forma a encorajar a diversidade e a inclusão. As telecomunicações, os cuidados de saúde e as empresas farmacêuticas são as que mais se abastecem de empresas diversificadas, em parte porque o governo é um grande cliente e desenvolveu infra-estruturas para o fazer ao longo de décadas. Estes são seguidos pelos fabricantes e empresas automóveis, que foram pioneiros em iniciativas de diversidade e inclusão de fornecedores em resposta ao movimento dos direitos civis nos anos 60. A energia, os serviços financeiros e as empresas de tecnologia pouco adquirem a empresas pertencentes a membros de classes protegidas.
À medida que a criação de uma recuperação económica mais equitativa se torna uma prioridade maior, as empresas podem tomar estas cinco medidas para criar iniciativas mais eficazes de diversidade de fornecedores.
1) Definir o tom certo no topo. Para começar, as empresas precisam de ter um plano actualizado, com o patrocínio e apoio executivo em toda a empresa. Deve ser absolutamente claro que a equipa de gestão de uma empresa quer encorajar a diversidade e a inclusão através da aquisição de produtos e serviços a fornecedores pertencentes a membros de classes protegidas. Dado que a equipa de aquisições tem uma visão mais abrangente dos ecossistemas empresariais, incluindo estruturas internas, fornecedores, activos e clientes, deixem-na liderar os esforços para seleccionar as parcerias e relações que melhor apoiam a diversidade. A comunicação frequente de cima para baixo da importância da diversidade de fornecedores para a visão, plano e progresso de uma empresa é a melhor forma de conseguir a adesão dos funcionários.
Uma empresa de telecomunicações viu as suas iniciativas ganharem força quando o seu CEO tornou claros os objectivos de aquisição da empresa e forneceu actualizações regulares do progresso nas suas reuniões e relatórios trimestrais. Se os colaboradores conseguirem ver o valor, sentir-se-ão mais inspirados a adquirir a um leque mais vasto de fornecedores. A criação de um comité directivo ou conselho consultivo com representação de toda a organização e a todos os níveis pode também ajudar a energizar e mobilizar os colaboradores.
2) Investir em recursos dedicados. Para que uma iniciativa de diversidade de fornecedores tenha sucesso, é necessário investir nas pessoas e nos recursos. A nossa investigação revelou que as empresas com dois ou mais colaboradores a tempo inteiro dedicados à diversidade de fornecedores têm quatro vezes mais fornecedores do que as empresas com apenas um colaborador dedicado. Dois terços das empresas da Fortune 100 empregam pelo menos três pessoas nas suas iniciativas de diversidade de fornecedores, e um terço tem pelo menos cinco.
Os recursos devem estar bem integrados na função de aquisições da organização. Embora as suas necessidades de pessoal variem com base na complexidade e objectivos da sua cadeia de fornecimento, a chave é investir em pessoas talentosas que façam avançar a visão de diversidade de fornecedores. Do mesmo modo, é importante investir na tecnologia certa para gerir os dados de diversidade e facilitar as relações com os fornecedores, como ferramentas fáceis de utilizar para a monitorização e contratação de fornecedores.
Já vimos como o investimento nos recursos certos pode minimizar a disrupção operacional. Durante o auge da pandemia, um grande banco estava a ter dificuldade em obter equipamento de protecção pessoal dos seus fornecedores habituais. Graças à sua equipa dedicada à diversidade de fornecedores, o banco conseguiu reunir fornecedores diversificados para resolver rapidamente a escassez. Ao recorrer a uma base de fornecedores ágil e mais flexível, assegurou os seus tão necessários fornecimentos a um custo mais baixo.
3) Expandir a rede de fornecedores diversificados. Quanto mais activamente a equipa criar redes de fornecedores diversificadas, mais bem-sucedida será a iniciativa. Assegurem-se de que a iniciativa aproveita todas as oportunidades para expandir e melhorar o acesso da empresa a fornecedores diversificados. Juntem-se a grupos industriais, grupos locais e associações, onde poderão aprender – e eventualmente partilhar – as melhores práticas.
As organizações que certificam a diversidade também podem ser grandes fontes. Uma empresa automóvel com quem falámos expandiu com mais facilidade o seu alcance à tecnologia de baterias porque a sua iniciativa de fornecedores diversificados desenvolvera relações com grupos que certificavam fornecedores com essa especialização de nicho.
4) Estabelecer objectivos concretos. Estabeleçam objectivos específicos e realistas da mesma forma que se faz para outras estratégias de aquisições. As empresas com objectivos internos para a diversidade e inclusão de fornecedores compram quase o dobro de peças e serviços a empresas pertencentes a membros de classes protegidas do que as empresas sem objectivos definidos, mostrou o nosso estudo.
A definição de objectivos encoraja os colaboradores a considerarem um conjunto muito mais sólido de métricas para avaliar o progresso. Com objectivos claros, é mais provável que os colaboradores incluam fornecedores de nível 1 e de nível 2, examinem a força de trabalho dos fornecedores, e encorajem a consideração de fornecedores diversificados nos pedidos de propostas. De facto, algumas empresas chegam ao ponto de exigir aos gestores que justifiquem por que razão um fornecedor diversificado não foi incluído num RFP.
5) Divulgar o progresso. Os progressos realizados em direcção a estes objectivos devem ser partilhados regularmente com os stakeholders internos e externos. Deste modo, as empresas criam responsabilidade em toda a sua organização e tornam claro que a diversidade é uma prioridade.
Cerca de um quarto das empresas da Fortune 100 partilham publicamente os seus objectivos de fornecedores diversificados e a parte ou quantidade absoluta em euros dos bens e serviços provenientes de diversos fornecedores. Destas, quase 60% distinguem os bens e serviços adquiridos a empresas pertencentes a grupos sub-representados dos adquiridos a pequenas empresas. Alguns gigantes da tecnologia também fornecem ferramentas interactivas que permitem aos utilizadores rever as suas aquisições a fornecedores diversificados ao longo dos anos e em diferentes categorias.
Não surpreendentemente, descobrimos que quase 80% das empresas da Fortune 100 que relatam os resultados das suas iniciativas de diversidade de fornecedores adquirem cerca de três vezes mais a fornecedores pertencentes a membros de grupos sub-representados do que de as empresas que não o fazem. Dado o rápido crescimento do interesse em promover a diversidade e a inclusão, este exemplo deveria ser seguido por mais empresas.
A COVID-19 tem exposto muitas vulnerabilidades na nossa sociedade. Embora muitas iniciativas de fornecedores diversificados tenham evoluído para lá de gestos simbólicos, há ainda muito trabalho a fazer. Apesar de não ser claro como será exactamente o mundo pós-pandémico, a inclusão e a diversidade estão a tornar-se uma prioridade mais elevada. Colocar em prática uma iniciativa de fornecedores diversificados pode impulsionar mudanças positivas, aumentar os ganhos e construir resiliência tanto dentro como fora da organização.
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Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 183 de Maio de 2021