MedicineOne: O que esperamos de um médico?
A pergunta parece simples e a resposta óbvia, mas não é bem assim. Todos nós, quando procuramos cuidados de saúde, esperamos ser curados. Afinal de contas, o médico é o profissional com a mais longa formação académica da sociedade e a tecnologia a que tem acesso tem evoluído a um ritmo nunca visto. As conquistas científicas das últimas décadas têm permitido controlar ou erradicar doenças que noutros tempos eram fatais. A esperança média de vida cresceu quase 20 anos desde 1960. Por isso, é habitualmente com expectativa elevada que os procuramos.
Apesar de tudo isto, a realidade profissional de um médico é bem mais desafiante do que possamos imaginar. Não há nada mais complexo que o corpo humano e não há duas pessoas iguais. Existem centenas de doenças e cada um de nós pode ter uma ou várias delas. Existem milhares de medicamentos e outras alternativas terapêuticas para cada uma, mas qual será a melhor abordagem para as condições únicas de cada pessoa?
O volume de informação envolvido é tão grande e por vezes a evidência disponível tão escassa que em muitas situações, é difícil ao médico fazer aquilo que esperamos dele. A consequência desta complexidade é que, apesar de todo o seu empenho, o médico está sujeito a cometer erros que podem ter consequências graves ou mesmo fatais.
O PROBLEMA E A SUA DIMENSÃO
Os estudos disponíveis mostram que o erro clínico tem uma dimensão gigantesca em todo o mundo. Apesar de não existirem estudos que incidam especificamente sobre Portugal, é seguro afirmar que a nossa realidade será muito semelhante à de outros países como os Estados Unidos ou Inglaterra, onde este problema foi bem estudado.
De acordo com o estudo Medical error – the third leading cause of death in the U.S., publicado pela British Medical Journal (BMJ), em 2016, nos Estados Unidos, o erro clínico em todas as suas formas é a terceira causa de morte, sendo responsável por cerca de 250.000 mortes anuais evitáveis.
Em inglaterra, o estudo Economic analysis of the prevalence and clinical and economic burden of medication error in England, publicado pela BMJ em 2020, estima que anualmente ocorrem cerca de 66 milhões de erros de medicação potencialmente significativos em termos clínicos, dando origem a novas hospitalizações que no conjunto somam 181.626 dias e custam 98,5 milhões de libras.
Em Portugal não existem estudos que caracterizem esta realidade. Por isso, se fizermos uma extrapolação destes números para a nossa dimensão, temos que em Portugal o erro clínico em todas as suas formas pode ser responsável por quase 8.000 mortes anuais e por cerca de 9 milhões de erros de prescrição com potencial relevância clínica, dando origem a 32.191 dias de novas hospitalizações.
Não há forma de tornar estes números mais bonitos. São a dura realidade.
EXISTE UMA SOLUÇÃO?
Felizmente, esta realidade não é uma fatalidade. O uso de tecnologia na prestação de cuidados de saúde é uma constante. Desde o estetoscópio para a realização da simples auscultação pulmonar e cardíaca até à complexa tomografia por emissão de positrões para detecção do cancro (PET), o médico é apoiado por boa tecnologia em todas as tarefas que executa.
É aqui que está a chave para o combate ao erro clínico e aumento da segurança dos doentes. Precisamos dar ao médico boa tecnologia, que atue proativamente no momento da prescrição, que seja capaz de analisar todo o contexto clínico do doente, que o informe dos riscos envolvidos e faça um aconselhamento em conformidade.
Felizmente, essa tecnologia já existe. Não precisa de ser inventada. Está disponível e é capaz de verificar um largo espetro de riscos clínicos como interações entre medicamentos, contraindicações medicamentosas, incompatibilidades físico-químicas, especificidades para a prescrição em idosos, alergias e muito mais.
Até hoje, só uma solução de software disponibilizava este tipo de sistemas de apoio à decisão em Portugal. O M1, a principal solução de gestão clínica usada na área privada e produzido pela MedicineOne, teve desde a sua origem o seu foco neste tipo de problemas. Os cerca de 15.000 médicos que diariamente usam a solução, já beneficiam deste tipo de ajudas e tiram partido dela de forma muito relevante.
No conjunto destes médicos, só durante o ano de 2022 foram evitados 3,48 milhões de potenciais erros de medicação com significado clínico relevante, que poderiam levar a lesões graves, permanentes ou fatais. Estes erros foram evitados pois no momento da prescrição, o sistema detetou os riscos existentes, informou e aconselhou o médico e este alterou a prescrição em conformidade.
É difícil traduzir estes números dos erros que não aconteceram em vidas salvas, lesões graves evitadas, hospitalizações que não aconteceram e dinheiro poupado. Apesar disso, o conhecimento que temos da realidade refletida nos estudo internacionais, dá-nos a certeza de que este sistema está a fazer toda a diferença na performance clínica de parte dos médicos portugueses.
E PARA OS RESTANTES MÉDICOS?
Se é verdade que cerca de 15.000 médicos em Portugal são apoiados por este sistema com o impacto positivo apresentado antes, é verdade que outros tantos fazem a sua prescrição sem qualquer tipo de apoio deste tipo. Esta realidade é especialmente dramática no SNS, onde por decisão política, só as soluções de software produzidas pelo estado (SPMS) podem ser usadas. Graças a essa decisão, os médicos do SNS não têm acesso a este tipo de tecnologia que pode fazer a diferença entre a vida e a morte.
No entanto, a partir de agora, mesmo para esses médicos, passa a ser tecnicamente possível usufruírem deste tipo de sistemas, mantendo o seu software usado actualmente.
Isso é possível graças a um novo serviço de inteligência clínica residente na cloud, produzido pela MedicineOne. Este sistema chama-se Clinical Brain e permite a integração com todos os sistemas de gestão clínica que suportam a prescrição de medicamentos, adicionando-lhes assim uma camada de segurança aos processos de prescrição.
Este novo serviço trouxe para fora do M1 os sistemas de apoio à decisão que até aqui eram só dele. Com a sua disponibilização através da cloud, todos os softwares clínicos podem passar a tirar partidos dos mecanismos de deteção de erro e a apoiar os seus médicos com os mecanismos há muito disponíveis no M1.
Assim, são criadas condições para que todos os médicos em Portugal passem a usufruir destes apoios à decisão. Na verdade, não são apenas os médicos portugueses que vão poder tirar partido deles. O Clinical Brain vai disponibilizar as suas capacidades também para todos os médicos de língua espanhola, francesa e inglesa. Desta forma, uma parte significativa dos médicos do mundo podem passar a ter acesso a sistemas de apoio à decisão, sem terem que alterar a sua solução de gestão clínica actual.
A MedicineOne, consciente da dimensão do problema do erro clínico, e construindo desde há mais de 30 anos soluções que o mitigam, passará a usar esta solução como uma forma de internacionalizar as suas soluções. Esta abordagem contribuirá assim para o seu crescimento, ao mesmo tempo que entrega valor a populações que de outra forma dificilmente seriam alcançadas. O Clinical Brain é boa tecnologia portuguesa que apoiará médicos em todo o mundo na nobre e essencial missão de salvar vidas.
O IMPACTO DO ERRO NAS FINANÇAS DA SAÚDE
Até aqui falámos do impacto do erro clínico na saúde das pessoas, mas precisamos falar também do impacto que ele começará a ter nas finanças da saúde. A saúde tem um modelo de financiamento assente na produção realizada, ou seja, os profissionais de saúde recebem de acordo com o número de consultas, cirurgias ou exames realizados. Não é tida em conta a qualidade dos cuidados prestados, mas apenas a sua quantidade.
Este modelo está esgotado e será progressivamente substituído por um novo modelo de pagamento em que a qualidade dos cuidados prestados será um factor determinante no valor monetário a receber. No novo modelo Value Based Healthcare (VBH), não se pagam consultas ou cirurgias feitas, mas sim doentes curados ou controlados.
Por se tratar de uma revolução no modelo de financiamento, a VBH tem vindo a ser adotada de forma progressiva. Em Portugal existem já excelentes exemplos da sua adoção que provam que este caminho, que tem na qualidade o factor central, pode e deve ser feito.
Com a adoção da VBH, o problema do erro clínico ganha uma nova dimensão. Aos problemas de saúde, junta-se o problema de o médico e a sua organização verem o seu pagamento diminuído pelos erros cometidos. Esta é mais uma forte razão para que todos os médicos façam o seu trabalho apoiados por sistemas que os ajudem a diminuir o erro clínico.
Em conclusão, podemos afirmar que o erro clínico tem um grande peso na qualidade de vida de todos nós, mas a adoção de boa tecnologia, tem já hoje um efeito relevante na diminuição desse problema. Podemos dizer ainda que essa mesma tecnologia terá também um impacto financeiro positivo quando a Value Based Healthcare se tornar uma realidade a curto prazo.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “O Mundo da Saúde”, publicado na edição de Junho (n.º 207) da Executive Digest.