Sacoor Brothers: “Ter uma operação bem musculada é crucial”

A Sacoor Brothers é uma das marcas portuguesas com maior visibilidade e sucesso internacional. Em entrevista à Executive Digest, Sandra Silva, co-CEO da Europa, explica os principais desafios e oportunidades da marca no processo de internacionalização.

Quais as principais razões que levaram a Sacoor a iniciar o processo de internacionalização?

A Sacoor Brothers nasceu em 1989 e, após muitos desafios e conquistas, passaram 35 anos fantásticos. Acreditamos que somos ao dia de hoje uma das marcas portuguesas com maior visibilidade e sucesso internacional, o que demonstra uma aposta ganha na internacionalização. Somos orgulhosamente portugueses, mas a internacionalização foi uma necessidade para nos potenciar crescimento, pois sempre acreditámos que os nossos conceitos teriam sucesso noutros mercados.

Que balanço fazem até ao momento do processo de internacionaliação?

Um balanço muito positivo. Estamos hoje em 13 países e com projectos de expansão em mais alguns.

Quais os principais factores para se ser bem sucedido durante o processo de internacionalização?

Acreditamos que ter uma operação bem musculada é crucial. Ter as pessoas certas e capazes faz toda a diferença. A cultura é para nós um factor muito importante, por isso temos muitos portugueses a trabalhar connosco fora de Portugal, só assim acreditamos ser possível manter o nosso ADN além-fronteiras. Outro factor que é determinante para o sucesso da operação é o estudo exaustivo dos mercados para reduzir o risco. Todos os potenciais entraves na entrada de empresas estrangeiras noutros países são tidos em consideração, pois podem ser determinantes para o nosso sucesso em determinado território.

Quais os principais desafios associados à adaptação empresarial/ cultural dos produtos ou serviços?

A conclusão a que chegámos é de que existe uma regra quase de 80-20 em todos os mercados, 80% da colecção e serviços que prestamos são iguais em todo o mundo porque queremos que a nossa marca tenha consistência a nível internacional. Claro que em alguns territórios temos a necessidade de nos adaptar aos costumes locais, como por exemplo, em vez de café nespresso em algumas das lojas, oferecemos café árabe aos clientes. Em vez de termos piano termos um dj. Adaptamo-nos sempre às novas culturas e hábitos sem desvirtuar o nosso conceito, o nosso ADN, que é servir o cliente.

Qual é o papel da tecnologia e da inovação no vosso processo de internacionalização?

Acreditamos que ao resolvermos as dores dos clientes, a identificar os seus pain points, estamos numa lógica de design thinking, a inovar. Obviamente, que a inovação não vem só da identificação destes pontos, mas se olharmos para o exemplo da Uber, alguém fez a customer journey e identificou uma dor do cliente que não queria estar à chuva para apanhar um táxi, então essa dor foi resolvida com tecnologia – uma app. Também nós acreditamos que a tecnologia deve ser relevante para o consumidor, se não for é apenas uma commodity. Como tal, também nós desenhamos a jornada do cliente connosco, seja esta offline ou online, estamos sempre numa lógica kaizen, de constante melhoria, permanentemente a identificar as dores para poder corrigir e servir cada vez melhor o nosso cliente global.

E qual a importância da sustentabilidade neste mesmo processo?

Neste momento a sustentabilidade já não é um wishlist, é um delivery que todos nós e empresas têm de contribuir, começando nos hábitos e numa cadeia de valor que envolve as empresas em todas as fases do supply chain. Estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance, mas sabemos que não dependemos só de nós. No que depende de nós, estamos a alargar as inicitavivas em diferentes áreas da empresa. No que diz respeito ao produto estamos a utilizar cada vez mais matérias- primas sustentáveis, fazendo inclusive o uso de matérias-primas recicladas. Queremos tornar-nos numa empresa que ajuda cada vez mais o planeta e reduzir rapidamente a pegada ecológica.

O que deve fazer uma marca como a Sacoor para se manter competitiva a nível global?

Estamos hoje a reposicionar a marca Sacoor Brothers, elevando-a ainda mais em termos de categoria premium. Isto irá fazer com que a marca nos 13 países em que opera seja cada vez mais apetecível. Estamos a inovar cada vez mais em termos de produto, adicionando novas linhas como o “K-easy” ou o “Luxe Leisure”. Este é um trabalho constante, estamos em contante pesquisa e desenvolvimento para proporcionar a cada colecção mais e melhores produtos. As melhores marcas do mundo estão permanentemente a melhorar, a inovar e a tentar ganhar a atenção do cliente que hoje pode comprar qualquer marca esteja ela em qualquer parte do mundo, através do e-commerce, o que faz com que também nós tenhamos a ambição de fazer parte dessas grandes marcas mundiais. Iniciativas que promovem a nossa portugalidade além-fronteiras são apreciadas pelo nosso cliente internacional, nomeadamente a associação à selecção nacional, ao Cristiano Ronaldo, ao Estoril Open, celebridades de Hollywood entre outras.

Ao nível da internacionalização, quais os objectivos da Sacoor para os próximos anos?

Numa lógica de growth mindset, vamos continuar a crescer de forma sustentável. Não temos pressa em crescer, somos muito disciplinados financeiramente e gostamos de crescer ao nosso ritmo. Mas é claro que vamos crescer, quer nos mercados onde estamos, quer em novos mercados. Estamos a estudar novos mercados no Médio Oriente e na Ásia, o que ocupa neste momento a nossa maior atenção, pois acreditamos que o crescimento na próxima década virá substancialmente destas duas regiões.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Internacionalização das Marcas Portuguesas”, publicado na edição de Março (n.º 216) da Executive Digest.

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