É provável uma guerra entre os EUA e a China ainda esta década? Radiografia de um risco crescente

A relação entre as duas grandes potências mundiais, os Estados Unidos da América (EUA) e a China tem vindo a piorar em múltiplas frentes ainda que no início do século houvesse a ideia de que o estreitamento dos laços comerciais podia gerar uma dinâmica positiva. Contudo, em vez disso levou a uma concorrência feroz, uma rivalidade que parece estar prestes a avançar para o confronto.

A possibilidade de existir um risco real de que esta espiral negativa origine um conflito militar está a causar preocupação. Ainda que, de momento, uma guerra entre as duas potências a curto e médio prazo não seja provável, a probabilidade está claramente a aumentar, especialmente dada a hipótese de uma escalada acidental no meio de tanta tensão, desconfiança e má comunicação, adverte um relatório elaborado por vários especialistas citado pelo jornal espanhol El País.

A análise foca-se tanto na evolução global da relação entre os dois poderes como na questão de Taiwan, o epicentro onde a fricção entre as duas placas tectónicas poderia transformar-se em guerra. Na primeira análise, “a evolução mais provável é que a competição, a rivalidade, é susceptível de se intensificar e alargar no seu espectro”, explicou o diretor do programa Ásia-Pacífico no think tank Chatham House, Ben Bland.

“Antes do incidente do balão [sobre o território dos EUA], ambos os governos tinham demonstrado vontade em conter as tensões, mas vários acontecimentos têm ocorrido desde então e isto é sintomático de uma relação com muita fricção. Uma vez libertadas certas forças dentro de uma sociedade, nas esferas política, económica e mediática, é muito difícil de redirecionar”, salientou Bland.

Por outro lado, existem também sintomas problemáticos. “A paz e a estabilidade em torno de Taiwan foram mantidas porque as três partes [China, Taiwan e EUA] aceitaram um elevado grau de ambiguidade”, destacou o diretor ao frisar: “O problema é que o espaço para a ambiguidade está a encolher em todos os lados. Com isso, a possibilidade de encontrar rampas de saída encolhe”.

“A relação bilateral está num ponto muito baixo. A tensão é muito elevada. Isto não significa que nenhum dos lados queira a guerra, mas quanto maior for a tensão, maior é a probabilidade de um conflito poder irromper intencionalmente ou acidentalmente”, comentou a analista principal do Instituto Mercator para Estudos da China, especializada em defesa e política externa, Helena Legarda, ao concluir: “De momento não creio que seja um risco muito elevado, não creio que vá acontecer iminentemente, mas o risco existe e está a aumentar à medida que a concorrência se agrava”.

A forma como as tensões têm vindo a aumentar são dos principais argumentos dos peritos para defender que existe a possibilidade de um conflito.

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