Responsabilidade social em tempos de pandemia

Ao longo dos últimos 50 anos, a responsabilidade social corporativa serviu com um veículo chave para medir e reportar os impactos das empresas no meio ambiente e na sociedade face a stakeholders, investidores e público em geral. O ano 2019 preparou o “palco” para uma transformação significativa do modelo de responsabilidade social, com o objetivo de alargar a sua ação e preencher o gap resultante da falta de progressos e até alguns recuos no âmbito das alterações climáticas. 

Já 2020 começou por ser o momento de pôr em prática alguns planos criados em 2019. Só que com a chegada da pandemia, estas mesmas empresas começaram a orientar as suas ações para a emergência atual, nomeadamente no que diz respeito à proteção dos seus próprios colaboradores.

No final do primeiro trimestre. a economia passou rapidamente de uma trajetória de crescimento para uma fase de auto preservação. Manter os colaboradores seguros, alterar e deslocar todos os recursos para tornar possível o trabalho não presencial e preservar o core da atividade foram as grandes prioridades dos líderes das empresas – e que irão definir este ano de 2020 até ao fim.

Apesar destes desafios, a responsabilidade social tem vindo a crescer em 2020, mesmo que com um caminho diferente do que tinha sido antecipado. Se 2019 foi um ano de renovação do foco da responsabilidade social, 2020 tem sido tempo de redirecionar as iniciativas, sendo previsível que em 2021 se venha a fazer um reset da responsabilidade corporativa.

Esta responsabilidade das empresas encontra as suas raízes em conceitos das décadas de 1950 e 1960 relacionadas com os impactos no mundo dos negócios nas sociedades. E por isso se envolveu com grandes causas globais como o ambiente, a sustentabilidade e o governance. 

Tradicionalmente, a responsabilidade social focou-se mais no impacto das empresas na sociedade do que nas oportunidades que estas empresas têm de se envolver nos desafios sociais de uma forma mais generalista. Mesmo assim, 2019 foi uma ano chave para se passar de uma filosofia de “era bom fazer isto” para uma de “devemos fazer isto”. Três desenvolvimentos fundamentais serviram para esta transição.

Em primeiro lugar, o ano passado foi de viragem para modernizar metodologias datadas. Vários grupos internacionais criaram metodologias complementares ou mesmo competitivas para rastrear assuntos de importância crescente, como as emissões de gases de estufa no ciclo de vida dos produtos, por exemplo.

Por outro lado, os investidores elevaram o papel da responsabilidade social ao nível das tomadas de decisão dos boards. As agências de investimento fizeram vários anúncios quanto ao tipo de empresas em que poderiam ou não investir, tendo em consideração a política de responsabilidade social. Os grupos de investimento apresentaram mais de 75 propostas relacionadas com o clima em 2019, por oposição a 17 em 2013.

Em terceiro lugar, as próprias empresas ampliaram o debate em torno da responsabilidade social com foco nas oportunidades para resolver desafios maiores. 

Em 2020 as políticas de responsabilidade social continuam, mas assumem uma configuração diferente da que tinha sido planeada em 2019. Com a emergência da pandemia de Covid-19 as empresas estão a tomar decisões ousadas não só para manter a segurança dos seus colaboradores, mas também para melhorar o ambiente dos locais de trabalho, colocando estas iniciativas de responsabilidade social na linha da frente do foco empresarial.

Do mesmo modo, as empresas estão a reinventar-se para proteger as suas comunidades. Por todo o mundo existem esforço heróicos para manter infraestruturas que forneçam cuidados de saúde, medicamentos, bens alimentares e equipamentos para a educação, incluindo para populações vulneráveis. Alguns fabricantes estão a reconfigurar as linhas de produção para produzirem, pela primeira vez, equipamento médico.

Por fim, os esforços verificados em 2020 para preservar as empresas e voltar à normalidade dos negócios são, por si só, uma forma de responsabilidade social implementada com êxito. A relativamente curta experiência que temos com a Covid-19 reforçou o papel fundamental das empresas em manter a qualidade de vida das populações e comunidades. 

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