Enquadramento: Descarbonização requer uma transformação económica

A opinião pública mundial e, consequentemente, os governos estão actualmente como nunca despertos para a questão do aquecimento global e das alterações climáticas, mas o tema vem a ser debatido ao mais alto nível há 30 anos sem grandes avanços. Os últimos dados das Nações Unidas indicam que em 2021 as emissões de dióxido de carbono atingiram novos recordes e dados preliminares indicam a mesma tendência para 2022, um ano marcado pela guerra na Ucrânia e por uma crise alimentar, energética e inflacionista mundial.
Os 30 anos de promessas e cimeiras e de avisos dos cientistas, para o imperativo de conter o aquecimento global, tiveram como resultado que a Europa teve este ano o Verão mais quente de sempre, Portugal conheceu uma seca sem paralelo e outras regiões do mundo sentiram inundações históricas, tudo devido ao aumento das temperaturas.
Os impactos das alterações climáticas têm-se multiplicado, como mostram os diversos desastres que atingiram o planeta em 2022, desde as inundações históricas no Paquistão, às repetidas ondas de calor na Europa, além de furacões, incêndios, ou secas. Os custos daqueles desastres já rondam as dezenas de milhares de milhões de euros, pelos quais os países do sul do globo, mais afectados, reivindicam uma compensação financeira.
Atingir as zero emissões líquidas de gases com efeito de estufa até 2050 é um desafio no qual as empresas e os governos trabalham actualmente. Mas a descarbonização requer uma transformação económica, e as mudanças que vêm com este compromisso são avaliadas no relatório da McKinsey & Company. O estudo “Transição Net Zero: quanto custaria, o que poderia trazer” avalia as implicações para a procura, gastos de capital, custos de produção e empregos em sectores que produzem 85% das emissões totais, com uma análise detalhada realizada em 69 países, incluindo Portugal.
O documento sugere, em primeiro lugar, que a transição iria ocorrer de forma universal, afectando todos os sectores económicos. A tendência actual seria revertida e haveria uma substituição por infraestruturas e produtos de baixo nível de emissões. Em termos económicos, esta iria resultar num gasto de capital em activos físicos de e 9,2 milhões de dólares anuais até 2050, ou num aumento de 3,5 mil milhões de dólares dos gastos anuais.
Existe actualmente um conjunto alargado de instrumentos financeiros públicos nacionais e europeus que podem ser mobilizados para a promoção da descarbonização ao nível empresarial. Entre outras formas de financiamento também disponíveis no mercado temos o crowdfunding (financiamento colaborativo) ou as green bonds (obrigações verdes).
Como referem ainda os autores, o impacto da transição seria sentido de forma desigual entre sectores, países e comunidades. Os mais expostos seriam os sectores com produtos ou operações com elevados níveis de emissões, os países com rendimentos mais baixos per capita e aqueles com grandes recursos de combustíveis fósseis, e as comunidades cujas economias locais dependem de sectores expostos. Apesar da dimensão dos ajustes necessários, os custos e as mudanças causadas pelo aumento de riscos físicos, ou por uma transição desordenada, seriam provavelmente muito maiores, devido a todos os impactos das alterações climáticas.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Redução da pegada ambiental”, publicado na edição de Novembro (n.º 200) da Executive Digest.






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