Pequeno-Almoço Debate: «Empresas apostam na formação para reter talento»

A formação é um factor de retenção de talento nas empresas. A procura de programas costumizados tem vindo a crescer mas ainda há um número significativo de alunos a fazer um investimento a nível pessoal.

As instituições de ensino presentes no pequeno-almoço debate da Executive Digest são unânimes: em período de maior incerteza as pessoas assumem as rédeas da sua própria formação e, por isso, assiste-se a um aumento da procura individual. Do ponto de vista das empresas o sentimento é o mesmo – verifica-se um maior interesse pelos temas da disrupção, liderança ou competitividade.
Francisco Velez Roxo (Presidente do ISEG Executive Education), Joana Santos Silva (Professor & Director of Innovation do ISEG Executive Education), Tiago Guerra (Director do Técnico+ do IST), Rita Anjos (Program Admissions manager do ISCTE Executive Education), Ana Rita Veiga (Head of Marketing & Communication do ISCTE Executive Education), João Valentim (Executive Education manager na AESE Business School) e Sunamita Cohen (Communication & Engagement director da Porto Business School), foram os especialistas presentes na última conversa sobre o ensino de executivos.

TEMAS PROCURADOS
«Os formandos querem definir o seu próprio futuro. Estão menos adormecidos, têm mais responsabilidade e querem ter maior estabilidade. É uma oportunidade para nós», assim se inicia a conversa com algumas das principais instituições da área de formação de executivos em Portugal. Os especialistas presentes sublinham também que as empresas estão a investir mais, sobretudo em programas à medida, preocupando-se com propostas de formação para a retenção de talento.
«A procura por parte dos formandos e organizações não se contenta com as soluções de há 10 anos. Hoje em dia, há mais competição no mercado e eles ambicionam programas transformadores. Isto é óptimo porque nos desafia e obriga a dar soluções que vão ao encontro das pessoas», acrescenta um dos especialistas.
A grande responsabilidade das escolas de formação de executivos passa também por trabalhar o aumento de confiança nos líderes e nas empresas. Além disso, adiantam, os temas transversais e robustos da Gestão continuam a ser uma mais-valia nos executive masters e pós-graduações. Todos os participantes concordam que os líderes precisam de ser motivados para conseguirem passar esta conjuntura com mais tranquilidade. A resiliência emocional, as mudanças de profissão e a constante necessidade de reinvenção são desafios que muitos terão de enfrentar nas suas carreiras. «É preciso dar formação robusta, presencial e que confira conhecimento, networking, partilha e envolvimento».
Entre as áreas mais procuradas, os responsáveis das instituições de ensino presentes neste pequeno-almoço consideram que existe uma necessidade enorme em temas de estratégia, finanças, marketing ou liderança. Sobre este último, existe uma preocupação por parte das organizações em como conseguem desenvolver e motivar uma equipa neste contexto de incerteza. «A formação executiva pode vir na conversão e ajustamento às necessidades de procura mediante learning by doing», sublinha um dos participantes. «As business schools têm de encontrar soluções para o life long learning porque as empresas estão mais exigentes connosco e também procuram produtos clássicos para reter talento, como as pós-graduações e os MBA. Em relação a estes, o formato full time é cada vez mais um produto de nicho, comparativamente com outro tipo de entrega, nomeadamente o digital.
Transformação digital, blockchain, cibersegurança e Inteligência Artificial são outros dos temas mais procurados e que exigem uma adaptação transversal aos programas. «Os executivos precisam de saber lidar, mas também de antecipar e criar valor para as suas próprias empresas», acrescentam os membros presentes neste pequeno-almoço debate organizado pela Executive Digest.

TALENTO
Numa altura em que estão a sair de Portugal muitos jovens qualificados – os números estão próximos aos registados nas décadas de 60 e 70, embora na época os motivos fossem diferentes. Nesse sentido, os especialistas acreditam que as escolas têm de criar algumas tendências e acompanhar o desenvolvimento das faixas etárias mais jovens porque eles são o futuro. «Temos de criar modelos e estar atentos ao que se faz lá fora até pela questão da internacionalização. Trabalhamos num mercado aberto, onde existem várias gerações de portugueses envolvidos. As nossas empresas também podem beneficiar disso e colocar estes alunos nos seus quadros».
Os participantes também consideram que as novas gerações vão forçar uma mudança na estrutura das organizações: não querem ter a obrigatoriedade de trabalhar em horários fixos e ambicionam autonomia, cumprindo os objectivos, as missões e os desafios propostos. «É uma realidade com que as grandes empresas se deparam. Replicar o sentido de comunidade é difícil; é preciso que as empresas saibam criar este ambiente de proximidade, união e propósito».
De facto, hoje há diferentes gerações nos programas das escolas de negócios. Existe uma amplitude maior e isso é um reflexo do que se passa dentro das empresas. Por outro lado, é uma preocupação para as empresas e administradores saber como é que se consegue gerir as várias gerações. Motivar um millennial é muito diferente do que motivar alguém com mais de 10 ou 20 anos de experiência pois é preciso ter em atenção factores como a flexibilidade, os planos de desenvolvimento, os planos de remuneração, entre outros. «Temos quadros intermédios a fazer de tudo, acabando por não haver uma renovação e estruturação dessas pessoas para que se consiga dar resposta definitiva às necessidades do mercado de trabalho. A forma de pensar das novas gerações é completamente diferente».

PME E INTERNACIONALIZAÇÃO
Os membros presentes neste pequeno-almoço debate concordam que as pequenas e médias empresas têm muito a ganhar com a formação. Podem tornar-se mais competitivas, ser geradoras de emprego e ajudarem ainda mais no desenvolvimento económico de Portugal. «Esse é um dos grandes desafios para o futuro, o de chegarmos a mais organizações e pessoas. E depois há uma questão transversal: muitos empresários perguntam porque vale a pena fazer formação», contam os intervenientes. É que alguns tiveram más experiências de formação e consultoria no passado e estão na dúvida, até porque uma intervenção numa empresa pequena implica uma mudança que pode ser gigantesca.
As exigências do líder estão a ser postas em causa porque têm de ser líderes que conseguem funcionar nestes tempos de grande mudança, de incerteza e de volatilidade.
Durante o pequeno-almoço debate foi ainda abordada a questão da internacionalização. «O posicionamento tem de ser o de internacionalizar. Muitos dos nossos alunos estrangeiros querem vir estudar connosco para posteriormente ficarem a trabalhar em Portugal ou em outro país na Europa».

Este artigo faz parte do Caderno Especial “MBA, Pós-Graduações & Formação de Executivos”, publicado na edição de Setembro (n.º 210) da Executive Digest.

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