Miguel Almeida, NOS: As maiores mudanças na Gestão em Portugal

1. Quais os grandes desafios ao nível da Gestão, nestes últimos 15 anos?

O exercício de gestão, seja de uma empresa, de uma instituição ou de um País tem, na minha perspectiva, um objectivo basilar: criar valor. Esta criação de valor, juntando meios humanos, financeiros e tecnológicos, terá sempre como função preencher as nossas necessidades enquanto seres humanos e sociedades, nas suas diversas vertentes.

Diria que, neste sentido, nos últimos 15 anos, esta perspectiva de gestão não se alterou, a gestão deverá continuar a visar a criação de valor e a criação de bem-estar. O que mudou, e muito foi o contexto e as prioridades na distribuição desse valor, acompanhando a evolução das sociedades onde estamos inseridos. Em termos de contexto, e focando no que nos é mais próximo, que é a realidade nacional, experienciamos duas profundas crises, uma das quais ainda estamos a vivenciar.

No final da primeira década deste século, Portugal mergulhou na designada crise de dívida soberana, que colocou a nu os desequilíbrios estruturais da gestão da República Portuguesa, arrastando consigo necessariamente as empresas, instituições e famílias. Muito rapidamente, a crise de liquidez impactou todo o tipo de organizações, com a escassez de recursos financeiros a impactar de forma muito intensa as empresas, nomeadamente aquelas que também elas apresentavam desequilíbrios em termos de funding. Não foi o caso da NOS, que manteve uma posição financeira muito robusta e conservadora. Não obstante, também para a NOS, enquanto empresa nacional, os recursos financeiros ficaram mais caros. A NOS enquanto empresa líder em soluções de comunicações e entretenimento, não poderia deixar de ser impactada pelos efeitos que aquela crise provocou nos seus clientes, sejam eles empresas ou famílias. Mal recuperados da forte contração registada e quando, tudo o indicava, entraríamos numa fase de recuperação, o mundo é atingido por uma pandemia de proporções inimagináveis.

Desde o primeiro trimestre de 2020, as economias, e naturalmente também a portuguesa, passaram a estar numa espécie de limbo, cristalizadas, sem vislumbre de confiança e com uma expectativa de recuperação ainda sem um fim muito claro.

Ao longo quer da primeira crise, quer da que agora vivemos, a NOS necessitou de colocar em prática os planos de contingência que havia desenhado, mas que nunca haviam sido testados na realidade.

Podemos concluir que estávamos bem preparados. As equipas da NOS superaram-se diariamente, num estrito sentido de missão, assegurando que os portugueses continuariam a contar com serviços de comunicações e também de entretenimento. Tivemos de encerrar centenas de salas de cinema – sem efectuar qualquer despedimento, ou recurso a layoffs – salvaguardar a saúde, segurança e integridade das nossas pessoas na área de comunicações, sempre com o mínimo de impacto nos nossos clientes.

2. Que principais mudanças nas empresas, e no seu sector em particular?

Gerir em tempos de crise acarreta muitos desafios, mas traz igualmente muitas oportunidades. Uma das que mais valorizo é a oportunidade de, numa folha em branco, recentrar as nossas prioridades. A NOS fez esse exercício e está a concretizar essas mesmas prioridades. A empresa que resulta destes momentos difíceis continua centrada na criação de valor e na sua distribuição pelos diversos stakeholders, com um foco muito agressivo na forma como com o seu conhecimento e tecnologia pode contribuir para uma maior sustentabilidade, económica, financeira e ambiental, contribuindo para um mundo e uma sociedade mais justa e equilibrada.

Este compromisso é cada vez mais forte em cada uma das nossas pessoas, que de forma entusiasmante olham para cada oportunidade como a oportunidade única de contribuírem para transformar positivamente vidas, seja das famílias, seja das empresas.

Mesmo perante todas as adversidades – além daquelas que são consequência das referidas crises – como aquelas que enfrentamos em termos de regulação que já provocaram e continuaram a provocar fortes distorções no mercado, a NOS está entusiasmada com a implementação do 5G em Portugal e está fortemente comprometida com garantir o sucesso da mesma no nosso país, situação crítica para o nosso futuro enquanto sociedade.

A nossa sociedade, fruto até do contexto, acelerou em muito a sua digitalização, com muitas actividades que julgávamos não serem possíveis, a serem efectuadas num ambiente online. Da mesma forma que o trabalho remoto com equipas fisicamente distantes passou a ser uma realidade, que em parte perdurará para além da pandemia, apresentando desafios de gestão acrescidos e que sabemos somos capazes de endereçar com sucesso.

3. Em que medida é que a Executive Digest serviu de “ferramenta” para os gestores portugueses?

A Executive Digest, ao longo dos últimos 15 anos, tem contribuído para, além de acompanhar as tendências na gestão, para uma partilha e democratização da informação sobre gestão, do saber e da experiência de centenas de gestores, que com os seus exemplos contribuem para uma evolução da forma como gerimos e como, em cada função, geramos valor.

Este artigo faz parte do Tema de Capa publicado na Revista Executive Digest n.º 181 de Abril de 2021

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