EDP: Transição para um futuro (mais) digital

No momento actual, a transição energética ganha um fundamento muito mais alargado, pois mais do que dar nova energia ao mundo, procura-se reduzir as emissões poluentes na atmosfera e combater as alterações climáticas, intensificadas pelo uso de combustíveis fósseis. «A transição energética é um dos maiores desafios da sustentabilidade, implica uma transformação profunda do sector da energia, e a EDP quer ser um dos líderes desta transformação, envolvendo os chamados 3Ds (Descarbonização, Descentralização, Digitalização) como forças motrizes», explica João Nascimento, CIO do grupo EDP à Executive Digest.

Assim, este processo de transição implica uma transformação profunda do sector da energia: a Descarbonização tem no caminho crítico o aprofundamento da electrificação da sociedade (mais eficiência no consumo, menor intensidade carbónica na produção e transporte/ distribuição). E isso implica aumentar o consumo de electricidade no mix da procura final de energia (de 20% para 49% entre 2020 e 2050); aumentar a produção de energias renováveis no mix de produção de electricidade (de 28% para 88% entre 2020 e 2050).

No mesmo sentido, a Descentralização é necessária para aprofundar a descarbonização e chegar ao ponto de consumo, num contexto em transformação. E a Digitalização/ transformação tecnológica é, neste cenário de transformação, um must have (e não um nice to have) para a transição energética. «Nesta jornada, a EDP quer potenciar o digital como alavanca de transformação. Para alcançar este objectivo, a EDP embarcou numa nova maneira de trabalhar, muito mais ágil, capacitando digitalmente os seus colaboradores, e potenciando os nossos sistemas para que cada negócio do grupo possa prosperar», acrescenta.

Deste modo, a EDP tem métricas muito concretas centradas no foco em pessoas e na transformação dos sistemas: Agile (e.g. >100 equipas a trabalhar); Formação Digital; Perfis Digitais; Cloud; Centros de Competência.

Este processo passa também por vários “milestones” e áreas de foco recentes para concretizar o sucesso da transformação tecnológica. Relativamente à àrea digital destacam-se projectos transversais às geografias do grupo com foco na transformação digital e posicionada como “o” parceiro do negócio (roadmap de transformação digital por negócio, visão única da transformação digital para o grupo); parcerias estratégicas com os maiores parceiros tecnológicos (cloud hyperscalers); foco numa organização centrada nas pessoas (desenvolvimento das pessoas, número recorde de certificações por ano nas tecnologias de referência; fortalecimento da diversidade de backgrounds e perfis das equipas e lideranças; promoção da mobilidade de pessoas e carreiras em todo o grupo); desenvolvimento das principais “fundações” de dados e inteligência artificial para acelerar o impacto digital (datalakes/ datahubs em todo o grupo, modelo operativo e ferramentas de suporte à governação de dados em implementação); movimento significativo de migração para cloud (com estratégia multi-cloud no grupo); aumentar a consciencialização digital e a maturidade da liderança da EDP (programa imersivo da gestão de topo).

João Nascimento, CIO do grupo EDP, sublinha que a empresa «quer liderar também a transformação digital, apostando especialmente em dados e inteligência artificial, simplificando a complexidade». Neste sentido podemos apontar três exemplos: o digital como enabler (gestão do sistema/redes – tecnologias de telecomunicações de suporte à rede eléctrica), o digital como acelerador (clientes finais – plataformas digitais e experiência digital de gestão de consumos e utilização e carregamento de veículos eléctricos) e a aposta em Data &AI com o objectivo de ter mais de 50% do investimento da área digital nestas soluções até 2027.

Relativamente ao eixo relacionado com Analítica Avançada / Inteligência Artificial, a EDP tem feito um enorme investimento na criação das fundações necessárias para que possa tirar o máximo partido da enorme quantidade de dados produzidos diariamente. A base deste sucesso deve-se à criação de modelos de dados estruturados, por cada unidade de negócio, que agregam informação das várias fontes e as estruturam em diversos domínios de dados. A par deste armazenamento de dados, enriquecido com a modelação que é feita por equipas que entendem o negócio e a tecnologia, tem vindo a investir na prática de governo de dados nos vários domínios com o intuito de aumentar a confiança global sobre os mesmos, endereçado com tecnologia, processos, políticas e estrutura organizacional.

Para a EDP, a inteligência artificial tem um potencial transformacional enorme e transversal à cadeia de valor composta por diversos factores – a Geração, que consiste na optimização dos activos de geração de energia, “inteligência” no suporte à monitorização de equipamentos/ planeamento da geração/ manutenção; a Distribuição assente na optimização da distribuição de energia, planeamento de rede, “situational awareness” (actuação proativa e autónoma da rede em resposta às necessidades em real time, self healing para garantir disponibilidade do fornecimento em caso de falha de elementos da rede, etc.); Consumo, isto é, o suporte à gestão do consumo de energia (análise de comportamentos, informação em tempo real, recomendações personalizadas com foco na eficiência energética), apoio ao cliente assente num melhor atendimento, enriquecimento do contexto nos contactos e Serviços corporativos/ áreas transversais através do aumento de eficiência de processos, maior automação/ inteligência em atividades cada vez mais complexas. «Investimos em capturar o máximo de potencial desta tecnologia para a EDP. De todo o investimento em projectos de transformação digital, o objectivo é que 50% seja em projetos no domínio de Data & AI» diz João Nascimento, CIO do grupo EDP.

CONSUMIDORES

O sector vive um contexto em que, com a produção e consumo cada vez mais distribuídos, os clientes têm um papel cada vez mais activo no sistema (e.g. painéis solares e carregadores de veículos eléctricos nos clientes residenciais). Adicionalmente, os clientes são também cada vez mais conscientes do seu papel e impacto das suas decisões de consumo no desafio da sustentabilidade, tendo assim um papel mais central no sistema. Nesse sentido, o digital é cada vez mais importante no reforço da relação com os clientes: Suportando a antecipação de necessidades e de perfis de consumo/ utilização de energia (podendo as comercializadoras ter um papel mais de advisory dos clientes); melhorando e personalizando a experiência dos clientes à escala (e.g. recomendando horários/ tarifários/ postos de carregamento de veículos eléctricos, promovendo equipamentos com elevada eficiência energética mediante necessidades específicas dos clientes); promovendo o reforço da relação com os clientes através de experiências digitais centradas no cliente (e.g. visão de perfis de consumo, utilização de carregadores eléctricos, perfis de utilização e produção dos painéis solares, recomendações de utilização/ tarifários, facilidade de contratação e acompanhamento de serviços de operação e manutenção, tais como manutenção e reparação de electrodomésticos nos clientes residenciais).

Além disso, os consumidores podem ajudar a equilibrar o lado da “procura” de energia, reduzindo o consumo em momentos de pico e aumentando-o em momentos de baixa procura agregada (demand side management) promovendo programas de gestão de energia, como pricing dinâmico que incentive os consumidores a ajustar comportamentos.

Desta forma, o investimento na expansão, digitalização e resiliência das redes eléctricas é fundamental para permitir a transição energética, uma vez que permitirá acomodar a electrificação de outras utilizações energéticas, a integração de mais energias renováveis, em paralelo com a melhoria do serviço e redução dos custos do sistema no contexto de produção e consumo cada vez mais distribuídos.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Transformação Digital ”, publicado na edição de Novembro (n.º 212) da Executive Digest.

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