Eleições na Ordem dos Médicos arrancam hoje com atual bastonário como único candidato

Processo eleitoral decorre até 3 de junho e foi antecipado devido ao novo Estatuto da Ordem. Bastonário apresenta programa com 20 propostas, destacando revisão do Estatuto e maior intervenção dos médicos na política e na sociedade.

Executive Digest com Lusa
Maio 29, 2025
7:00

As eleições para os órgãos nacionais da Ordem dos Médicos (OM) arrancam esta quinta-feira, 19 de maio, e prolongam-se até 3 de junho, num processo marcado pela recandidatura do atual bastonário, Carlos Cortes, que surge como o único candidato ao mandato 2025-2029. A votação, inicialmente prevista para janeiro de 2026, foi antecipada na sequência da entrada em vigor do novo Estatuto da Ordem, que determina a realização de eleições no prazo máximo de um ano após a sua publicação.

Carlos Cortes, patologista clínico, foi eleito bastonário pela primeira vez em março de 2023, numa segunda volta disputada com Rui Nunes, que venceu com 61,94% dos votos. Dois anos depois, apresenta-se a sufrágio com um programa centrado em 20 propostas-chave, que pretendem “reafirmar princípios” e projetar uma Ordem mais interventiva, moderna e próxima dos seus membros.

Uma das prioridades assumidas pelo candidato é a revisão do Estatuto da OM, cuja última alteração legislativa considera ter sido lesiva para a estrutura e autonomia da instituição. “A última alteração comprometeu competências estruturais da Ordem dos Médicos”, afirma Carlos Cortes no seu programa eleitoral, garantindo que pretende continuar a agir junto do Governo, dos partidos políticos e da Presidência da República para reverter os aspetos que considera prejudiciais.

Neste contexto, o bastonário propõe-se a defender com firmeza a formação médica e a autorregulação da profissão, apresentando estes dois pilares como “não negociáveis” para o futuro da classe e da própria OM.

Outra aposta central da recandidatura de Carlos Cortes é o reforço da intervenção política e social dos médicos, cuja voz considera “subaproveitada no desenho de políticas públicas”. O bastonário defende o envolvimento ativo dos profissionais em temas estruturantes como a natalidade, o envelhecimento da população, a ética pública e o futuro da organização dos serviços de saúde.

Entre as propostas mais concretas, destaca-se a criação do “Simplex Médico” — uma iniciativa que pretende simplificar processos administrativos no setor, com foco na qualidade e na redução da burocracia que afeta o trabalho clínico.

Carlos Cortes compromete-se ainda com a realização de censos nacionais de médicos, sublinhando que, apesar da perceção pública de falta de profissionais, não existem dados estruturados que permitam uma análise rigorosa da distribuição geográfica e por especialidade, bem como do impacto da emigração e das escolhas (ou ausência delas) de determinadas áreas médicas.

Os “dados robustos” resultantes desses censos deverão servir, segundo o bastonário, para adequar os internatos médicos às reais necessidades do sistema e para implementar um planeamento estratégico de longo prazo para a profissão.

O programa eleitoral do único candidato contempla ainda a criação, já este ano, da “Academia OM”, destinada à formação certificada interna para apoiar todos os médicos ao longo da sua carreira. Prevê também a criação de um seguro de saúde corporativo com benefícios alargados aos médicos e respetivas famílias.

Na área da modernização, Carlos Cortes propõe o fortalecimento do Observatório do Ato Médico e o investimento em projetos de eficiência e transformação digital da OM. No plano da equidade territorial, compromete-se com o desenvolvimento de uma estratégia nacional para a coesão da carreira médica, envolvendo negociações com o Governo e autarquias para garantir incentivos à fixação de médicos em zonas mais carenciadas.

O bastonário pretende também promover um ciclo de debates regionais com médicos, escolas médicas, associações de doentes e representantes da sociedade civil. O objetivo é produzir um documento estratégico que aponte caminhos concretos para a política de saúde em Portugal.

No texto que acompanha a sua candidatura, Carlos Cortes considera que o país se prepara para entrar num novo ciclo político e que isso exige reafirmar os valores da profissão médica: “valorização efetiva dos médicos, condições dignas de trabalho e defesa inequívoca da qualidade dos cuidados de saúde”.

“Estes são os pilares que sustentam esta candidatura, não como um fim em si, mas como um instrumento ao serviço de todos”, sublinha o bastonário, que diz querer liderar uma Ordem “atuante, próxima, transparente e mobilizadora”.

Num apelo ao corpo médico, reconhece ainda que muitos colegas se sentem hoje “exaustos, desvalorizados ou desligados da sua missão”, sendo por isso “urgente recuperar a motivação, o orgulho e o sentido de pertença que sempre caracterizaram” a profissão.

As eleições decorrem por voto eletrónico, à semelhança de anteriores atos eleitorais da Ordem, e os resultados deverão ser conhecidos logo após o fecho do processo, a 3 de junho.

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