Continente: Futuro mais sustentável

A MC está completamente alinhada e empenhada em alcançar a neutralidade carbónica até 2040.

Em entrevista à Executive Digest Mariana Pereira da Silva, directora de Sustentabilidade da MC, explica os principais desafios e oportunidades na redução da pegada ecológica.

Quais as vossas metas para os próximos anos ao nível da redução da pegada ecológica?
Como parte do grupo Sonae, a MC está completamente alinhada e empenhada em alcançar a neutralidade carbónica até 2040, antecipando em 10 anos a meta da União Europeia (2050) e até 2030 comprometemo-nos em reduzir em 55% as nossas emissões próprias de Gases com Efeito de Estufa face a 2018.
Com o intuito de atingir o objectivo proposto, a MC desenvolveu o “Roadmap 2030” que nos tem guiado nos esforços e investimentos a realizar. Assenta em quatro áreas de actuação: a implementação de medidas de ecoeficiência com o objectivo de reduzir ao máximo o nosso uso de energia; a electrificação dos consumos; a alteração das nossas centrais de frio; e o investimento na produção e aquisição de energia efectivamente produzida a partir de fontes renováveis.
Este é um instrumento que revisitamos e desafiamos todos os anos de forma a acelerarmos a nossa acção e integrarmos os mais recentes conhecimentos e desenvolvimentos tecnológicos.
No último ano, registámos uma redução de 30% das nossas emissões próprias, face a 2018.

O Continente tem assumido activamente a responsabilidade de influenciar toda a cadeia de valor nas questões de sustentabilidade. Como apoiam os produtores, no sentido de adoptarem práticas mais sustentáveis?
Estar comprometidos com um futuro mais sustentável, representa um enorme estímulo para as nossas equipas. Não só pelo desafio que está subjacente ao desenvolvimento de uma oferta sustentável, de elevada qualidade, a preços competitivos, mas também porque fazê-lo pressupõe desafiar o status quo, ser um catalisador da transformação que é necessária operar ao longo de toda a cadeia de abastecimento.
Dessa forma, com a ambição de contribuir para a democratização do acesso a uma cesta mais saudável e sustentável, temos vindo a desenvolver um conjunto de iniciativas com os nossos Fornecedores e Parceiros. Acções que procuram fomentar a criação de redes de abastecimento mais transparentes e responsáveis, que melhor contribuem para a protecção e preservação dos ecossistemas e para uma melhor utilização dos recursos naturais.
O Clube de Produtores Continente tem sido fundamental nesta matéria. Através desta plataforma, colaboramos de forma consistente com os nossos produtores nacionais, para que possam produzir com mais conhecimento.
Com a criação da “Declaração para a Sustentabilidade”, assente em 11 princípios que englobam temas como a conservação da natureza e biodiversidade, a promoção da agricultura regenerativa e a circularidade, promovemos a produção sustentável junto dos membros do Clube.
Adicionalmente, também no âmbito da Declaração para a Sustentabilidade do Clube de Produtores Continente, desenvolvemos no ano 2022, três programas complementares de suporte à transformação das práticas agrícolas dos nossos produtores de Frutas e Legumes:
• O Programa de Agroecologia, através de um método de avaliação agroecológica dos produtores e matriz envolvente (prados, matos, floresta, entre outros), apoia nos processos de gestão, ordenamento ecológico e adoção de boas práticas;
• O Programa Zerya Regenerativa assenta numa abordagem integrada de maneio das explorações agrícolas através de um protocolo de cultivo, que permite garantir melhores condições do solo, salvaguardar a nutrição das plantas, e gerir a água disponível, minimizando dessa forma o impacto ambiental da actividade hortofrutícola;
• O Programa Resíduo Zero resulta da parceria entre o Clube de Produtores Continente e a Zerya, e visa o desenvolvimento de sistemas de produção agrícola personalizados, com enfoque em boas práticas para a obtenção de produtos certificados livres de resíduos de pesticidas.
As certificações das práticas produtivas também têm um papel fundamental nesta matéria: com requisitos claros, permitem maior rastreabilidade desde a produção até ao momento de consumo e são eficazes na comunicação com o consumidor final.
Nas diferentes categorias de produtos que comercializamos, são já milhares as referências/ produtos que têm uma certificação associada.
Em termos de produção animal destacamos a obtenção da certificação internacional em Bem-Estar Animal nas categorias novilho, ovino, suíno e aves e a renovação da certificação das nossas peixarias de acordo com o Padrão da Cadeia de Custódia do MSC e do ASC.
Por fim, destacamos a plataforma desenvolvida pela MC “Footprint MC”, que permite trabalhar directamente com os produtores na aferição e redução da pegada carbónica e hídrica dos seus produtos.

Criaram também uma linha ecológica, com vários tipos de produtos. Qual foi o objectivo?
A linha Continente ECO é uma marca de produtos ecológicos em limpeza do lar, roupa e papel, que alia a sustentabilidade ambiental à eficácia e preços acessíveis. São produtos amigos do ambiente, produzidos com matérias-primas sustentáveis, ingredientes biodegradáveis (detergentes e papel) e em embalagens de material reciclado e recicláveis.
Os produtos de papel na marca Continente ECO são certificados: incorporam 100% de matéria-prima reciclada, sendo produzidos a partir de embalagens de cartão de bebidas usadas e encaminhadas para reciclagem, cuidadosamente seleccionadas para garantir a melhor qualidade, resistência e suavidade. Adicionalmente, a produção do papel Continente ECO consome menos água e energia do que os produtos tradicionais, produzidos a partir de papel virgem.
Os detergentes para loiça, para a roupa, WC e outras superfícies têm a certificação Ecolabel. Esta certificação é concedida a produtos e serviços que têm um impacto ambiental reduzido e que respondem a elevados padrões ambientais ao longo do ciclo de vida.
Estamos conscientes da crescente preocupação com o planeta, que todos temos enquanto consumidores, mas a oferta de produtos sustentáveis é normalmente escassa e pouco acessível. Queremos tornar real a mudança de hábitos dos consumidores, e para isso é decisivo oferecer produtos sustentáveis e que entreguem toda a eficácia a um preço acessível.

Quais são os objetivos de sustentabilidade a longo prazo, e para onde pretendem caminhar?
Apesar de estar actualmente em destaque na agenda pública, a preocupação com a sustentabilidade já faz parte do nosso foco há vários anos. Independentemente das metas definidas, temos perfeita noção que é um trabalho que não se esgota e mesmo quando essas metas forem alcançadas, surgirão novos objectivos de uma gestão mais sustentável.
Acreditamos que o tema da Sustentabilidade tem de ser um compromisso honesto entre o que dizemos e o que fazemos.
Enquanto retalhista líder, presente em todo o território nacional e com impacto na vida da maior parte das comunidades em que nos inserimos, das famílias que visitam as nossas lojas regularmente, sabemos que é nosso dever encontrar e implementar medidas que procurem minimizar o impacto da nossa actividade e que contribuam para o desenvolvimento sustentável de toda a cadeia de valor.
Com a ambição de democratizar, progressivamente, o acesso a uma cesta mais saudável e sustentável, temos uma estratégia que assenta em quatro agendas – Ação Climática, Circularidade, Produção sustentável e Oferta Responsável – que é complementada pela nossa estratégia de Apoio à Comunidade.
Sabemos que temos ainda um longo caminho pela frente, mas também que a cada novo dia temos novas oportunidades para transformarmos o nosso propósito, a nossa ambição em acções concretas e em impacto positivo.

A MC faz actualmente parte do movimento Unidos contra o Desperdício. Quais as principais iniciativas que têm desenvolvido nesse sentido?
O Desperdício Alimentar é um problema para o qual Continente, enquanto retalhista, tem um papel fundamental, contribuindo para dar o exemplo e incentivar consumidores, colaboradores e fornecedores para que tenham um papel activo neste trabalho que é responsabilidade de todos.
Há um compromisso muito claro entre as equipas para diminuir ao máximo o desperdício alimentar nas lojas e entrepostos, seja revendo os critérios de qualidade (ex. calibre da fruta), seja fazendo uma gestão mais eficiente das doações.
Para isso, aceleramos o escoamento de produtos e evitamos toneladas de desperdício diariamente através de soluções que ajudam os nossos clientes a poupar e que poupam o planeta. São várias as iniciativas – desde a Etiqueta Rosa às Caixa Zero Desperdício, passando pela nossa parceria com a Too Good To Go, são várias as soluções que oferecemos aos nossos clientes.
O programa de doações de excedentes alimentares assegura ainda o reaproveitamento e redistribuição de alimentos. Em 2022, evitámos cerca de 54M€ de desperdício alimentar (mais 16M€ do que em 2021), dos quais 23M€ através de mecanismos de aceleramento de escoamento de produtos e 31M€ através do programa de doações de excedentes alimentares.
Para além disso, o Continente ajuda os clientes a compreender a diferença entre datas de validade e datas de consumo preferencial. O Continente foi o primeiro retalhista, a nível ibérico, a adicionar o selo “Antes de Desperdiçar: Observar, Cheirar, Provar” da Too Good To Go, aos seus produtos de marca própria. Este selo pretende sensibilizar para a importância de “salvar” alimentos com data de durabilidade mínima.
A par do combate ao desperdício nas suas operações, o Continente tem apostado numa acção ao longo de toda a cadeia de abastecimento. Em 2022, o Continente lançou a “Feira do Desperdício”, uma plataforma criada pelo Clube de Produtores Continente para estabelecer pontes entre produtores e dessa forma reduzir o desperdício a montante. O Vinagre de Maçã de Alcobaça Continente Selecção resulta de uma parceria entre cinco associações de produtores de maçã de Alcobaça, dois produtores de sumo fresco e um parceiro da indústria que lançaram um produto de valor acrescentado, produzido a partir de fruta fora de calibre que não seria valorizada em fresco.
Com a gama Zero Desperdício, sob o mote “Produtos bons demais para deitar fora”, o Continente lançou no mês de Setembro, uma nova gama de frutas e legumes fora de calibre ou com defeitos, que em nada prejudicam a sua qualidade ou sabor.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Redução da Pegada Ambiental”, publicado na edição de Outubro (n.º 211) da Executive Digest.

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