“Ecocídio”: mega central solar ameaça Parque Natural do Tejo Internacional, um dos maiores refúgios de biodiversidade de Portugal

Esta área é um dos maiores e mais importantes refúgios de biodiversidade de Portugal, reconhecida pela Rede Natura 2000 desde 1999 e classificada como Parque Natural em 2000 – abrange cerca de 26 mil hectares, integrando também a Reserva da Biosfera Transfronteiriça Tejo/Tajo

Executive Digest
Outubro 7, 2025
10:18

A SOS Animal Portugal alertou, esta terça-feira, para uma ameaça sem precedentes que paira sobre o Parque Natural do Tejo Internacional (PNTI) e a Zona de Proteção Especial (ZPE) Tejo Internacional, Erges e Pônsul. O projeto da “Central Fotovoltaica da Beira” (269 MWp) e Linha de Alta Tensão 220 kV, atualmente em consulta pública – termina esta quinta-feira -, prevê ocupar mais de 500 hectares no coração de uma das zonas ecológicas mais valiosas do país.

Esta área é um dos maiores e mais importantes refúgios de biodiversidade de Portugal, reconhecida pela Rede Natura 2000 desde 1999 e classificada como Parque Natural em 2000 – abrange cerca de 26 mil hectares, integrando também a Reserva da Biosfera Transfronteiriça Tejo/Tajo.

Alberga a maior colónia nacional de abutre-preto (Aegypius monachus) — uma espécie criticamente em perigo — representando cerca de 70% da população reprodutora nacional.

É ainda o último reduto em Portugal do cortiçol-de-barriga-branca (Pterocles alchata), espécie exclusiva de habitats estepários áridos, cuja população nacional não ultrapassa os 12 casais, todos concentrados nesta região.

Para além destas, estão em risco espécies emblemáticas como a águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti), a cegonha-preta, a águia-de-Bonelli, a águia-real e o sisão — todas dependentes de ecossistemas frágeis e já pressionados por perda de habitat, perturbação humana e linhas elétricas.

“Estamos perante um erro histórico anunciado: destruir um dos últimos grandes refúgios de biodiversidade em nome de um modelo energético desajustado, quando existem alternativas viáveis fora de áreas protegidas. Isto é ecocídio — legalmente evitável e politicamente reversível”, alerta Sandra Duarte Cardoso, presidente da SOS Animal Portugal.

A organização sublinha que o projeto viola normas nacionais e europeias, nomeadamente:

Diretiva Aves (2009/147/CE) – artigo 4.º

Diretiva Habitats (92/43/CEE) – artigo 6.º

Decreto-Lei n.º 142/2008 – regime jurídico da conservação da natureza

Plano de Ordenamento do Parque Natural do Tejo Internacional (POPNTI)

Princípio da precaução, previsto no direito comunitário

O projeto surge ainda antes de concluído o processo de alargamento da ZPE, lançado em 2023, comprometendo os objetivos de proteção reconhecidos pelo próprio Estado português.

A organização apela à intervenção urgente das autoridades competentes, dos grupos parlamentares e da opinião pública para travar esta ameaça antes que seja irreversível. “A transição energética não pode ser feita à custa da destruição da biodiversidade. A central solar tem alternativas — o Parque Natural do Tejo Internacional não”, concluiu Sandra Duarte Cardoso.

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