A alternativa digital passou a ser a única solução
EXECUTIVE DIGEST CONTENTSNo que diz respeito à transformação digital, o alicerce da abordagem da Multipessoal assenta na ideia de que não se trata “apenas” disso, mas de “uma transformação de uma organização para liderar a atividade com todo o impacto que o digital tem nas pessoas e empresas”. André Ribeiro Pires, Chief Operating Officer da Multipessoal, explica à Executive Digest de que forma este processo está a afectar todas as áreas da empresa e o impacto que tem nos colaboradores, desde o recrutamento até ao seu desenvolvimento.
Quais os principais pilares da transformação digital na Multipessoal?
A sociedade avança a uma maior velocidade face às empresas e, só por isso, a transformação não deve ser entendida como um projeto, mas sim como parte da cultura da organização.
Quando, em 2018, aceitei o desafio de liderar a transformação da Multipessoal, tive a oportunidade de conhecer a realidade de uma empresa totalmente portuguesa que desejava crescer de forma sólida e rentável. Para o fazer, precisava de encontrar mais agilidade nos seus processos, desenvolver soluções tecnológicas que mitigassem a dependência do papel e das suas ineficiências e encontrar o ponto de equilíbrio entre a procura e a oferta. O emprego em Portugal é booleano – ou existem pessoas a mais ou pessoas a menos –, e essa configuração faz com que muitas empresas estejam constantemente a correr atrás do prejuízo.
Desta forma, sustentámos esta tal “cultura de transformação” em processos eficientes, com recurso a tecnologia que permitisse fazer melhor o nosso trabalho e, acima de tudo, com o suporte de pessoas orientadas para a melhoria contínua. Felizmente, nenhum dos três se “instala”. Podemos comprar tecnologia, mas a sua adaptação ao método de trabalho e ao desenvolvimento humano não é resultado de uma decisão, mas sim de muito trabalho e acompanhamento. Humanizar processos foi, desde sempre, o nosso foco, e construir uma cultura de orientação para as pessoas é hoje a nossa forma de estar.
Qual o impacto da transformação digital na vida interna da Multipessoal e, particularmente, dos colaboradores?
Hoje, a alternativa digital passou a ser a única solução. É aquela que nos garante a maior proximidade dos milhares de candidatos e colaboradores que todos os dias nos procuram. O início deste processo, há cerca de três anos, foi visto como um ato de maternidade para toda a organização. O momento de mudança era desejado e a vontade de crescer e ser melhor fazia de cada dia mais uma oportunidade para desenvolver algo único.
Nem todos os momentos foram felizes, mas cada marco que foi sendo alcançado foi celebrado e assinalado para garantir que a seguir viria sempre uma nova velocidade. Aconteceu com a fusão das marcas do grupo, com a reorganização das estruturas operacionais, com a mudança da nossa comunicação, com o rebranding da Multipessoal, com a implementação de novas soluções tecnológicas e com o descontinuar do legado que, muitas das vezes, não deixava espaço para permitir o nosso desenvolvimento.
Fomos aculturando e crescendo ao ultrapassar períodos que ninguém planeou ou antecipou, como a pandemia, mas que tiveram impacto reduzido na velocidade da nossa transformação, pois já estava bastante acelerada no momento em que o mundo foi obrigado a repensar a estratégia individual e coletiva. Foi essa aceleração que nos permitiu estar hoje mais longe do passado e bastante presente no futuro.
O que muda com a transformação digital em matéria de recrutamento na Multipessoal?
Em boa verdade, podemos dizer que tudo mudou. Primeiro, precisamos de olhar para a realidade portuguesa, onde as empresas procuram talento num processo cada vez mais reactivo e dependente de mais efeitos do que apenas a oscilação produtiva da procura. As cadeias logísticas, a crise económica, a crise de componentes, a incerteza social e as questões geopolíticas vieram trazer ao mercado do emprego uma realidade sem precedentes, em que o planeamento deixou de ser a chave para o sucesso. Tendo isto por base, a transformação que desenvolvemos na Multipessoal acompanha a metamorfose do emprego em Portugal.
Além de nos procurarem para suprimir as suas necessidades mais urgentes, as empresas delegam-nos a gestão das suas marcas, para as tornarmos apetecíveis para os candidatos. É muito comum que as grandes marcas portuguesas se foquem na comunicação de produto, deixando de fora a comunicação do seu “eu” empregador. Em 2022, implementámos vários projetos de recruitment marketing e campanhas de conversão para marcas renomeadas, que encontraram na nossa transformação uma alavanca para sucesso da sua estratégia de employer branding.
Nos próximos tempos, antecipo que mais marcas e sectores vão procurar estas soluções, e a Multipessoal consegue agregar a visão, estratégia e tecnologia para gerar este valor direto para os nossos clientes.
E em termos de gestão de talento?
A consolidação de uma parte fulcral na nossa estratégia de transformação materializou-se na criação do “Clan by Multipessoal”, que proporciona a candidatos e colaboradores uma experiência 100% digital, desde a contratação ao pagamento do vencimento. Através do Clan, é possível realizar e acompanhar todos os passos da jornada dos profissionais, de uma forma inovadora, acessível, cómoda e ágil. Mais do que uma plataforma, esta solução acaba por ser o “futuro hoje” do emprego em Portugal.
Estamos disponíveis 24 horas por dia, em todos os canais de contacto possíveis. Gerir um processo administrativo tem de ser simples, descomplicado e à medida de qualquer um, e hoje conseguimos oferecer uma experiência personalizada a cada um dos nossos 10.000 colaboradores e 700.000 candidatos, garantindo que estamos prontos quando e onde somos precisos, tal como inscrevemos nos nossos valores em 2020, no início da nossa transformação.
A partir deste momento, queremos inverter o modo de trabalho “normal” no sector. Até hoje, o nosso modelo tinha por base as empresas procurarem-nos para encontrar talento. Com o Clan, conseguimos inverter esta abordagem e chegar mais rapidamente ao talento, focando-nos em promover a disponibilidade de recursos nas empresas portuguesas e encontrando o emprego certo para cada pessoa.
Quais as mudanças concretas dentro da Multipessoal e de que forma estão a ser implementadas?
O início da nossa transformação ficou marcado pelo abandono de duas das grandes bandeiras que o sector dos recursos humanos defende em Portugal. Em primeiro lugar, o preconceito comunicacional de que só temos “empregos de sonho”. Esta é uma bandeira muito pouco credível para qualquer que seja a empresa mundial. Os empregos têm de ser funcionais e podem ou não corresponder ao sonho de cada um. O que não faz sentido é que a marca ou entidade estejam a “vender gato por lebre”, apenas na perspectiva de ter uma comunicação optimista e interessante. Observámos a realidade e assumimos o nosso papel de estar orientados para as pessoas com quem trabalhamos, sejam candidatos, colaboradores, clientes ou até os próprios colegas da nossa organização. Para consolidar esta mudança, fizemos uma alteração total do nosso tom de voz, de dentro para fora e de dentro para dentro, sendo criada uma cultura de humanização em tudo o que é feito, mesmo que 100% digital.
Depois, a grande mudança passou pelo método de trabalho. Existe igualmente um modelo de trabalho no sector, em que o consultor de recursos humanos é uma espécie de “faz tudo”. Durante uma parte do mês processava vencimentos, noutra fazia recrutamento e sempre que possível acompanhava clientes. Este modelo está ultrapassado, pois desvalorizava os profissionais que estavam sempre em esforço, e não garantia a qualidade do serviço a candidatos, colaboradores e clientes. Na área de trabalho temporário, passámos a operar com áreas distintas, onde existem três unidades para garantir 1) o acompanhamento a clientes / prospeção, 2) o sourcing de candidatos e 3) o suporte a colaboradores.
No recrutamento e selecção especializados, fomos mais longe e criámos uma solução de continuidade para os nossos consultores, em que desde o primeiro dia de trabalho desenvolvemos as suas competências nas suas áreas de especialidade, promovendo experiências que permitem a estes profissionais serem ainda melhor preparados para a consultoria efetiva junto dos nossos candidatos e clientes.
As pessoas aderiram bem a estas mudanças?
Nós, os humanos, somos seres que facilmente nos adaptamos à mudança quando acreditamos naquilo para que estamos a ser desafiados. O processo de transformação da Multipessoal é o resultado do que todos vivemos enquanto pessoas, profissionais, clientes e como candidatos e, nesse sentido, no que diz respeito aos nossos colaboradores internos, a adopção é um processo também ele natural. Obviamente que existem sempre desafios, até porque estamos neste momento “sozinhos” neste novo modelo de trabalho. Qualquer pessoa que se junte a nós precisará de se adaptar à nova forma de trabalho, mas acredito que esta será o futuro para todas as outras empresas.
Quanto aos candidatos e colaboradores colocados em clientes, diria que a experiência não poderia ser mais satisfatória. Quando o mercado apresenta maiores fragilidades no que diz respeito ao número de pessoas disponíveis para trabalhar, somos confrontados com um incremento significativo de pessoas que nos escolhem para encontrar emprego e que o fazem por ser um processo simples e gratificante.
Quais os resultados já visíveis?
O resultado mais imediato é a forma como o mercado recebeu a nossa nova solução 100% digital. O Clan é um sucesso daqueles em que ficamos a pensar sobre como é que não foi feito antes. Foram vários anos de trabalho intenso, a começar pelo desenvolvimento tecnológico, feito integralmente pela nossa própria fábrica digital. A vasta experiência e profundo conhecimento em processos de recursos humanos permitem que sejamos uma escolha confiável em todos os segmentos etários em Portugal, bem como em todos os sectores de atividade das empresas que nos procuram.
Internamente, o trabalho passou a ser mais humano, mais focado no que é realmente importante, e a tecnologia passou a ser o terceiro braço de cada um de nós. O mais impressionante nestes processos é que o futuro fica sempre mais próximo quando se está mais à frente. Somos todos muito mais exigentes e não toleramos que o trabalho sem valor acrescentado seja feito por humanos. É muito curioso assistir a esta mudança em que, sem diferença entre idades ou antiguidades na empresa, todos procuram simplificar o trabalho com a ajuda da tecnologia. Este é um resultado que, não sendo fácil de quantificar, acaba por ser o melhor resultado para um gestor.
De que forma todo este conjunto de mudanças afecta a própria cultura da empresa?
Diria que o grande segredo da nossa transformação é mesmo a mudança cultural. Antes da tecnologia e dos novos processos, iniciámos esta jornada com a revisão de tudo o que poderia afetar o foco na evolução. Vínhamos de uma cultura formal, com valores desajustados daquilo que é a nossa realidade e que não se consolidavam em ações concretas. Um deles, por exemplo, objetivava a “geração da máxima rentabilidade para o acionista”. Mais do que socialmente questionável, era um exemplo de um órgão vital da cultura que na verdade não tinha consequência direta na escolha e desenvolvimento de talento para a organização.
Para além da alteração da missão, visão e valores, o desafio foi aculturar dentro e fora da empresa sobre esta nova forma de estar. Criámos condições para que cada um de nós possa chegar ao final do dia e pensar sobre como contribuiu para essa cultura e como esse valor estava intrínseco à sua forma de vida e à sua atitude perante os que o rodeiam.
Quais os próximos passos da Multipessoal em termos de Transformação Digital na área dos Recursos Humanos?
Em 2022, conseguimos levar um pouco da nossa transformação às empresas portuguesas, através da implementação de projetos digitais na área dos recursos humanos. Nos próximos tempos, vamos massificar a oferta de serviços digitais, assumindo-nos como uma one-stop-shop de soluções digitais para recursos humanos. Também no segmento B2B, vamos evoluir digitalmente a nossa oferta de soluções de trabalho temporário, ligando diretamente os nossos 700.000 candidatos às empresas que procuram talento para dar resposta aos desafios das suas atividades.
Já no que diz respeito à relação com candidatos e colaboradores, vamos continuar a focar-nos na otimização dos processos, de forma a que os portugueses consigam rápida e confortavelmente gerir o seu atual ou novo emprego através do Clan. Estamos ansiosos e extremamente motivados para os próximos meses e, acima de tudo, seguros e confiantes de que estamos prontos para o futuro.