Vila Galé: “As práticas sustentáveis são muito valorizadas pelos clientes”

O grupo Vila Galé desenvolve o seu modelo de gestão integrando-o num projecto de sustentabilidade para a sociedade e tendo sempre em conta as gerações actuais e futuras. Em entrevista à Executive Digest, Reinaldo Silhéu, Director de Qualidade, Ambiente e Segurança, explica os principais desafios para o futuro.

Até 2050, o mundo estará a consumir três vezes mais energia eléctrica do que hoje. Nessa altura, a descarbonização e a electrificação serão palavras de ordem. Nesse sentido, quais os principais desafios para o Grupo Vila Galé na aceleração da transição energética?
As nossas estratégias e desafios baseiam-se na premissa de “fazer mais com menos”, buscando sempre a forma mais eficiente de actuar e a consequente optimização do uso da energia. Procuramos recorrer mais a energia limpa, investir mais na produção energética sustentável, ter edifícios e equipamentos mais eficientes e formar as equipas e sensibilizar clientes e parceiros de negócio e estar a par da constante inovação que vai chegando ao mercado. Subjacente a este posicionamento, além da transição energética e descarbonização, está sempre a preocupação com a protecção e conservação do meio ambiente, a responsabilidade social e a viabilidade económica.

No que toca à sustentabilidade ambiental e eficiência energética, quais as prioridades actuais principais do Grupo Vila Galé?
Tendo em conta os desafios identificados e as estratégias que temos vindo a seguir, entre as prioridades podemos destacar: minimizar gastos energéticos, maximizar a eficiência hídrica, reduzir a pegada ambiental, apostar cada vez mais na economia circular, combater o desperdício e melhorar a gestão de resíduos, alagar a participação em projectos de edução ambiental, investir em mobilidade sustentável, qualificar os recursos humanos. Estamos comprometidos com metas ambiciosas que nos permitam contribuir para atenuar as alterações climáticas.

Todo o Grupo está sempre à procura das melhores soluções para promover a eficiência energética. Podem destacar alguns exemplos?
Temos vindo a instalar parques de painéis fotovoltaicos nas coberturas dos hotéis e actualmente contamos já com cinco – três no Algarve e dois na região de Lisboa – com uma produção na casa dos 0,2MW. Instalámos também outros 15 parques em Portugal, com um acrescento de produção em cerca de 1MW. Ou seja, este ano a nossa capacidade instalada de produção de energia elétrica será de cerca de 1,2MW. Actualmente, a energia eléctrica consumida em Portugal, onde temos 28 hotéis, é maioritariamente proveniente de fonte 100% renovável. No caso do Brasil, 100% da energia eléctrica consumida nas dez unidades é certificada, de fontes eólica, solar, a partir de biomassa ou com recursos a pequenas centrais hidroelétricas.
Também a concepção e construção das novas unidades hoteleiras são pensadas para ter um melhor desempenho energético, com mais aproveitamento da luz natural, recurso a iluminação de baixo consumo, instalação de sensores de movimento nas áreas comuns e de células fotoelétricas, de temporizadores na iluminação exterior, de economizadores de energia nos quartos e aquisição de equipamentos de acordo com a sua classe energética.
A formação é outra das áreas em que é essencial investir, sendo que a poupança energética é um dos temas centrais para este ano, com acções internas específicas. E de referir ainda as políticas plastic free e paper free que introduzimos nos hotéis Vila Galé, sempre com o objectivo de, através do recurso à tecnologia e seguindo as melhores práticas, ter maior sustentabilidade ambiental e eficiência energética. No caso da política plastic free, temos vindo a substituir os itens de plástico de utilização única, ou seja, deixámos de ter amenities nos quartos e instalámos dispensadores recarregáveis, o que nos permite poupar mais de 8 toneladas de plástico por ano. E, no último ano, a diminuição do resíduo plástico/hóspede foi de cerca de 5%. Já quanto ao objectivo paper free, trata-se de substituir o uso de papel por ferramentas tecnológicas – novos hardware e software, melhoria da rede de internet, recurso a dispositivos móveis -, conseguindo-se reduções na casa dos 7%.

O primeiro hotel do grupo com certificação energética surgiu em 2009. O que isso permitiu ao grupo na implementação de boas práticas?
Permitiu desde cedo ir testando as diferentes soluções que foram surgindo no mercado, fazer um bom percurso de aprendizagem e acumular um know how robusto sobre as melhores práticas e tecnologias existentes. Fomos testando, aperfeiçoando e alcançando cada vez melhores níveis de eficiência. Naturalmente que todo esse percurso foi também essencial para reforçar a consciencialização de todos os envolvidos: colaboradores, clientes, parceiros, fornecedores, comunidades locais. Na Vila Galé temos três ecohotéis: Vila Galé Albacora, em Tavira; eco resort de Angra e eco resort do Cabo, ambos no Brasil. E muitos dos processos e procedimentos que têm foram já alargados a outras unidades, o que nos permite caminhar mais rápido e melhor para atingir as metas previstas.

A Vila Galé tem na sua política de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável espelhada a sua forma de estar enquanto empresa orientada pelo respeito social, pelo equilíbrio económico e consideração pelo meio ambiente. Desta forma, quais os principais factores a ter em conta quando desenvolve os seus projectos?
Podemos destacar alguns pontos como: procurar constantemente por inovação que permita maior eficiência, consolidar a aquisição de energia limpa e ter uma comunicação interna e externa que promova a sustentabilidade.

Qual o valor investido em eficiência energética? E que metas pretendem atingir?
É difícil explanar um valor concreto, pois têm sido imensos os investimentos nesta área, onde não só incluímos por exemplo a instalação de muitos equipamentos novos e mais eficientes, como também e até principalmente, na restruturação, adaptação e alteração de muitos equipamentos existentes com principal foco na área de AVAC e nas lavandarias. A nossa meta é tentarmos reduzir o nosso consumo em cerca de 2 a 3% ao ano, tanto ao nível do gás, como da energia eléctrica, sendo que o desafio é realmente grande, uma vez que a Vila Galé ao longos dos anos nunca parou de investir nesta área. Existindo também transição de energias fósseis para eléctrica, estas reduções para a energia eléctrica torna-se ainda mais desafiante.

Que balanço faz dos projectos de instalação de painéis solares? Quais os principais projectos que têm em curso nesta área?
Os projectos de instalações de painéis demonstram-se positivos dentro da sua própria limitação de espaço disponível. De qualquer modo, sempre que possível continuaremos a investir neste modelo e principalmente no Brasil, pelo espaço e pelas horas de sol disponíveis, é uma fonte que vamos continuar a analisar possibilidades para desenvolver novos projetos.

E em relação à instalação de sistemas de controlo centralizados dos equipamentos para aquecimento, ventilação e ar condicionado?
O investimento em sistemas de BMS e automação predial tem sido equacionado, de forma a tornarmos o nosso controlo mais eficiente e automatizado. Principalmente nas unidades mais antigas, o desafio é maior, no entanto, temos feito alguns estudos/testes e temos participado em fóruns de desenvolvimento que têm apresentado algumas soluções. Neste momento, podemos afirmar, que com certeza teremos soluções mais automatizadas e eficientes também nas estruturas mais antigas. Estes sistemas hoje permitem ter um potencial de controlo sobre o consumo muito maior, assim como, uma previsão sobre a manutenção dos equipamentos muito mais assertiva e objectiva.

Actualmente e respondendo à procura crescente de uma mobilidade mais sustentável por parte dos clientes, todos os hotéis Vila Galé em Portugal estão providos com postos de carregamento eléctrico? Como tem sido a adesão dos clientes?
Cada vez recebemos mais clientes que se deslocam em carros eléctricos, pelo que a procura tem sido exponencial. Consequentemente, a adesão e a satisfação dos hóspedes por termos este serviço também tem aumentado. A mobilidade sustentável e a redução da pegada de carbono associada aos combustíveis fósseis são outros dos nossos desígnios. Nessa lógica também temos vindo a substituir a frota interna por veículos eléctricos ou híbridos.

O Grupo Vila Galé mantém a prática da sustentabilidade desde a sua génese. Nesse sentido, o que procurarão os clientes do futuro?
Verificamos que os clientes procuram cada vez mais hotéis e experiências de viagem genuinamente preocupadas e verdadeiramente empenhadas na sustentabilidade ambiental. Mais do que isso, é cada vez maior o número de pessoas que quer fazer parte do processo, notando-se mais consciência quanto à necessidade de poupar água e recursos energéticos. Cada vez mais as práticas sustentáveis são uma forma de diferenciação nesta actividade e muito valorizada pelos clientes.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Ecologia, Eficiência Energética e Energias Renováveis”, publicado na edição de Abril (n.º 205) da Executive Digest.

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