O número de alertas sobre brinquedos potencialmente perigosos para crianças voltou a crescer em 2025, confirmando uma tendência que já se verifica há dois anos. Desde janeiro e até 30 de novembro, a Direção-Geral do Consumidor (DGC) emitiu 630 alertas, todos encaminhados para a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), responsável pela fiscalização do mercado, abrangendo riscos que vão do engasgamento e estrangulamento à exposição a substâncias químicas perigosas.
Segundo dados avançados ao Jornal de Notícias, este valor representa um aumento face a 2024, ano em que foram registados 565 alertas, e fica muito acima dos 395 contabilizados em 2023. A DGC, organismo tutelado pelo Ministério da Economia e ponto de contacto nacional do sistema europeu Safety Gate, sublinha que a maioria dos casos envolve brinquedos fabricados fora da União Europeia, frequentemente associados a riscos graves para a segurança infantil.
Os perigos identificados incluem ainda ferimentos, acesso a ímanes ou pilhas e materiais inflamáveis, sendo as crianças até aos três anos o grupo mais vulnerável. A tendência de subida está ligada, sobretudo, ao crescimento das compras online, à proliferação de produtos contrafeitos a baixo custo e à crescente complexidade dos brinquedos tecnológicos. Estudos recentes indicam que muitos artigos adquiridos em marketplaces internacionais não cumprem as normas europeias de segurança.
Nas lojas físicas, a preocupação com a segurança também se faz sentir. Sandra Martins, proprietária da loja “Magia do Brinquedo”, na Malveira, explica que o período natalício “agita muito o mercado”, permitindo um aumento da faturação apesar da concorrência das grandes superfícies. “A segurança começa no atendimento. Valorizamos o cuidado com os artigos e o diálogo com os clientes”, afirma, acrescentando que os pais procuram sobretudo brinquedos adequados à idade das crianças, confiando nos controlos de qualidade.
A Deco – Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor alerta, no entanto, que essa confiança nem sempre é suficiente. Graça Cabral, da área da comunicação da associação, defende que “o primeiro passo para evitar riscos é ler os rótulos” e deixa um aviso claro: “Se a informação não estiver em português, não compre. É sinal de que algo não está bem”. Recomenda ainda que, sempre que possível, a compra seja feita em lojas físicas, onde é possível verificar se existem arestas cortantes ou peças pequenas que se soltam.
Também a Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI) confirma que muitos riscos não são visíveis a olho nu. A presidente da APSI, Sandra Nascimento, chama a atenção para perigos químicos e para brinquedos que expandem em contacto com a água, capazes de provocar obstruções graves se ingeridos. Apesar do aumento dos alertas, a Deco refere não ter recebido queixas formais, apenas pedidos de informação, lembrando ainda que o símbolo CE “não é garantia total de segurança”, já que é colocado pelo fabricante e não resulta de uma certificação independente.














