Accenture Digital Business: Atingir a igualdade

Em algumas empresas, o digital está a ajudar a diminuir a diferença de género no trabalho.

Um dos aceleradores mais importantes da igualdade de género no trabalho já está a mostrar o seu potencial. A fluência digital, o ponto a que as pessoas abraçam e usam as tecnologias digitais para ganharem conhecimentos, ligações e eficácia, está a ajudar a melhorar a igualdade de género e a nivelar o campo de acção para as mulheres no trabalho. 

Estar no lado certo da disparidade, no que diz respeito à fluência digital, pode alterar a actual situação para as mulheres – e para os seus países –de forma drástica. Tendo em conta a adopção digital, prevê-se que os países desenvolvidos não atingirão a igualdade de género antes de 2065, e os países em desenvolvimento apenas o conseguirão em 2100. Mas se os governos e os negócios acelerarem a velocidade com que as mulheres se tornam utilizadoras frequentes de tecnologia, será possível atingir a igualdade de género no local de trabalho em 2040 nas nações desenvolvidas e em 2060 nas nações em desenvolvimento.

Estas são algumas das principais conclusões de um dos mais recentes estudos da Accenture, que analisaaté que ponto homens e mulheres adoptaram e abraçaram as tecnologias digitais e em que medida esse passo impactou na sua instrução, emprego e progressão da sua carreira. O estudo combina inquéritos e dados publicados para criar o Modelo de Fluência Digital da Accenture, uma ferramenta que permite analisar o efeito da fluência digital na igualdade de género ao longo do ciclo de vida de uma carreira.

A fluência digital não é uma cura mágica e é um factor que apenas ajuda a diminuir as disparidades entre géneros no local de trabalho. Mas há dados que provam que é relevante e que age enquanto acelerador em todas as etapas da carreira – poderoso na instrução e no emprego e cada vez mais importante à medida que as mulheres avançam nas fileiras da liderança.

Definir a disparidade 

igualdade de género no local de trabalho é analisada em três áreas específicas: na forma como as mulheres usam a instrução para se prepararem para trabalhar; como descobrem e mantêm um emprego e como avançam profissionalmente. Para avaliar o progresso das mulheres na participação no ensino e no local de trabalho, foram analisados os dados do Banco Mundial relativos à inscrição em instrução e às taxas de participação na vida activa. Para complementar, avaliou-se igualmente os salários, além das percentagens da OCDE de mulheres em cargos de gestão. O trabalho da Accenture mostra que o digital está a ajudar a estimular melhorias para as mulheres nessas áreas.

FALTA DE TALENTO GLOBAL
As mulheres mudam o jogo

Este estudo surge numa altura importante, em que empresas e governos enfrentam uma disparidade entre as aptidões de que necessitam para permanecerem competitivos e o talento disponível para tal.

O Fórum Económico Mundial, no seu relatório “Future of Jobs 2016”, identificou a instabilidade nas aptidões em todas as categorias profissionais e constatou: «O crescimento bruto do emprego e a instabilidade nas aptidões fazem com que muitas empresas enfrentem actualmente grandes desafios de recrutamento e falta de talento, um padrão já evidenciado nos resultados e que deverá piorar nos próximos cinco anos.»

Um relatório do ManpowerGroup concluiu também que mais de metade dos executivos acredita que a falta de talento afecta a sua capacidade de servir os clientes. O relatório refere ainda que 20% dos empregadores globais não tem estratégias para lidar com essas disparidades no talento – com 45% dos líderes destas organizações a indicarem a falta de capacidades digitais como um grande obstáculo para preencher a falta de talento.


Visto que as mulheres estão sub-representadas na força de trabalho da maioria dos países, são 
uma fonte importante de talento por aproveitar. Segundo dados do WorkplaceTrends.com e da Saba, as mulheres perfazem menos de 40% na força de trabalho global actual e o relatório “Future of Jobs”, do Fórum Económico Mundial, nota que as mulheres preenchem menos cargos de poder, em vários sectores.

Parte da solução para os obstáculos que as mulheres enfrentam no local de trabalho, incluindo restrições sociais e familiares, está naquilo a que a pesquisa da Accenture chama de “força de trabalho líquida”. O relatório “Technology Vision 2016” da Accenture reporta que as organizações devem esforçar-se por fazerem com que as pessoas – consumidores, colaboradores e parceiros do ecossistema – consigam mais com a tecnologia. Este uso crescente da tecnologia ajudará todos a equilibrarem a sua vida pessoal e profissional e a avaliarem novas oportunidades num ambiente de trabalho em transformação.

imagem accenture estudo ABRIL 2

A FLUÊNCIA DIGITAL
Fala digital?

Para identificar e compreender melhor o papel da fluência digital na igualdade de género no trabalho, desenvolvemos o Modelo de Fluência Digital da Accenture. Começámos com um inquérito a cerca de cinco mil mulheres e homens de 31 países para avaliarmos o seu uso de tecnologias digitais – os aparelhos a que têm acesso, dos smartphones aos “wearables”, e como e quando são usados. Pedimos também pormenores específicos sobre a sua instrução e carreira, como por exemplo se já haviam frequentado um curso virtual numa universidade online, como usam as ferramentas de colaboração digital, as mensagens instantâneas ou as webcams para os ajudar a trabalhar, e se a empresa estava pronta para colocar mais mulheres em cargos seniores do que nos anos anteriores.

Analisámos também dados secundários da UIT (União Internacional de Telecomunicações) – a agência das Nações Unidas para tecnologias de informação e comunicação – para determinarmos as taxas de utilização da internet em todos os países que estudámos.

Em conjunto, estes dois fluxos de dados oferecem uma imagem pormenorizada e altamente matizada da forma como homens e mulheres estão a beneficiar do digital em cada um dos países que estudámos. Estas medidas, juntas, perfazem a classificação da fluência digital de cada país e revelam as disparidades entre homens e mulheres e como elas estão a diminuir.

Este Modelo de Fluência Digital faz com que compreendamos não apenas a comparação da fluência digital das mulheres e dos homens, mas também quanta dessa fluência está a ajudar a estimular mudanças positivas na sua instrução, na sua experiência profissional e no seu progresso profissional.

Se uma pessoa for digitalmente fluente, isso pode criar um efeito positivo em todo o seu ciclo de vida profissional, e os efeitos beneficiam mais as mulheres do que os homens.

⇒ RESUMO
EUA, Japão e Índia

Os Estados Unidos da América têm a classificação mais elevada do estudo e a disparidade na igualdade é uma das mais pequenas entre os países estudados. Os EUA ainda têm que trabalhar muito para conseguirem uma verdadeira igualdade de género no local de trabalho. Mas com a ajuda da fluência digital, as norte-americanas fizeram progressos significativos na instrução, no emprego e principalmente na progressão de carreira.

O Japão tem uma classificação muito baixa no que toca à igualdade entre homens e mulheres. Os japoneses ultrapassam as japonesas em todas as métricas, incluindo a instrução, e o progresso do país está entre os mais baixos do nosso modelo. Enquanto o aumento da fluência digital ajudará a diminuir algumas dessas desigualdades, é claro que o Japão, como nação, terá de abordar crenças e práticas culturais ancestrais antes de realmente maximizar o seu talento feminino.

A Índia tem a classificação mais baixa de todos os países do nosso modelo, e estes valores baixos estão a afectar a progressão profissional das mulheres. A Índia possui também uma das maiores disparidades entre homens e mulheres na classificação geral. A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos são os únicos países onde essas disparidades são mais pronunciadas.

PRINCIPAIS DESCOBERTAS 
Uma fluência digital mais elevada resulta no aumento da igualdade de género no local de trabalho.

A estudo da Accenture reitera a importância da fluência digital para ajudar os países a progredirem na direcção da igualdade no local de trabalho. As diferenças na fluência digital de homens e mulheres e entre países significam que todos os países estão em fases diferentes desta viagem e que devem abordar um conjunto diferente de prioridades.

Por que razão os homens têm melhor classificação do que as mulheres em mais de três quartos dos países que estudámos? Sabemos, a partir do nosso inquérito, que os homens utilizam mais o digital do que as mulheres: 76% dos homens versus 72% das mulheres. Os homens da geração Millennial usam os canais digitais numa percentagem ainda mais alta de 80%, enquanto as mulheres da mesma geração ficam-se nos 75%. Sabemos também que os homens são mais pró-activos do que as mulheres a aprender novas aptidões digitais: 52% dos homens versus 45% das mulheres afirmam que estão sempre a aprender novas aptidões digitais.

O nosso Modelo de Fluência Digital mostra que as nações com classificações mais altas de fluência digital entre mulheres possuem taxas mais altas de igualdade de género no trabalho. Os EUA, a Holanda, o Reino Unido e os países nórdicos (Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia) têm as classificações mais altas de fluência digital da nossa amostra e estão entre os países com melhor desempenho em relação à igualdade no trabalho.

Na Indonésia e na Índia, os níveis baixos de fluência digital estão a impedir o progresso das mulheres. Aumentar o acesso das mulheres à internet como primeira medida para melhorar a fluência deve criar novas oportunidades profissionais.

As maiores disparidades entre a fluência digital dos homens e das mulheres aparecem no Japão, em Singapura, em França e na Suíça. Aqui, aumentar a fluência das mulheres para o nível dos homens ajudará a estimular a igualdade no trabalho. Países como a Arábia Saudita, e, num grau menor, a Itália e o Japão, possuem níveis razoáveis de fluência digital, mas não atingem os valores que seriam de esperar. A fluência digital, por si só, não é a solução para todos os países – os factores culturais são outra consideração importante a ter em conta.

⇒ IMPORTAÇÃO
Mulheres a subir mais depressa

Torna-se claro, a partir dos nossos dados, que as mulheres em muitos países têm mais instrução que os homens, e descobrimos que a fluência digital das mulheres está a ajudar a estimular esses números.

As mulheres obtiveram um nível mais alto de instrução do que os homens em bem mais de metade dos países que estudámos. Ao mesmo tempo, a taxa de instrução mais alta para mulheres trabalhadoras quase duplicou numa geração. Mais de metade das mulheres da geração X têm uma licenciatura ou mais, em comparação com apenas 27%
das suas mães.

A fluência digital também teve um impacto mais positivo na instrução das mulheres dos países em desenvolvimento do que nos países desenvolvidos: mais de dois terços (68%) das mulheres dos países em desenvolvimento, versus menos de metade (44%) das mulheres dos países em países desenvolvidos, afirmam que a internet foi importante para a sua instrução.

Em suma, as mulheres parecem estar a aproveitar melhor o digital ao longo da sua instrução do que os homens. A nossa análise mostra que quando homens e mulheres possuem o mesmo grau de fluência digital, as mulheres atingem um nível mais alto de instrução.

O NÍVEL DE INSTRUÇÃO

Para se avaliar os níveis de instrução das mulheres, foram utilizados dados do Banco Mundial relativos à inscrição de mulheres em instrução secundária e mais alta. Também analisámos como as pessoas usam o digital para apoiarem a sua instrução ao fazermos perguntas básicas como:

Como é que o seu nível de instrução se compara com o da sua mãe?

→ Vê a internet como um recurso vital para os seus estudos?

→ Alguma vez tirou um curso virtual ou à distância, numa universidade aberta ou, então, online?

→ Acha mais provável usar a biblioteca de uma universidade ou aceder aos materiais do curso pela internet?

→ Teve acesso a gravações feitas a aulas e colocadas online?

⇒ EMPREGO
O digital ajuda à flexibilidade

Enquanto os homens têm vantagem em termos profissionais, a disparidade está a diminuir porque um aumento significativo na fluência digital está a estimular o progresso das mulheres.

Por que razão isto acontece? A fluência digital está a ajudar os colaboradores actuais a gerirem melhor o seu tempo e a tornarem-se mais produtivos. A fluência digital também possibilita uma maior flexibilidade laboral – um factor que os colaboradores valorizam e que as empresas estão agora a oferecer. Ainda que homens e mulheres apreciem o equilíbrio obtido com a flexibilidade no trabalho, as mulheres parecem obter mais valor dela.

Mais de dois terços das mulheres e dos homens inquiridos (72% e 68%, respectivamente) afirmam que as oportunidades profissionais das mulheres aumentam em proporção ao crescimento da fluência digital. Além disso, quase metade das mulheres que trabalham revelam que usam o digital para trabalharem a partir de casa e para terem acesso a oportunidades profissionais: 41% afirmaram que o digital as ajudou a equilibrar a sua vida profissional e pessoal e a ter acesso a oportunidades profissionais.

O EMPREGO DAS MULHERES

Para perceber o nível de emprego das mulheres, foram analisados os dados do Banco Mundial relativos às taxas de participação laboral das mulheres. E para estabelecer o impacto do digital pediu-se aos inquiridos que indicassem:

As ligações entre o digital e a procura de emprego;

→  Ligações entre empregos disponíveis e o acesso que dão a oportunidades;

→  Hábitos em relação ao networking e às redes sociais;

→  Uso de ferramentas de colaboração digitais, como mensagens instantâneas, email e webcams;

→  O valor que dão à flexibilidade em relação ao quando, onde e como trabalham; e

→  Como o aumento da flexibilidade do digital está a reformular o dia de trabalho ou a ajudá-los a voltar ao trabalho.

⇒ PROGRESSO PROFISSIONAL
oportunidades a desenvolver-se

Ainda que a fluência digital ajude claramente as mulheres a instruírem-se e a ganharem oportunidades profissionais, a relação entre a fluência digital e o progresso profissional das mulheres não é tão significativo.

Esperamos que isto se altere à medida que mais mulheres da geração Millennial e nativos digitais entram na gestão das empresas – o nosso estudo concluiu que quase seis em cada 10 millennials inquiridas aspiram chegar a posições de liderança. E mais de três quartos dos inquiridos acreditam que as mulheres têm mais oportunidades hoje do que nunca.

Descobrimos também que, independentemente do impacto positivo que a fluência digital tem no salário de homens e mulheres, a disparidade no salário ainda não está a diminuir. Os homens são, de longe, quem leva o salário mais alto para casa nas três gerações – Milenar, X e Baby Boomers.

AS MULHERES COMO LÍDERES

Para compreender de que forma é que as mulheres estão a avançar para cargos de liderança, foi desenhado um quadro mais geral em que se olhou para a percentagem de mulheres em cargos de gestão, usando dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico). Perguntámos aos inquiridos se:

Gostariam de ter um cargo de liderança no trabalho;

Acreditam ter capacidade para serem líderes nas suas organizações;

→ Sentem que as mulheres têm hoje mais oportunidades de progressão profissional do que há 20 anos, antes da era digital;

→ Tiveram exemplos positivos dentro da liderança actual; e

→ As suas empresas estavam a preparar um maior número de mulheres para cargos de liderança sénior, quando comparado com os anos anteriores.

⇒ OPORTUNIDADES
Mais mulheres empreendedoras

A fluência digital está também a criar oportunidades para mulheres empreendedoras e para mulheres que estão a pensar em voltar a juntar-se à força de trabalho.

Por exemplo, muitas mulheres querem ser empreendedoras e sabem que a fluência digital as ajudará a atingirem esses objectivos. Isto é particularmente real nos mercados emergentes, onde as mulheres têm duas vezes mais probabilidades do que as dos mercados desenvolvidos – 61% versus 29% – de dizerem que querem dar início a um negócio novo nos próximos cinco anos.

Descobrimos também que a fluência digital está a remover muitos dos obstáculos às mulheres que desejam trabalhar. Por exemplo, quase 60% das mulheres que não estão actualmente empregadas afirmaram que trabalhar a partir de casa ou com horários flexíveis as ajudaria a encontrar emprego.

Talvez ainda mais encorajador seja o facto de quase três quartos (71%) de mulheres e homens afirmarem que «o mundo digital dará poder às suas filhas».

Torna-se claro que as mudanças que estamos agora a ver nas vidas das mulheres como resultado da fluência digital estão aqui para ficar e tornar-se-ão mais pronunciadas nas futuras gerações.

Estudo publicado na edição  n.º 121, de Abril de 2016, da Executive Digest.

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