Alterações climáticas: A hora de agir é agora!

A Energias de Portugal (EDP) apresentou a segunda edição do «We Choose Earth», uma conferência global dedicada a envolver pessoas e empresas na luta contra a crise climática. Realizado em Munique, e inserido nas Conferências The Smarter E Europe, amplamente reconhecidas como uma referência no sector da energia, este evento destaca as práticas de preservação ambiental e social, e defende uma transição energética justa e inclusiva.

Com 2023 a registar temperaturas recorde e o aquecimento global a aproximar-se dos 1,5° Celcius, a EDP reafirmou, ao longo da conferência, o seu compromisso em liderar acções concretas para proteger a Terra. Com o tempo a esgotar-se e a necessidade urgente de acção, a companhia energética sublinha que este desafio exige uma acção colectiva e reforça a mensagem de que todos têm um papel a desempenhar na preservação do planeta.

«O futuro da Humanidade e de toda a vida na Terra depende agora de nós. Juntos, podemos construir uma sociedade mais próspera dentro dos limites de regeneração do planeta. Nós escolhemos agir agora, porque escolhemos o planeta Terra», esta foi a mensagem de abertura que serviu de orientação para todo o evento.

ACÇÃO URGENTE

Após sublinhada a urgência de tomar decisões para um futuro habitável, Cate Blanchett, actriz, produtora e activista, partilhou as suas preocupações em relação ao planeta, naquele que foi o primeiro painel da conferência: “Pursuing a Climate of Change”. «Estou ansiosa porque escolher a Terra em vez de tudo o que parece determinado a destruí-la pode parecer profundamente perturbador. E estou entusiasmada, porque escolher a Terra em vez de tudo o que parece determinado a destruí-la pode ser profundamente revigorante e libertador», afirma.

Depois de falar das suas preocupações com o tema quando ainda estava na universidade, a produtora também criticou o foco excessivo no capitalismo e na exploração de recursos em Marte, em vez de se optar pela preservação da Terra. «Se alcançamos o ponto em que poucos consideram deixar a Terra destruída como uma opção, é hora de repensarmos as nossas prioridades e unirmos esforços para defender o nosso lar», apelou.

Cate Blanchett reforçou, ainda, a necessidade de um novo paradigma nos negócios, que valorizem as pessoas em vez do lucro, promovendo uma abordagem sustentável e inclusiva. «Não precisamos só de inovação tecnológica, também necessitamos de conhecimento e criatividade para enfrentar os desafios actuais», considera. «O que estamos a testemunhar é um despertar colectivo», afirmou, destacando, em seguida, a urgência para alterar comportamentos. «A mudança climática já não é uma questão distante ou futura, é o presente e afecta-nos pessoalmente a todos.»

NOVOS MUNDOS

No painel “Envisioning New Ways of Business”, Kjell A. Nordström, economista e especialista em Mercados Globais, deixou uma análise reflexiva sobre o papel das organizações na sociedade moderna. Começou a sua apresentação com uma observação intrigante: «As empresas são entidades simples. Podem parecer impressionantes de fora, mas, no final do dia, são apenas solucionadoras de problemas.»

Além disso, o especialista pintou um quadro com um futuro incerto nas cidades. «Perguntam-me sobre o que vai acontecer agora? Não sei, porque não posso fazer uma pesquisa adequada sobre o futuro», afirmou. No entanto, e embora a investigação sobre o futuro seja inviável, é possível identificar tendências, como a urbanização global. «Estamos agora num nível de urbanização de 63%. Logo, temos 63% da humanidade em áreas urbanas», observa o especialista, que prevê, ainda, que 80% da população mundial e 90% da riqueza gerada no planeta passe a acontecer nas áreas urbanas dentro de 20 a 25 anos.

O painel encerrou com Kjell A. Nordström a enfatizar que, apesar das mudanças rápidas e profundas, as empresas irão continuar a desempenhar um papel crucial na resolução de problemas. «As empresas são máquinas que solucionam problemas. Falámos sobre isso no começo, mas a questão é a seguinte: qual é o problema que vão resolver?», questionou, desafiando o público a reflectir sobre o papel das empresas na sociedade.

A primeira parte da conferência fechou com o painel “Tackling Net-Zero”, e Sandrine Dixson-Declève, activista e co-presidente do Clube de Roma, começou por deixar críticas às grandes empresas de petróleo e gás, apontando o primeiro motivo para a actual situação climática: «As empresas de petróleo e gás dizem-nos que estamos todos loucos, e que o petróleo e o gás são o nosso futuro, retirando o investimento das energias renováveis.»

Sandrine Dixon-Declève destacou, igualmente, a disparidade entre os lucros das indústrias fósseis e a pobreza energética global. «Existe a possibilidade de retirar uma grande quantidade de capital para a energia fóssil, para projectos não sustentáveis, o que ainda não foi taxado e deveria ser. E esta é a segunda razão. São 2,8 mil milhões de euros em ganhos diários para o sector de petróleo e gás, enquanto muitos enfrentam pobreza energética.»

O terceiro motivo é a intensificação dos eventos climáticos extremos, que estão já a afectar diversas regiões, incluindo a Europa: «Já estamos a vivenciar eventos climáticos extremos, como temperaturas elevadas, não só no sul global, mas também nos países sul-americanos, que estão a afectar as florestas e as comunidades.»

Por fim, a oradora apontou a crescente tensão social causada pela crise climática. «O quarto motivo é a crescente tensão social. As pessoas estão cansadas, têm sido convencidas pelo discurso radical de que a natureza e o clima são prejudiciais. E esta é uma realidade muito perigosa, porque está a afectar as nossas democracias», alerta.

Por sua vez, Joschka Fischer, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, defendeu que são as grandes empresas e o sistema económico global que têm a chave para a mudança e enfatizou a necessidade urgente de preparação para uma possível «retaliação nos próximos anos», devido às ameaças sérias impostas pelas mudanças climáticas.

O político alemão destacou a importância de aproveitar as oportunidades associadas à transição energética e criticou a Europa por não investir, suficientemente, nas mudanças industriais, dando, inclusive, o exemplo da ascensão da China na indústria automóvel electrificada. Sobre as consequências a longo prazo, o orador foi incisivo: «Vemos uma nova ordem mundial a surgir, com a rivalidade das grandes potências a aumentar, ao mesmo tempo que começam a eclodir guerras», alertou, apontando, em seguida, para os conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente como exemplos alarmantes.

Questionada sobre os desafios enfrentados pela UNFCCC (Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas), em termos de negociações climáticas, Patrícia Espinosa, ex-secretária- executiva daquele órgão, destacou a complexidade de representar países tão distintos. «É uma entidade que representa as mentes de 197 países. É muito difícil unir todos», acrescentou. No entanto, também referiu que o processo oferecu um «mapa baseado na ciência» para guiar a acção global contra a mudança climática.

A oradora reforçou, ainda, a importância da Organização das Nações Unidas neste contexto e apelou à necessidade de fortalecer as instituições internacionais para tornar o processo mais eficaz: «Não se trata daquilo que precisamos de fazer, trata-se de saber sobre como vamos fazer, e quem é que fica responsável pelo quê», defende. A fundadora da Onepoint5, empresa de consultoria especializada em alterações climáticas, sublinhou também a necessidade de implementar os planos acordados: «Alguns planos são bons, outros são maus, mas precisamos de colocá-los em prática, caso contrário, um plano é apenas um plano.»

IMPACTOS POSITIVOS

A segunda parte da conferência começou com o painel “Challenging Businesses for Reinvention”, apresentado por Vincent Stanley, director de Filosofia da marca Patagonia. O orador reforçou a necessidade de reinventar as práticas empresariais para um futuro sustentável. «Simplificámos a nossa missão há cinco anos para afirmar que estávamos no negócio para salvar o planeta.» Sobre a missão da empresa e a evolução dos objectivos de sustentabilidade, admitiu que, inicialmente, estava céptico quanto à declaração do propósito da empresa: «Não causar nenhum dano necessário.»

Esta filosofia integrou-se, profundamente, na cultura da empresa e inspirou acções concretas, apesar dos desafios. «Quando adoptámos este propósito, percebemos que tudo o que fazemos serve para reduzir o impacto ambiental e, essencialmente, para reduzir o dano, mas não é totalmente sustentável. Ainda não», reconhece. «Não se trata apenas de não causar dano, trata-se de podermos ajudar a Terra a restaurar-se», concluiu, numa mensagem final para que outras empresas sigam o exemplo da Patagonia.

Já o painel “Scaling Heights and Positive Impact” contou com a presença de Alex Honnold, alpinista e fundador da Honnold Foundation, e com a moderação de Michael Liebreich, CEO da Liebreich Associates. Para Alex Honnold, a acção moral correcta é agir em prol daqueles que mais sofrem. «Sinto uma obrigação moral para tentar fazer a coisa certa. Vejo isto como acções correctas que todos deveriam tomar, se forem capazes. Não estou cheio de sentimentos altruístas, não é nada disso. Simplesmente, importo-me com as pessoas. Se não for eu, quem será?», questionou.

Conhecido pelo documentário oscarizado “Free Solo”, o alpinista destacou a importância de agir com responsabilidade e aproveitou para ironizar com as perguntas sobre a sua preocupação com o clima após ter filhos: «Odeio quando as pessoas perguntam: “Agora que tem filhos, importa-se com o clima?” E eu digo que não, porque sempre me importei com isso antes.» Embora os seus filhos possam crescer em condições favoráveis, o orador mostra-se mais preocupado com o impacto severo das alterações climáticas para outras populações. «A realidade é que os meus filhos vão crescer com condições de ar, vão ficar confortáveis. Não são aqueles que mais vão sofrer. É por isso que acredito que devemos agir em prol do bem-estar dos outros.»

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

A conferência prosseguiu com o painel “Building Momentum for Bigger Goals” e contou com a apresentação de Ban Ki-moon, ex-secretário-geral da ONU, que sublinhou a urgência de expandir a mais governos e organizações a necessidade de acção climática. «Estamos num período de incerteza mundial. O nosso planeta está literalmente em chamas devido à crise climática, com temperaturas, níveis do mar e incêndios a aumentar», lamentou.

O antigo secretário-geral da ONU sublinhou a importância dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e do Acordo de Paris, ambos adoptados em 2015: «Estes objectivos oferecem à humanidade e ao planeta um caminho para resolver os maiores problemas climáticos. No entanto, oito anos depois, o progresso é desigual e nenhum país está no caminho certo para alcançar todos os objectivos até 2030», alertou.

O orador afirmou que apenas 12% dos ODS estão, actualmente, no caminho certo, segundo o relatório de desenvolvimento sustentável global de 2023. Mas apesar das dificuldades, reiterou a importância de continuar a apostar na energia verde. «A transição urgente, justa e equitativa dos combustíveis fósseis para a energia verde é vital para evitar os piores impactos climáticos e implementar os ODS», rematou.

No último painel da conferência, “Embracing The Energy Transition”, Ban Ki-moon e Miguel Stilwell d’Andrade, CEO da EDP, juntaram-se para discutir a importância da colaboração global para uma energia limpa. Ao reflectir sobre o progresso dos ODS, o antigo secretário-geral da ONU demonstrou preocupação e insatisfação com a implementação dos mesmos. «Temos de reduzir as emissões de gás de efeito estufa em 43% até 2030 e alcançar a neutralidade carbónica até 2050. Se não tomarmos medidas drásticas, estamos a negar o nosso dever moral para com as gerações futuras», alertou.

Já Miguel Stilwell d’Andrade destacou os esforços da EDP na transição para as energias renováveis. «Estamos a tentar fazer a nossa parte. Passamos de ser 80% térmico e 20% renovável para sermos 97% renovável. Este é um compromisso firme que temos como empresa para nos tornarmos totalmente verdes nos próximos anos», sublinhou.

A liderança foi um tema central da discussão, com Ban Ki-moon a partilhar a sua visão: «A maior virtude da liderança é actuar como a água. A água não argumenta, não confronta, mas é constante e nunca tem pausas. A água pode destruir qualquer coisa se estiver realmente furiosa. A minha liderança é baseada nesta filosofia de flexibilidade e persistência», explicou, acrescentando que este conceito pode ajudar a resolver problemas controversos de forma eficaz à escala global.

Numa última nota e para encerrar o evento, Miguel Stilwell d’Andrade reconheceu a importância deste conselho e reforçou a necessidade de colaboração entre líderes de diversos sectores. «Precisamos agir com mais urgência e decisão. O impacto das alterações climáticas é regressivo e afecta severamente as populações mais pobres. Temos de trabalhar juntos, incluindo governos, empresas e sociedade civil, para enfrentarmos este desafio global», concluiu.

Este artigo faz parte da edição de Julho (n.º 220) da Executive Digest.

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