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XXXV BARÓMETRO EXECUTIVE DIGEST: Marcelo Nico, Tabaqueira

A análise de Marcelo Nico, Director-Geral da Tabaqueira

Há uma frase atribuída a Heráclito, conhecido como “Pai pela Dialética” (século VI-V a.C.), que, subtraindo o humor que lhe é inerente, não podia encaixar melhor no contexto que vivemos: «A tranquilidade e a estabilidade são próprias dos mortos.» Por estes dias, isto é verdade para a Argentina, o meu país de origem, como para Portugal. É verdade para o mundo. Numa expressão muito portuguesa, que aprendi, parece que andamos “vivíssimos da Silva”. Num ano marcado por eleições cujos resultados podem encaminhar definitivamente as nações para uma nova ordem mundial, quando se levantam os arautos da guerra um pouco por toda a Europa, somando a um contexto nacional de grande instabilidade parlamentar e de risco de bloqueio à governação, “tranquilidade” e “estabilidade” são palavras em desuso. Ainda assim, e remetendo para o discurso do Presidente da República na cerimónia de tomada de posse do novo Governo português, no passado dia 2 de Abril, às vezes, perante um grande dilema, há que o partir em bocadinhos e ir encontrando soluções passo-a-passo. Isto implica não ceder aos casos de entretenimento político e manter o rumo naquilo que é essencial e crítico para que a economia portuguesa continue a crescer, desejavelmente acima das suas congéneres europeias: garantir as condições para a atracção do talento necessário à valorização da indústria e dos serviços “made in Portugal”, por forma a subirmos na cadeia de valor; assegurar que, apesar da intranquilidade vivida, a promoção do País enquanto polo de atracção de investimento acelera; e estimular a iniciativa e o investimento empresariais. Estas são algumas das prioridades do novo Governo identificadas pelos decisores inquiridos no 35.º Barómetro da Executive Digest. Na verdade, não divergem daquelas que foram apontadas pela força vencedora das legislativas no seu programa eleitoral. Importante, por isso, é, no dia-a-dia, encontrar as melhores políticas e implementá-las no terreno. Em diálogo e em conciliação, com espírito de responsabilidade. É o mínimo que se espera dos decisores políticos e institucionais. Enquanto responsável pela operação nacional de uma multinacional em Portugal, não poderia estar em maior acordo com os meus colegas: a inovação, a produtividade, a subida na cadeia de valor e o consequente crescimento económico só frutificam se formos capazes de atrair capital financeiro e humano diferenciado, com futuro. A economia portuguesa precisa de estar viva.

Testemunho publicado na edição de Abril (nº. 217) da Executive Digest, no âmbito da XXXV edição do seu Barómetro.