Por Pedro Empis | Executive business director outsourcing da Randstad Portugal
Já foi há praticamente 250 anos que Adam Smith escreveu no seu popular e definidor livro A Riqueza das Nações (1776) que um dos pilares para a geração sustentada de riqueza é a vontade de cada indivíduo querer melhorar a sua situação: seja mais segurança, uma casa melhor, melhor alimentação, mais tempo para descansar, entre outros. Em suma, todos queremos uma vida melhor para nós próprios e ao trabalharmos para o alcançar, não só progredimos individualmente, como a sociedade e a economia beneficiam também desse desenvolvimento.
No Estudo Randstad Employer Brand Research 2025 fica bem claro o desalinhamento entre o que os trabalhadores priorizam face ao que indicam percecionar das empresas, já que o EVP (Employee Value Proposition) salário e benefícios consta em primeiro lugar nos desejos dos trabalhadores, mas não entra no top 10 de como estes avaliam realmente as empresas. O mesmo acontece com o EVP progressão na carreira, que é um desejo de trabalhadoe candidatos posicionado em quarto lugar na sua lista de prioridades, mas avaliado como o décimo EVP considerado pelas empresas.
Não é uma novidade este desajuste entre expetativas e realidade, neste caso percecionada, por se tratar de um estudo de employer brand, todavia, num mercado de trabalho orientado ao candidato, como tem sido o caso desde antes da pandemia, são dados relevantes para os decisores na gestão e atração de talento.
O pós-pandemia veio trazer uma dificuldade adicional aos empregadores portugueses focados no mercado doméstico, já que a luta pelo talentores se tornou realmente global, permitindo aos profissionais qualificados oferecer o seu contributo virtualmente. Esta nova fórmula trouxe o natural desafio relacionado com o fosso salarial entre uma oportunidade local e o que uma multinacional numa função global pode oferecer, mas esse não é o único fator a ter em conta, já que a estes postos de trabalho vêm também as- sociados projetos de escala e complexidade superior aos que os profissionais encontram em funções puramente nacionais, o que lhes permite aprender mais em menos tempo. Assim, de uma assentada, duas das prioridades dos trabalhadores ficam mais difíceis de alcançar a nível doméstico, num ambiente em que 35% dos profissionais que mudaram de emprego indicam tê-lo feito em busca de maior progressão na carreira (REBR 2025).
As empresas certamente trabalham diariamente para encurtar o fosso nestas prioridades, o que nem sempre é possível, pelo que a combinação destes esforços com a aposta noutros EVP também considerados prioritários, como o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e um bom ambiente de trabalho, segundo e terceiro fatores eleitos pelos profissionais no mesmo estudo, é um caminho que pode trazer frutos.
Estes estão decisivamente ligados à qualidade e preparação das lideranças, pelo que o reforço de competências nesta matéria é uma opção que pode ajudar a inverter as estatísticas a favor das empresas que façam esta aposta, para assim continuarem a progredir e a provar que Adam Smith estava certo na sua reflexão, publicada antes da independência dos EUA ou da revolução francesa.
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.
Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 232 de Julho de 2025














