Multipessoal: Globalização do talento

A transformação digital está a mudar o mundo, de um modo geral, e o mercado de trabalho não é, claro, excepção. Do ponto de vista do trabalho propriamente dito, são óbvias as mudanças em termos de metodologias e de regimes de trabalho, com os modelos híbridos e remotos a prevalecerem e a serem cada vez mais valorizados por parte dos profissionais. A comunicação digital está, incontornavelmente, em expansão e isso reflecte-se na forma como as empresas e equipas se relacionam e desenvolvem as actividades inerentes a operação dos negócios. Temos assistido à desmaterialização crescente dos processos e a tendência será, cada vez mais, nesse sentido.

«Por outro lado, assistimos também a mudanças naquilo que são os próprios processos de recrutamento e gestão de pessoas. Desde a realização de entrevistas online, à assinatura digital de contratos, passando por onboardings 100% digitais, disponibilização de e-learning, entre muitos outros elementos, assistiu-se, num curto espaço de tempo a clara transição para o digital, não só por uma questão de agilidade e eficiência, mas também para dar resposta às preferências e prioridades dos profissionais. Finalmente, também no que se refere à procura de talento, o impacto é claro: nos últimos anos, a necessidade de recrutar perfis relacionados com a tecnologia e a digitalização aumentou vertiginosamente. Assistimos, mesmo, a uma escassez de talento nesta área, que tem gerado uma grande pressão sobre as empresas recrutadoras e servido de catalisador a um dinamismo e competitividade sem precedentes no mercado», explica André Ribeiro Pires, Chief Operating Officer da Multipessoal, em entrevista à Executive Digest.

Sobre os principais desafios e oportunidades para candidatos e empregadores, podemos dizer que muitos dos principais desafios são, igualmente, as principais oportunidades, quer para candidatos, quer para empresas. A diferença está na forma como escolhem endereçar a mudança e como procuram adaptar-se às novas tendências. «Com o acentuar da transformação digital, observada ao longo dos últimos anos, vimo-nos deparados com uma desmaterialização das fronteiras – o local físico de trabalho deixou de ter tanta importância e assistimos, em muitas áreas e sectores, a uma verdadeira globalização do talento. Ora, se por um lado, empresas e candidatos dispõem agora de uma maior pool de talento e de oportunidades, respectivamente, por outro, este acesso mais alargado gera também uma competitividade crescente. Para os candidatos, o próximo desafio pode muito bem estar do outro lado do mundo, com pacotes de remuneração bem mais atractivos do que no país de origem. Para as empresas, no entanto, dependendo do mercado em que operam, pode haver uma dificuldade crescente em competir com empregadores de países com economias mais robustas e apelativas», acrescenta André Ribeiro Pires.

Depois, continua o responsável da Multipessoal, é incontornável referir o desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA), que está a mudar profundamente o mundo e o próprio mercado de trabalho. A possibilidade de automatizar processos com recurso à tecnologia é, sem dúvida, uma enorme mais-valia para os negócios. A automatização traz maior agilidade e menor risco de ocorrência de erros em determinados tipos de tarefas, o que aumenta a eficiência dos processos. No entanto, a outra face da moeda é que, muitos profissionais, vêem as suas competências e funções tornarem-se obsoletas ou serem mais facilmente desempenhadas com recurso à IA, o que pode deixá-los numa posição de vulnerabilidade. Neste ponto, é fundamental que haja, de parte a parte, um esforço de adaptação e, sobretudo, de requalificação, para que se possa, efectivamente, libertar o tempo dos profissionais previamente dedicado a tarefas mais rotineiras, por exemplo, e aproveitá-lo para funções mais relevantes e que possam beneficiar mais do elemento “humano”, a que a IA ainda não consegue dar resposta adequadamente.

«Em 2023, assistimos a alterações sem precedentes no mercado de trabalho tecnológico, motivadas, em parte, pela ascensão da IA e pelo foco crescente no valor dos dados e da cibersegurança. Ainda que tenha havido grandes layoffs em algumas das maiores empresas do sector, a nível global, a necessidade de integrar profissionais com perfis ligados à tecnologia e à digitalização mantém-se. A diferença? Cada vez mais, é importante apresentar competências especializadas, com vista não só a dar resposta às necessidades do presente, mas também a antecipar as necessidades do futuro. Assim, observamos uma tendência clara no que se refere aos perfis e funções mais procurados. Profissionais com competências ligadas ao Cloud Computing, Data Analytics, DevOps, IA e Cibersegurança estão, neste momento, no topo das prioridades das empresas», sublinha André Ribeiro Pires.

DIGITAL

A digitalização traz, sem dúvida, inúmeras oportunidades para as empresas que saibam identificar o seu valor e tirar partido do mesmo. Em primeiro lugar, as tecnologias digitais permitem melhorar e agilizar o serviço prestado aos clientes, algo que é fundamental para a sustentabilidade dos negócios. Ferramentas como chatbots, linhas de apoio telefónico, ou outras formas de comunicação baseadas em automação têm vindo a expandir-se e podem ser óptimas aliadas.

Depois, é importante referir a desmaterialização de processos, através da eliminação do (tantas vezes) obsoleto papel e da mitigação do excesso de burocracia. A aposta em alternativas digitais permite agilizar processos, reduzir a ocorrência de erros associada a tarefas rotineiras e libertar tempo para que os profissionais se foquem noutro tipo de funções às quais possam acrescentar maior valor, por exemplo, trabalhos que possam beneficiar de criatividade e sentido crítico.

«Finalmente, os dados, que já referimos mais brevemente acima. Muitas empresas já estão a investir em estratégias e sistemas de análise de dados, e acreditamos que isto possa ser um verdadeiro game changer. A recolha e análise de dados suporta a tomada de decisões informadas, permite identificar novas oportunidades ou áreas que sejam menos produtivas, e até mesmo prever e antecipar tendências, de forma a preparar proactivamente mecanismos e respostas com uma visão de futuro. O meio digital tem, realmente, um enorme potencial, que não se esgota no que acabamos de referir. É, por isso, crucial que as empresas invistam algum tempo e recursos a estudar e analisar este tema, para que possam desenvolver estratégias adequadas às suas necessidades e realidades específicas», refere o responsável da Multipessoal.

A evolução tecnológica acontece a uma velocidade vertiginosa e é mais rápida do que a evolução natural. O desenvolvimento e aumento da capacidade dos computadores, bem como a redução das dimensões das suas componentes, permitem que a tecnologia chegue praticamente a qualquer parte, através de diversos dispositivos. Esta expansão e democratização do acesso mudam, necessariamente, a forma como nos relacionamos uns com os outros e com o mundo, e tem, claro, um impacto inequívoco na sociedade.

As TI permitem eliminar fronteiras e aproximar as pessoas (e os negócios das pessoas), permitem tornar tudo mais rápido, imediato e global. Realizamos, cada vez mais, as nossas tarefas e rotinas com recurso a ferramentas digitais, o que faz com que assimilemos novos hábitos e expectativas.

Como consumidores, por exemplo, tendemos a esperar que as coisas aconteçam de forma cada vez mais simples e instantânea, gravitamos para a agilidade e o automatismo. Por outro lado, nunca nos damos por satisfeitos e, como tal, procuramos uma evolução constante e rápida dos processos, que só é possível graças às TI e à digitalização.

Assim, é impossível pensar em evolução social, sem pensar em evolução digital. Ambas estão ligadas e são absolutamente interdependentes. Todos estes conceitos têm as suas especificidades, mas, em comum, têm a capacidade de acelerar o desenvolvimento e promover o crescimento dos negócios, através da oferta de serviços mais personalizados, mais ágeis e mais seguros, com base em dados.

A IA traz incontáveis possibilidades, mas o destaque vai para o seu poder e capacidade de aprendizagem e de análise. Isto permite obter insights, com base na análise de dados, que são extremamente úteis para criar novas formas de operacionalizar os negócios e, em última análise, de servir melhor os consumidores. Exemplos disto são a personalização de ofertas, a identificação de interesses ou a antecipação de necessidades, que proporcionam uma experiência única e elevada aos consumidores e se traduzem num enorme potencial de conversão para as empresas.

Segundo André Ribeiro Pires, o Big Data também se associa a isto, pois permite gerir a quantidade massiva de dados que é produzida constantemente, a nível global. As empresas começam a identificar a oportunidade de tirar partido destes dados para oferecerem serviços mais customizados e antecipar tendências de mercado, mas não é só. Com a competitividade crescente e as mudanças constantes na realidade empresarial, as empresas conseguem alavancar estes dados como forma de suporte na tomada de decisões estratégicas.

O termo blockchain surge, muitas vezes, associado a criptomoedas, mas esta tecnologia pode ter muitas outras aplicações. Ao registar transacções e armazenar transacções em cadeias de dados que não podem ser alteradas, o blockchain aumenta a redundância e fiabilidade, o que proporciona maior segurança. Exemplos de possíveis aplicações desta tecnologia são a entrega de relatórios médicos ou mesmo o estabelecimento de contratos.

«O processo de evolução tecnológica é extremamente rápido e dinâmico. Para as empresas, a chave do sucesso é ter a capacidade de se manter a par e de ser ágil na análise de como as novas ferramentas podem acrescentar valor aos seus negócios», acrescenta o responsável.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Transformação Digital ”, publicado na edição de Novembro (n.º 212) da Executive Digest.

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